domingo, 17 de outubro de 2010

Papão atravessa o samba e decepciona torcida


Gerson Nogueira:

A manhã era perfeita. Nenhuma nuvem no céu, sol generoso. Torcida em massa na Curuzu, formando o chamado caldeirão. Gritos, urros, canções. Tudo para incentivar o time do Paissandu e amofinar os salgueirenses de Pernambuco. O começo foi animador. Logo aos 8 minutos, Bruno Rangel fica cara a cara com o goleiro Marcelo, mas chuta fraquinho. Parecia apenas questão de tempo para que o coração explodisse na maior felicidade, como diz o célebre samba-enredo daquele outro Salgueiro. Ninguém sabia que o próprio hino alviceleste dali a pouco sofreria uma terrível inversão – “quando perde é por descuido, mas depois vem a virada”. A virada viria, mas favorecendo o visitante. Aos 11 minutos, Bruno Rangel não perdoou desatenção da zaga e entrou de carrinho para marcar o primeiro gol. Explosão de alegria na Curuzu com a classificação cada vez mais próxima.  
Todo de branco, o Salgueiro comportava-se com prudência. Esperava o Paissandu em seu campo, talvez impressionado com a força da torcida (mais de 15 mil pagantes) e o clima de otimismo dos donos da casa. Depois de sofrer o gol, teve que se lançar um pouco mais, buscando descontar. Aos 16 minutos, quase nasceu o empate. Júnior Ferrim recebeu de Edu Chiquita e, de frente para Alexandre Fávaro, mandou por cima da trave. Mas, aos 19, depois de ataques seguidos, o Carcará igualou o marcador. Em contragolpe mortal, Fagner venceu a marcação e chutou forte. A bola foi no travessão e caiu dentro do gol. Melhor em campo, principalmente pelo toque de bola ditado pelo meia Cléberson, que lançava os companheiros e se posicionava sempre entre os zagueiros Paulão e Da Silva.
Bem guarnecido na defesa, o Salgueiro esperava o Paissandu avançar, recuperava a bola e partia em velocidade. Tudo conforme o manual do bom visitante: defender bem e contra-atacar sempre. Atarandados com o súbito empate, que levava a decisão para os pênaltis, os bicolores erravam passes, exageravam nos toques laterais e se ressentiam de jogadas de profundidade. Sandro, muito lento, fazia uma de suas piores partidas pelo Paissandu e Tiago Potiguar, muito vigiado, pouco produzia. Ainda no primeiro tempo, o Salgueiro teve chances de ampliar. Aos 35, Júnior Ferrim ganhou a disputa pelo alto com os beques e cabeceou no canto de Fávaro, que fez grande intervenção. No minuto final, Cléberson disparou arremate bem colocado, mas Fávaro novamente salvou o Papão. 
 
Depois do intervalo, o Paissandu voltou com ânimo redobrado, estimulado pelos gritos de incentivo da torcida. O problema é que o time continuava repetitivo, lento e previsível, cruzando bolas para a área, o que facilitava o trabalho da defensiva do Salgueiro. Tiago Potiguar, mais avançado depois que Marquinhos substituiu Fernandão, chegou a levar perigo com jogadas pelas pontas. Sofreu duas faltas seguidas e pendurou seus marcadores com cartões amarelos, mas o gol salvador não saía. Sempre no contra-ataque, o Salgueiro ameaçava de vez em quando. Aos 11 minutos, Cléberson entrou na área e tocou à meia altura. A bola resvalou em Paulão e bateu na rede pelo lado de fora, assustando a torcida. Era o prenúncio da tragédia: na sequência, Cléberson cruzou da linha de fundo e Júnior Ferrim chegou testando, de peixinho. Bola no barbante: Salgueiro 2 a 1. 
Se a situação já era difícil, ficou desesperadora para o Paissandu, que partiu com tudo rumo ao ataque, mas sem qualquer organização. Bosco recebia e cruzava para a área. Aldivan fazia o mesmo. Nenhum resultado prático, a não ser aumentar a segurança dos zagueiros adversários. Em termos de arrumação tática, o time pernambucano continuava superior, distribuindo bem os passes e atacando sempre com objetividade. Aos 21 minutos, a zaga paraense volta a falhar e Fagner entrou livre para arrematar. Fávaro conseguiu estourar com o atacante, mas a bola sobrou para Edu Chiquita, que, de fora da área, bateu rasteiro para assinalar o terceiro gol.
Baixou completamente o desespero entre os bicolores. Perdido por um, perdido por mil: Charles substituiu Fabrício por Lúcio e Sandro por Vaninho. Agora, a tarefa ficava quase impossível. O Paissandu tinha pouco mais de 20 minutos para marcar três gols. Muitos torcedores, decepcionados, começaram a deixar a Curuzu e nem viram o gol de Paulão aos 23 minutos, escorando escanteio cobrado por Marquinhos. Com 3 a 2 no placar, o Papão voltava ao jogo, precisando de dois gols para se classificar.
Acontece que a desarrumação do meio-campo e os buracos na defesa, o Paissandu passava por um susto atrás do outro. Edu Chiquita entrou livre pelo lado direito e bateu por cobertura, encobrindo Fávaro. Caprichosamente, a bola bateu no travessão e saiu. Tiago Potiguar e Lúcio continuaram tentando lances individuais, mas se perdiam na dura marcação. O tempo foi passando, o Salgueiro teve ainda dois jogadores expulsos – Edu Chiquita e Rodolfo Potiguar. Apesar da vantagem numérica, o Paissandu não tinha mais forças e o jogo terminou com a vitória salgueirense por 3 a 2. Festa pernambucana na Curuzu, críticas e muita decepção do lado alviceleste. O Paissandu, pela segunda vez seguida, perde para um modesto time nordestino a chance de subir à Série B e permanece na Série C pelo quinto ano consecutivo. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola-DIÁRIO)
Paissandu 2 x 3 Salgueiro-PE
Local: Curuzu
Árbitro: José de Caldas Souza (DF); assistentes: Jander Rodrigues Lopes (AM) e Marcos Santos Vieira (AM).
Renda: R$ 461.000,00.
Público total: 16.320 pessoas.
Cartões amarelos: Marquinhos e Da Silva (Paysandu); Serginho, Clebson, Marcelo (Salgueiro)
Cartões vermelhos: Edu Chiquita e Rodolfo Potiguar (Salgueiro)
Paissandu – Alexandre Fávaro; Bosco, Paulão, Da Silva e Aldivan; Tácio, Sandro (Vaninho), Fabrício (Lúcio) e Tiago Potiguar; Fernandão (Marquinhos) e Bruno Rangel. Técnico: Charles Guerreiro.
Salgueiro - Marcelo; Rogério Rios (Rogério Serra), Eridon, Nei Carioca e Serginho; Rodolfo Potiguar, Pio, Edu Chiquita e Clébson (Lismar); Júnior Ferrim (Wendel) e Fagner. Técnico: Cícero Monteiro.