sexta-feira, 12 de março de 2010

Um ângulo do rio Tapajós

Foto do Dia - Um ângulo do Rio Tapajós on Twitpic



Foto: Paratur/Divulgação

Eleitores de Mojuí dos Campos fecham Br-163

Cerda de 500 eleitores de Mojuí dos Campos interdiram desde as 16 horas de hoje a rodovia Br-163, no pé-da-serra do Piquiatuba,bairro do Cambuquira,na periferia de Santarém.

O protesto é contra a decisão tomada ontem pelo Tribunal Regional Eleitoral(TRE) que cancelou as primeiras eleições de Mojuí dos Campos, marcadas pelo próprio TRE para o dia 28 de março.

A Polícia Rodoviária Federal deu prazo para que os manifestantes liberem a rodovia ao tráfego de veículos a partir de 18 horas.

Dezenas de veículos estão impedidos de prosseguir viagem. Nem os ônibus urbanos estão sendo liberados em direção ao planalto santareno.

Moradores de Mojuí dos Campos organizam protesto em Santarém

É esperada para o início da tarde de hoje uma caravana de moradores de Mojuí dos Campos.

O grupo fará protestos contra a decisão do TRE que cancelou a eleição para prefeito, vice-prefeito e vereadores marcada para o dia 28 de março.

Tiro pela culatra

Lúcio Flávio Pinto

Editor do Jornal Pessoal

Manobras desastrosas ameaçam a reeleição da governadora Ana Júlia Carepa. Candidata quase certa a passar para o 2º turno, em outubro, ela pode enfrentar uma coligação mais forte na nova eleição e perder para uma aliança surpreendente, liderada por Jader Barbalho.

O Partido dos Trabalhadores abriga em sua sigla tantos grupos – distintos e divergentes – que nem precisa de inimigos para enfrentar: basta que os amigos divirjam para que a força da legenda fique ameaçada. Esse é um fácil diagnóstico de aplicação genérica. Mas no Pará essa cizânia (como gostam de dizer os militares, intolerantes às cisões internas, por força da exigência hierárquica da instituição) se acentua pela falta de comando e liderança fortes. A governadora Ana Júlia podia ocupar essa posição, graças aos poderes que concentra. Mas se acumulam as demonstrações de que lhe faltam as qualidades de líder.

Ela própria complicou gravemente seu caminho para a reeleição. Parecia que seu maior desafio seria estabelecer uma aliança mais sólida com seus principais parceiros, em especial o PMDB, e compor a base aliada com novos e surpreendentes aliados, como o PTB (maior adversário na última eleição municipal), de tal maneira a harmonizar o esquema nacional pluripartidário formado pelo PT para transformar o “poste eleitoral” chamado Dilma Rousseff na candidata favorita à sucessão do presidente Lula.

Foram tantos os erros cometidos que por pouco a governadora não se viu diante da iminência de um fato que deveria ser normal e até desejável nas democracias, mas se tornou quase um pecado mortal para os partidos políticos brasileiros, incluindo o antes alternativo PT: a disputa entre candidatos na convenção. Os grupos uterinos do PT ameaçaram levar a prefeita de Santarém, Maria do Carmo Martins, a bater chapa com Ana Júlia. Com a máquina oficial nas mãos, a governadora é a melhor candidata que o partido tem para a eleição de outubro. Mas minoritária internamente, ela poderia perder na convenção.

O gesto que colocou as pretensões de reeleição de Ana Júlia foi primário e desastroso. Seu grupo, a Democracia Socialista, não conseguiu criar nenhuma liderança política de expressão no Estado, talvez porque seus integrantes atuem com mais desenvoltura nos gabinetes – e falando – do que no imenso território paraense, pelo qual se pulverizam os votos. O principal candidato da DS acabou sendo o agora ex-chefe da Casa Civil. Mas Cláudio Puty é um neófito em política, exceto a estudantil (e não mais naquele tipo de política estudantil que formava quadros para a política partidária).

Sem o apoio da máquina e o apadrinhamento total da governadora, Puty não se elegeria vereador em Belém. Daí sua presença constante e ostensiva no controle da máquina governamental e nos deslocamentos da governadora ao interior. Mas essa providência não bastou: era preciso criar a cadeia que leva ao voto, integrada por intermediários que vão do candidato a um cargo inferior (e por isso trabalha casado com o candidato principal) até o cabo eleitoral, fantasiado agora de líder comunitário.

Essa expansão colidiu com esquemas que foram montados antes e já estavam em funcionamento para apoiar outros candidatos. Os atritos foram se agravando e começaram a provocar conflitos. Uma recém-criada base de apoio a Puty no Incra de Marabá teve que ser desfeita por causa da reação do grupo do deputado federal José Geraldo, que controla o órgão. Essa vitória estimulou as outras tendências a avançar sobre a DS e lhe impor outros recuos, que culminaram no afastamento antecipado de Puty da chefia da Casa Civil.

A DS é a menor das divisões internas petistas e só aparenta ser maior porque venceu a eleição para o governo em 2006. Como explicar essa vitória se o grupo nem é predominante no PT e sua principal líder, consciente da sua expressão, vinha recusando aceitar a candidatura, até que o presidente Lula e o deputado federal Jader Barbalho praticamente a obrigaram a enfrentar o tucano Almir Gabriel, com a garantia do esquema que os dois líderes acertaram em Brasília? Os fatos e os números provam: sem o PMDB, o ex-governador do PSDB teria conseguido seu terceiro e glorioso mandato. Sem o qual perdeu o rumo e o sentido biográfico.

Fazer aliança com o PMDB em 2006 implicava o preço que o partido de Jader Barbalho estabeleceu, com o aval do presidente Lula. O PT do Pará pagou a primeira promissória, cedendo cargos no primeiro escalão do governo aos peemedebistas. Mas tratou de colocar leões-de-chácara à porta dos gabinetes e desviar funções para seus representantes, esvaziando os cargos cedidos. O PMDB engoliu vários sapos porque, mesmo com as sobras de cada uma dessas estruturas de poder, teve espaço para suas operações típicas.

Mas quando o espaço encurtou demais, o partido resolveu jogar alto. Primeiro foi puro blefe: com as ameaças e os primeiros atos de insubmissão esperava restabelecer a composição original. Os “luas pretas” de Ana Júlia apostaram em que os peemedebistas eram aliados compulsórios, não lhes restando alternativa senão acomodar-se com o que lhes era destinado. Foi então que Jader Barbalho decidiu a ignorar o PT estadual e passou a tratar apenas com o PT federal. Foi ele um dos peemedebistas mais ativos em favor da renovação da aliança nacional e da candidatura de Dilma Rousseff, combatendo os que queriam uma candidatura própria do partido. Talvez os luminares do PT paraense não tenham percebido que Jader construíra seu próprio palanque, mesmo sem se apresentar como candidato ao maior dos cargos em disputa. Qual candidato colocar sobre o tablado passou a ser a questão pendente, ainda não decidida (mas com opções postas à mesa, inclusive a de Barbalho). A dissidência, porém, era uma realidade a caminho do rompimento.

Se a governadora comandasse de fato seus correligionários, a situação seria outra. Mas Ana Júlia demonstrou ser pouco mais do que uma líder estudantil e sindical, como seus gurus de gabinete. Obrigada a aceitar que os secretários com pretensões eleitorais saíssem dos seus cargos no dia 1º, um mês antes do prazo legal de tolerância, ela já deixou à mostra uma fraqueza. Ao tentar “dar a volta por cima”, retirando poderes inerentes à Casa Civil antes de entregá-la à tendência concorrente, praticou outro desastre.

A manobra era tão evidente que mais uma vez teve que recuar. Só que agora de forma inusitada: o futuro substituto de Cláudio Puty ameaçou não assumir o cargo através de mensagem mandada através de telefone celular. Talvez tenha sido a primeira baixa comunicada por um torpedo virtual. Everaldo Martins soube do golpe através da esposa, que é secretária estadual de pesca, e nem se preocupou em falar pessoalmente com a governadora.

Todos esses desgastes teriam sido poupados se a DS tivesse consciência da própria expressão (ou falta de expressão) e aceitasse partilhar o poder de forma mais justa e coerente do que a desproporcional concentração de poder que promoveu em benefício próprio. Na segunda-feira, dia 1º, os três novos secretários assumiram no lugar dos que saíram para se tornarem candidatos na eleição de outubro (um quarto, Valdir Ganzer, dos Transportes, teve que permanecer no cargo, do qual já tinha sido exonerado, por causa de mais uma trapalhada petista: se assumisse como assessor especial, sinecura reservada aos demais, que não possuem cargo político, teria seu mandato de deputado estadual cassado). No ato, havia maquilagem suficiente para criar uma máscara de unidade partidária, que inexiste. E uma força que se tornou miragem.

Muita gente participou da solenidade e pequenos partidos aliados mandaram seus representantes. Mas não apareceu ninguém das principais forças políticas que poderiam aderir à candidatura da governadora: PMDB, PDT e o bloco PTB/PR (que controla a prefeitura de Belém). A ausência pode ser apenas um recado e não uma atitude de separação definitiva – ou pelo menos ainda não. Mas se representar a constituição de uma nova aliança eleitoral, as possibilidades de reeleição de Ana Júlia Carepa começarão a se reduzir. Com o que já possui, ela tem todas as condições de passar para o 2º turno e, talvez, com mais votos do que o segundo concorrente. Mas cairia para uma condição de inferioridade nessa segunda eleição, se os votos do PSDB migrarem para a coligação liderada pelo PMDB – ou vice-versa.

Se ainda precisava de estímulo para o rompimento, Jader Barbalho o recebeu de bandeja, entregue pelo deputado petista Zé Geraldo. Num discurso contundente no plenário da Câmara Federal, em Brasília, ele acusou o ex-governador de manter o Pará como refém da sua vontade e dos seus caprichos. Em 2006 o PT nem se preocupou com isso porque era a única maneira de chegar ao poder. Mesmo hoje, sua preocupação é retórica porque continua tentando refazer o acordo com Jader, mesmo considerando-o um seqüestrador (por estar impedindo, em época pré-eleitoral, a aprovação de dois novos empréstimos solicitados pelo Estado, no valor de mais de 550 milhões de reais, a serem agregados a R$ 2 bilhões já aprovados na Assembléia Legislativa desde o início do governo Ana Júlia) e o deputado Carlos Bordalo alegar que Jader não comanda o PMDB. Como para todos os outros partidos, para o PT as palavras existem para esconder a verdade, não para revelá-la.

O presidente do partido garantiu que o remanejamento da função de contratar DAS e comissionados, que estava no âmbito da Casa Civil, para a Secretaria de Governo, visava o desenvolvimento do Estado e não esvaziar o cargo que seria cedido a outra tendência petista. Quando a governadora foi forçada a voltar atrás e devolver esses poderes ao chefe da Casa Civil, o alegado bem público foi esquecido. Em compensação, foi dito que a medida não era oportunista: vinha sendo estudada há muito tempo. Ainda assim, foi constituído às pressas um “grupo de trabalho” para examiná-la, como se fora nova. Palavras, nada mais do que palavras.

A substituição de Cláudio Puty por Everaldo Martins significaria uma evolução no sentido do pluralismo e do descomprometimento da Casa Civil em relação às eleições? Não: Everaldo deverá fazer o que for possível pela candidatura do irmão, deputado estadual Carlos Martins, e pelos interesses da irmã, a prefeita Maria do Carmo, além dos dele próprio, que, na secretaria de planejamento de Santarém, foi extremamente concentrador de poder. A solução, portanto, é de meia sola.

Pelo que tem feito politicamente, Ana Júlia estará dando razão ao adversário Almir Gabriel. Segundo ele, governador que tem a máquina oficial nas mãos só perde por incompetência, como teria feito seu correligionário Simão Jatene e está sendo Ana Júlia desde o primeiro dia do seu mandato.

Dupla de trapalhões prejudicou Pantera

Vale a pena ler de novo a nota deste Blog sobre os efeitos nocivos provocados ao time de São raimundo pela dupla de trapalhões André Cavalcante e Sandiclei Monte, publicada dia primeiro de março.

Se não fosse o gol contra dessa dupla, que não ficou diligente junto à CBF para regularizar três jogadores, preferindo as mordomias do clube, o que provocou a anulação da vitória de 1x0, em Santarém, o Pantera estaria classificado para a próxima fase da Copa do Brasil, mesmo com a derrota de ontem para o Botafogo por 4x3.

Releiam o texto, mais atual do que nunca:

Nas 'Expressas' da Coluna do Estado, edição impressa de O Estado do Tapajós:

A dupla de trapalhões André Cavalcante e Sandiclei Monte, que se auto-intitulam dirigentes do São Raimundo, é a única responsável pela perda de 3 pontos decretada pelo STJD ao Pantera pelo uso jogadores não inscritos para a Copa do Brasil. *** Essa dupla pernóstica, ao invés de fazer o serviço em benefício do clube, deixando de lado a vaidade, usa o clube apenas para promoção pessoal. *** Se essa diretoria do Pantera tivesse vergonha na cara mandava Sandiclei e André pra bem longe do clube para evitar maiores estragos junto ao elenco do Pantera. *** Ainda no assunto: a tentativa de atribuir a falta de registro a uma falha da FPF não isenta de culpa essa dupla desastrada que, ao invés de consultar o BID, antes do jogo contra o Botafogo, estava usufruindo das mordomias que a liberalidade da diretoria permite que os mesmo desfrutem.

Conexão Reporter do SBT revela casos de pedofilia de padres






Atrás da Sacristia, o segredo. Uma imagem perturbadora. Sexo, intrigas e poder na Igreja Católica. O altar e o crucifixo como testemunhas. Mentes traumatizadas. Lembranças que persistem. Pesadelos intermináveis. O ensino sagrado, evangelho e a formação do caráter de jovens. Pretexto para se aproximar de meninos que achavam que ser coroinha era o caminho mais curto até Deus? O verdadeiro caminho do calvário. A inocência negada. Proibida. Violentada.


Nossa investigação começa quando temos acesso a um vídeo, entregue por um morador de uma cidade de Alagoas. Cenas que revelam uma face obscura da fé. No fundo, o altar de uma casa construída com o dinheiro dos fiéis. Na cama, um padre. O sacerdote em ato sexual com um jovem. Ao final, o padre se assusta ao perceber que tudo estava sendo registrado.

Arapiraca, duzentos mil habitantes, a segunda maior cidade do estado de Alagoas. Como em tantos lugares do interior do país, a igreja exerce colossal influência na vida da comunidade. O padre trata-se de um dos religiosos mais conhecidos na região. De seus oitenta e dois anos, cinquenta e oito são de sacerdócio e vinte a frente da Paróquia de São José. Mesmo aposentado continua celebrando missas e casamentos pelo enorme prestígio. Camisetas foram vendidas para arrecadar dinheiro para a construção de uma casa para ele. Os fiéis de Arapiraca o enxergam como um verdadeiro santo.


A suposta vítima um ex-coroinha que aparece no vídeo mantendo relações sexuais com um Monsenhor de Arapiraca. Hoje ele diz que tem consciência do mal que o assombrou durante oito anos. Mas a fé, até então inabalável, foi sendo pouco a pouco substituída por outro sentimento. Revolta. Localizamos também quem filmou as imagens. Trata-se de outro ex-coroinha que também disse que foi vítima do padre, com doze anos. Hoje, com vinte e um anos, ele diz que resolveu dar um basta. O ex-coroinha aproveitou que o portão da casa estava entreaberto e com uma câmera na mão registrou a tarde de orgia e luxúria do padre. As imagens sugerem uma relação consentida, mas o ex-coroinha conta que os abusos começaram quando ele era apenas um menino.


O Monsenhor aceita conversar com Cabrini diante de nossa câmera. O crucifixo, no peito, é seu Senhor e Mestre. Ele nega o excesso de casos de pedofilia na cidade, que dizem. Afirma que o padre comete um pecado mortal, mas que pode se arrepender. Declara também não conhecer nenhuma caso de abuso de crianças ou coroinhas. No momento mais tenso da entrevista Cabrini pergunta se ele já abusou de algum coroinha. O padre não afirma e não nega. Apenas diz que o único que pode saber de seus pecados é seu confessor. Após ser questionado pede que Roberto Cabrini saia de sua casa.



Mais um sacerdote aparece no escândalo, citado pelo ex-coroinha. É uma padre responsável pela Igreja mais importante de Arapiraca. Vamos ao encontro dele em sua casa. Desconfiado, ele quer se certificar que a conversa não está sendo gravada, batendo no peito de nosso produtor à procura de microfones. Seu comportamento é estranho para uma pessoa supostamente inocente. Ele nega todas as acusações e ainda tenta passar a imagem de um padre dedicado.

Abusos ou relações homossexuais? Padres em pecado ou garotos atrás de dinheiro? Padres e coroinhas...um relacionamento atrás da sacristia

Manchetes desta sexta-feira de O Estado do Tapajós


Virus da gripe suína se alastra em Santarém

TRE cancela eleição em Mojuí dos Campos. PSDB recorre

Turistas são explorados por barraqueiros de Alter do Chão

Diretora do Hospital Municipal de Santarém consultava em Alenquer no dia do desabamento que matou 2 pessoas

Prefeitura não consegue ordenar a orla da cidade

Usuário do Banco do Brasil sofre em fila para pegar senha

Militares e evangélicos na invasão do Juá

FPM tem queda de 40% no mês de março

Lula e a greve de fome

Lúcia Hipólito:


Apoiado em índices estratosféricos de popularidade, aclamado no Brasil e no exterior, considerado o "homem do ano", "um dos mais importantes da década", elogiado por jornais e revistas estrangeiras, o presidente Lula decidiu que não tem contas a prestar a ninguém.

Lula nunca teve problemas de relacionamento com ditadores. Da África, do Oriente Médio, da Ásia, da América.

Elogia o presidente do Irã, abraça-se com Kaddafi. Com Fidel, então, Lula chega a revirar os olhinhos de tanta alegria.

Uma ditadura, o governo mais embolorado da América, uma relíquia do século passado, com os irmãos Castro perdidos em devaneios antiimperialistas.

Tudo tão antigo. Como é também antigo o desrespeito do governo de Cuba aos direitos humanos, como são antigas as prisões cubanas, como é antigo o hábito de amordaçar qualquer tentativa de liberdade de expressão, seja uma blogueira ou um ativista de direitos humanos.

O presidente Lula foi mais uma vez a Cuba e chegou justamente no dia em que morria, depois de 82 dias de greve de fome, o operário Orlando Zapata. Era um preso político, um preso de consciência.

Fotografado às gargalhadas ao lado dos irmãos Castro, Raúl e Fidel, pálidas caricaturas da Guerra Fria, Lula, ao ser perguntado sobre a morte de Zapata... botou a culpa no morto. Quem mandou fazer greve de fome?! Onde já se viu?!

Muito criticado, no Brasil e no exterior, o presidente saiu pela tangente, afirmando que pessoalmente é contra greve de fome como recurso de prisioneiros e que não tem por hábito imiscuir-se na política interna de outros países.

Vamos esquecer, por um momento, dos elogios à eleição do presidente do Irã ou mesmo a recusa a reconhecer as eleições presidenciais em Honduras.

Vamos nos concentrar nos presos políticos e suas greves de fome.

Ontem, o presidente Lula realmente extrapolou. Entrevistado pela agência de notícias Associated Press, declarou o presidente: "Greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem libertação."

Ao comparar presos políticos com bandidos, o presidente desrespeita, não apenas sua própria biografia, mas faz pior: agride frontalmente a ministra Dilma Rousseff, sua candidata à presidência da República.

Não é segredo para ninguém que Dilma foi presa política durante alguns anos. Torturada. Não sei se fez greve de fome, mas isto é irrelevante. Ao compará-la a um bandido, o presidente Lula comete uma grosseria que nem os gorilas da direita mais hidrófoba ousaram, durante a ditadura.

Uma das greves de fome mais emblemáticas durante a ditadura brasileira durou 32 dias. Preso no Presídio Frei Caneca, no Rio de Janeiro, Nelson Rodrigues Filho participou, junto com Perly Cipriano e Jorge Raimundo Júnior, de uma greve de fome que só terminou com a aprovação da Lei da Anistia pelo Congresso Nacional, em 22 de agosto de 1979.

O presidente Lula tem todo o direito de se relacionar com ditadores alegando razões de Estado.

O presidente Lula tem todo o direito de desrespeitar a própria biografia.

Mas não tem o direito de desrespeitar a trajetória e a luta política de milhares de brasileiros, alguns até muito próximos dele.

O presidente Lula pode muito, muito mesmo. Mas não pode tudo.

Ainda bem.