domingo, 22 de junho de 2008

Esse rio é minha rua

Boa noite.
Até segunda-feira.
Foto: Rosana Hermann

Pará real

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós

Quase metade dos 7 milhões de habitantes do Pará vive na "linha de pobreza", em famílias com renda mensal inferior a meio salário mínimo per capita, ou pouco acima de 200 reais. São exatamente 3.491.389 pessoas nessa condição, com renda insuficiente para custear necessidades mínimas, segundo o último mapa da exclusão social apresentado pelo governo do Estado. De 2004 para 2005, a legião dos pobres cresceu 1,29%, incorporando mais 44.496 pessoas. Esse é o período mais atualizado da pesquisa, que acompanhou as demonstrações financeiras do Estado relativas a 2007.
O PIB per capita do Pará equivale a menos da metade do indicador nacional. Houve uma discreta elevação, de 2%, nesse índice entre 2004 e 2005, mas não mudou a situação: enquanto a participação média de cada brasileiro na riqueza nacional somou R$ 10,7 mil reais, ao paraense coube a cota de R$ 5,3 mil. A concentração da renda no Estado é das maiores do país, chegando a 0,76 na escala GINI, que vai de 0 (a igualdade ideal) a 1 (a desigualdade máxima).
Além de não dispor de renda para sair da linha de pobreza, o paraense enfrenta condições de vida mais adversas do que o cidadão médio porque evolui mais lentamente. De 2005 para 2006 a proporção dos que têm acesso à rede geral de água passou de 47,31% para 48,30. A média brasileira, porém, é de 83,21%. Se o saneamento básico é ruim, a moradia é pior porque involui: no mesmo período o déficit habitacional subiu de 49,15% para 50,52%. Seguiu tendência inversa do comportamento do índice nacional.
O Pará continua a ser isso.

Ana Júlia não comparece a almoço da prefeitura

A governadora Ana Júlia deixou a prefeita Maria do Carmo a ver navios, sábado, no Iate Clube de Santarém.
Ana era esperada para um lauto almoço, para o qual foram convidados secretários estaduais e todo o primeiro escalão da prefeitura, além dos tradicionais bocas-livres da imprensa santarena, mas a governadora não deu as caras por lá.
Ana preferiu retornar logo a Belém a tempo de almoçar na capital.

JARBAS PASSARINHO:'Reserva indígena não ameaça soberania'

Ronaldo Brasiliense:

Ex-governador, ex-ministro de Estado e ex-senador da República, o acreano Jarbas Gonçalves Passarinho, 88 anos, um dos políticos mais influentes da história do Pará na segunda metade do século XX, afirma, com segurança: a homologação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, não ameaça a soberania nacional. Nestes três toques, Passarinho – que esta semana recebeu o título de professor honoris causa da Universidade do Legislativo, em Brasília – fala sobre a questão indígena no Brasil.

Senador, a homologação da Reserva Raposa Serra do Sol integral, com 1,7 milhão de hectares, em Roraima, ameaça a soberania nacional?
JARBAS PASSARINHO - Nenhuma reserva indígena de fronteira ameaça a soberania nacional, mas a Declaração de Direitos dos Povos Indígenas ameaça, sim, a segurança e não a soberania, porque proíbe a presença de atividade militar nelas. Ora, as terras indígenas são bens da União e não dos índios. E a União pode colocar na fronteira unidade militar de acordo com a estimativa de perigo. Além disso, a Raposa Serra do Sol tem índios aculturados e até empresários de pecuária. Os macuxis - a maior tribo daquela terra em Roraima - têm milhares de cabeças de gado, vereadores e até vice-prefeitos eleitos para os dois municípios lá existentes. O que pode ameaçar a soberania nacional é o vazio militar da área. Por que não prosseguiu o projeto Calha Norte? A diferença faz com que a demarcação dos ianomamis em cumprimento à sentença judicial - não tenha comparação com a da Raposa Serra do Sol, iniciativa do Governo Lula. Os ianomamis são primitivos, o que não é o caso da outra reserva de aculturados, pelo que sou contra a sua demarcação.

A reserva ianomami, com 9,4 milhões de hectares, foi homologada quando o senhor era ministro da Justiça. Por que não houve tanta grita já que ela é seis vezes maior que a Raposa Serra do Sol?
PASSARINHO - A diferença fundamental entre a demarcação ianomami e a da Raposa Serra do Sol é que ianomami foi cumprimento de uma sentença do juiz da 7a. Vara Federal de Brasília, dando provimento a uma medida cautelar do Ministério Público, para revogar os decretos de Sarney que anulavam os de janeiro de 1985, do governo Figueiredo. Só ao governo Sarney caberia recorrer e não o fez. Assim, voltou a área de mais de 90 milhões de hectares feita ao tempo do presidente Figueiredo e que, na ocasião, não teve nenhum protesto. Ademais, ianomami é fronteira morta, ao contrário da Serra do Sol

Os índios já são donos de 20% do território da Amazônia. O senhor acha que é muita terra para tão pouca gente?
PASSARINHO – Vinte por cento das terras indígenas são comparadas com a superfície do Brasil. A Amazônia desmatou 14% da floresta. A terra ianomami é habitada pelos índios há muitos séculos. Não demarcada como se faz com projetos agrícolas de terras públicas, como a Transamazônica, de 100 hectares por pessoa. E a demarcação tem que levar em consideração as exigências do artigo 231 da Constituição do Brasil.

IBAM faz audiência pública para licenciamento de mina da MRN

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deu início, ainda há pouco, à audiência pública necessária para o licenciamento ambiental da abertura de novas minas pela Mineração Rio do Norte (MRN).
Serão duas audiências na cidade de Oriximiná, hoje e dia 29 deste mês, e uma em Terra Santa, que será realizada no dia 28 também deste mês.
Nestas audiências públicas, será discutido o Relatório de Impacto Ambiental (Rima), documento elaborado pela empresa a parir dos Estudos de Impactos Ambientais (Eia) que medem as interferências do projeto no meio físico e social.
As audiências devem contar com a participação do empreendedor, que vai explicar o projeto, e do órgão ambiental responsável pelo licenciamento, que neste caso é o Ibama, pois o projeto da MRN está localizado dentro de uma Unidade de Conservação Federal. Além disso, participam entidades da sociedade civil da região, organizações ambientalistas, estudantes, lideranças sociais e políticas dos dois municípios.

Memória de Santarém - Por Lúcio Flávio Pinto

Dia a dia (1961)

Em agosto, Antônio Lobo comunicou ao prefeito que comprara a Tecejuta, mas que o fornecimento de energia da fábrica para a cidade seria mantido. Desfazia assim boatos sobre a interrupção do serviço.
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O santareno Raimundo de Alcântara Figueira assumiu em outubro a presidência do Banco de Crédito da Amazônia. Era gerente da agência de Manaus do Banco do Brasil, no qual ingressou em 1938. Foi indicado pelo governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho.
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No dia 6 de dezembro de 1960 a senhorita Gelina Levy taxou no correio do Rio de Janeiro para Santarém convite para o seu casamento, que aconteceria no dia 23 do mesmo mês. A carta foi recebida pelo destinatário, Emílio Nobre, em 23 de agosto de 1961, mais de oito meses depois, quando a jovem senhora já estava em "adiantado estado de gestação". Uma façanha.
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Durante o mês de agosto de 1961 aportaram em Santarém 26 embarcações. Duas delas eram estrangeiras e cinco da navegação de cabotagem do Lóide Brasileiro Costeira: Almirante Alexandrino, Rio Oiapoque, Rio Maracanã, Torres, São Miguel e Vamos. A L. Figueiredo Navegação, que fazia linha regular entre Santos e Santarém, saiu carregada de fardos de juta. O Instituto Agronômico da Amazônia (IAN) fazia o enfardamento numa oficina na Prainha.
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Em setembro de 1961 João de Souza Alho, muito conhecido como Gigi Alho, foi nomeado titular efetivo do cartório do 3º ofício da comarca de Santarém, pelo qual até então respondia.
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Depois de tabelar os preços da carne verde, a prefeitura teve que reajustar os valores devido as graves ameaças "pela falta, cada vez maior, desse gênero de primeira necessidade". A tabela previa os seguintes produtos: filé (a 150 cruzeiros o quilo), carne, fígado limpo, fígado misturado, mocotó, bucho, miolo, cabeça e língua (o mais barato, a Cr$ 70).
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O 1º tenente Liberalino Jorge Pereira convocava os cidadãos nascidos em 1943, "bem como os das classes anteriores, ainda em débito", para prestar o serviço militar, apresentando-se para seleção na sede do Tiro de Guerra nº 190, na esquina da Travessa 15 de Novembro com a Rua Galdino Veloso, "trazendo, cada um, seu certificado de alistamento militar".
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Carregando consigo o primeiro título de "cidadão de Santarém", concedido pela Câmara de Vereadores, o padre Manoel Rebouças Albuquerque deixou definitivamente Santarém em setembro. Fixou residência no então Estado da Guanabara (atual Rio de Janeiro), depois de longos anos de dedicação à instrução infantil.
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Raul Loureiro, gerente do Cinema Olímpia, foi a Recife com dois objetivos. O primeiro era comprar um gerador de luz, capaz de manter em funcionamento o novo sistema de renovação de ar e os ventiladores e exaustores do cinema, uma demanda que a fraca disponibilidade de energia pública não podia atender. Também iria contratar um grande número de bons filmes alemães, americanos e mexicanos. O câmbio elevado do dólar tornava essa tarefa difícil para cinemas do interior.
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Nota irônica de O Jornal de Santarém de setembro:
"Quinta-feira última um larápio ingressou, nas caladas da noite, na residência do dr. Wilson Maia. Quando o ladrão dava a partida despertou o homem do bisturi, que imediatamente apanhou um revólver e saiu à acata do amigo do alheio. Este resolveu enfrentá-lo e o prezado doutor, com toda a gentileza que lhe é peculiar, a fim de evitar escândalos, doou o revólver ao larápio, que, depois de um simples 'muito obrigado, retirou-se calmamente.
Gestos assim devem ser imitados".
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O Veterano Esporte Clube inaugurou sua sede social, no bairro da Aldeia, em 3 de setembro.
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Em 5 de setembro morreu a sra. Rita da Costa Pereira, viúva do comerciante João da Costa Pereira. Deixou oito filhos: Conceição Pereira de Siqueira, casada com Basílio Siqueira; José da Costa Pereira, casado com Maria Ayres Pereira; Rosa Pereira de Vasconcelos (José Santana de Vasconcelos); Maria José Pereira Campos (Simão Campos); Antônio (Miriam Kzan Pereira); Manuel (Nilza Serique Pereira); Joaquim (Vera Soares Pereira); e Joana Pereira Colares (Francisco Colares). Tinha também 33 netos e quatro bisnetos.
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Imbiriba da Rocha Com. Representações Ltda., que vendia os móveis "Cimo", anunciava que conjunto para alcova, sala de jantar, bares, sofás-camas, sofás, berços, estantes, secretárias e cadeiras estavam em exposição para os interessados na residência da professora Sofia, à rua Floriano Peixoto nº 543.
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Brim Tiradentes, mescla Rio Mar e xadrez Brigadeiro eram anunciados como "os panos mais resistentes para o trabalho". O comprador devia verificar "os rótulos pregados na peça".
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Estava à venda a fábrica de mosaicos de Santarém, na Travessa dos Mártires, anunciada como "ótimo emprego de capital".

Santarém, 347 anos

22 de junho, data em que o jesuíta batavo Fellipe Bettendorf, fundou a vila de Santarém, às margens do rio Tapajós.