domingo, 17 de janeiro de 2010

O balé das águas em Lima, capital do Peru

Balé das Àguas, encenado mecanicamente no Parque das Fontes, em Lima, capital do Peru.
Luz, música e jatos d'água que ganham formas e movimentos sincrônicos.

Assista ao vídeo aqui.

Ajax, o injustiçado

Lúcio Flávio Pinto

Ajax d’Oliveira, que morreu na semana passada, aos 83 anos, dentre outras qualidades, possuía uma de importância para a vida pública: participou do poder local, durante os 20 anos do regime militar, sem tirar proveito pessoal das funções que ocupou. Aderiu ao regime de exceção por convicção, por seu anticomunismo e conservadorismo. Ocupou a prefeitura de Belém, por indicação do governador Aloysio Chaves (1975/1979), numa época em que ainda havia algum conteúdo ideológico ou programático no exercício dos cargos públicos.

Houve mérito nas melhorias que promoveu na cidade, com ênfase no bairro do Jurunas. Mas a iniciativa sua que ficará foi ter endossado documento elaborado um grupo de jovens urbanistas, que revelou a extensão e a nocividade do domínio da União sobre quase um quarto do perímetro urbano de Belém, prejudicando o crescimento da capital. Em visita à terra, o presidente-general Ernesto Geisel recebeu das mãos do prefeito o documento, não gostou do tom crítico, mas teve que engoli-lo porque refletia a verdade. A partir daí, os órgãos federais tiveram que começar a abrir mão dos seus latifúndios urbanos. Foi um marco.

Apesar da gagueira, talvez responsável por sua timidez e ensimesmamento, Ajax dizia o que pensava, sem se preocupar com as conveniências. Por isso incomodou muita gente dentro do seu próprio partido. Tinha a eleição para deputado federal garantida quando deixou a prefeitura para participar da campanha, mas foi traído dentro da Arena, a partir da cúpula. Pensava demais pela própria cabeça para seguir passivamente qualquer dos dois grupos em que o partido se cindira, embora fosse adepto de Jarbas Passarinho (o que lhe custou caro, até por falta de malícia para se acomodar à guerra interna).

A derrota o amargurou, mas nunca perdeu a paixão pela atividade pública. Ainda foi superintendente do Incra e da previdência social antes de se aposentar. Quando andava pelas ruas ou era encontrado em alguma solenidade, não deixava de parar quando alguém o chamava para tratar de política. E falava com entusiasmo sobre aquele mundo do qual fora marginalizado muito cedo – e injustamente. Seu espírito de homem público merecia ser mais utilizado numa terra enormemente carente dessas vocações.