segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um silêncio que ecoa, que estronda. Em torno de R$ 301 mil.


Paulo Bemerguy, do Espaço Aberto

Advogados - muitíssimos, inclusive os que não são conselheiros estaduais da OAB - ainda não engoliram até agora a placidez, a quase passividade com que o advogado Robério D'Oliveira se portou na última sessão do pleno do Conselho Seccional, na semana passada, em decorrência de intervenção contundente da advogada Angela Salles. Ex-presidente da Ordem, conselheira estadual nata e conselheira federal, Angela surpreendeu todo mundo ao externar sem meias-palavras um diz-que-diz-que que domina os arraiais jurídicos desde julho passado, quando estourou o angu do terreno que a OAB vendeu por R$ 301 mil para o advogado Robério D'Oliveira.

O diz-que-diz-que, propalado ao pé do ouvido, em conversas reservadas, em declarações veladas ou em insinuações maliciosas, dava destaque a uma dúvida: afinal de contas, os R$ 301 mil depositados pelo advogado Robério D'Oliveira na conta da OAB eram dele mesmo?
 
No plenário onde se reunia o Conselho Seccional, Angela Salles tocou nesse assunto sem meias-palavras, claramente, objetivamente, contundentemente e justificadamente.
 
Ela disse que, para preservar a imagem da OAB, dos advogados paraenses e para que não pairassem dúvidas de qualquer ordem sobre a honorabilidade de quem quer que seja, era necessário que se esclarecessem, de uma vez por todas, os comentários feitos aos sussurros e que diziam respeito à origem dos R$ 301 mil utilizados para pagar o terreno.
 
Por isso, justificou Angela, era indispensável que o advogado Robério abrisse espontaneamente seu sigilo bancário, de forma a não deixar remanescerem quaisquer suspeitas sobre a origem do dinheiro que usou para adquirir o terreno, em negócio que seria desfeito naquela mesma sessão de terça-feira passada.
 
E o que aconteceu, depois da intervenção direta, contundente, sem meias-palavras de Angela Salles?
 
Todos os conselheiros - ou quase todos - esperavam três reações de Robério.
A primeira: de indignação pela suspeita em torno de assunto, uma suspeita, ressalte-se, que foi apenas externada pela advogada Angela Salles, mas que sempre correu à boca pequena entre os advogados, desde a consumação do negócio, em junho passado.
 
A segunda: esperava-se que Robério, naquela mesma hora, passasse mão em seu notebook, acessasse sua conta bancária e mostrasse o extratos dos últimos meses, ao vivo e em cores, a todos os seus pares no conselho, para que constatassem a limpidez da movimentação bancária referente aos R$ 301 mil.
 
E a terceira: uma vez comprovado que os R$ 301 mil provieram de fontes que não davam margem a quaisquer suspeita, Robério - era o que todos esperavam - anunciaria que estava pronto para interpelar judicialmente todos os que insistissem em lançar suspeitas sobre ele, inclusive, se fosse o caso, a própria Angela Salles.
 
Mas o que aconteceu, depois da intervenção da ex-presidente da OAB?
 
Nada.
 
Absolutamente nada.
 
Nem uma reaçãozinha indignada do advogado.
 
E nem tampouco uma atitude célere sua, para demonstrar que, afinal de contas, eram absolutamente infundadas, despropositadas e maliciosas as suspeitas de que os R$ 301 mil teriam provindo de fontes ilegítimas.
Os advogados que, ainda agora, se confessam surpresos com a conduta de Robério, concedem-lhe o benefício da dúvida e apostam que ele agiu, em todo esse episódio, de forma a não suscitar suspeitas.
 
Mas já que as suspeitas foram levantadas, também esperavam do advogado que reagisse igual à mulher de César, aquela que, além de ser honesta, precisava parecer honesta.

Como Robério não reagiu como seria natural que reagisse, os advogados até agora surpresos com a placidez do colega acham que, infelizmente, essa dúvida vai continuar ecoando.

Um eco estrondoso, provindo justamente de um silêncio que grita, que berra.
De um silêncio que estronda.

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