sábado, 26 de março de 2011

Dilma prefere Celso Lacerda a Cássio Pereira para a presidência do INCRA

Desacertos entre as tendências internas do partido no Pará e uma forte pressão do MST fizeram com que a presidente Dilma Rousseff decidisse por nomear o paranaense Celso Lacerda, 48 anos, para a presidência nacional do INCRA em detrimento a Cassio Pereira, indicado pelo do PT paraense.
 
Celso Lacerda é agrônomo, nasceu em Tupã-SP e se formou na Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), onde se licenciou em matemática. Antes de chegar ao Incra, passou 23 anos trabalhando com cooperativas de pequenos agricultores do Paraná

É esperada uma aceleração da reforma agrária com a chegada de Lacerda, cujos resultados durante os oito anos de governo Lula foram criticados por movimentos sociais agrários.
 
Ele terá de lidar com o clima de instabilidade criado pelos planos do governo de fazer mudanças na estrutura administrativa do Incra.
 
O jornalista Evandro Éboli, do Extra, ouviu Celso Lacerda com exclusividade. Acompanhe:
 
Quais os principais desafios do senhor como presidente do Incra?CELSO LACERDA: Temos que cumprir o que a presidente Dilma deseja, uma gestão técnica. Por isso fui escolhido. Tenho 25 anos de carreira na área agrária e agrícola do país. Ocupei vários cargos, trabalhei com cooperativas, em programas de assistência técnica e estive no Incra durante todo o governo Lula.

O senhor já definiu sua linha de trabalho, algum objetivo específico de atuação à frente do órgão?LACERDA: Vou sentar com o ministro (Afonso Florence, do Desenvolvimento Agrário) e com a presidente Dilma e traçaremos detalhadamente as diretrizes e o planejamento no Incra. O grande diferencial do que foi para o que será é o maior ajuste e controle do trabalho. E também entrar na rota de desenvolver os assentamentos para que passem a ser agentes que contribuam para a produção de alimentos no país, o que já vem sendo feito. Vamos reforçar também a qualificação do pessoal.

E sobre os conflitos no campo?LACERDA: É preciso mudar a imagem da opinião pública sobre reforma agrária. Não é uma imagem muito boa, só se reproduz os conflitos. O desafio é grande, mas dá para mudar isso.

E as escolhas dos superintendentes? Os movimentos sociais terão cargos em sua gestão à frente do Incra?LACERDA: Os movimentos não vão participar. As indicações serão prioritariamente técnicas. Já conversei isso com o ministro. E essa decisão (escolha dos superintendentes) tem que ser rápida. Não vamos levar meses para definir. Já se passaram três meses e é preciso recuperar esse tempo perdido. Como no governo Lula, vamos manter diálogo constante com os movimentos e, obviamente, não vamos fazer tudo que eles querem. Mas o diálogo vai continuar.
Fonte: Folha – IG – Extra


Onde os rios levam vidas em percurso – Parte 2


Redes atadas no convés

Guilherme Guerreiro Neto

O Nélio Corrêa tem capacidade para 246 passageiros. São 11 camarotes para duas pessoas, com ar condicionado e banheiro. E vagas para redes nos convés principal e superior e no passadiço, que equivalem a primeiro, segundo e terceiro pisos, respectivamente. Na saída de Santarém, o barco estava superlotado. A contagem da tripulação identificou cerca de 310 passageiros.

Quando o sol dá as caras, os banheiros ficam concorridos. Atrás de cada porta de alumínio há um cubículo azulejado com o chuveiro posicionado praticamente na direção do sanitário. Ao lado dos banheiros, espera por vaga nas pias.

Às 7h45 de sábado, a embarcação aporta no município de Almeirim. Vendedores aproveitam a freguesia de ocasião para oferecer queijo. Dez reais o quilo. Entre os que desembarcam no trapiche semidestruído pela última enchente estão Maria da Cruz Sousa, Maria Ivone Barbosa, Nilda Gomes, Maria Euciclei de Sousa e Franceli Reis. Elas ficam para prestar concurso público municipal no dia seguinte.

As cinco são freiras da Congregação das Irmãs Franciscanas Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Mantêm os votos de pobreza, obediência e castidade. O que ganham como professora, enfermeira ou auxiliar administrativa, por exemplo, vai para a Congregação. Apenas Nilda e Maria da Cruz usam hábito – vestido bege e véu branco sobre os cabelos. Franceli, a mais encabulada, foge enquanto converso com as outras.

Irmãs franciscanas

Quatro irmãs vindas dos Estados Unidos na década de 1960 fundaram a Congregação em Santarém. Primeiro abriram a Maternidade Sagrada Família. Só em 1988 receberam permissão para formar noviças e freiras.

Lá se vão 20 anos desde que Maria da Cruz, com 55, fez voto perpétuo. Ter ensino médio completo é requisito para iniciar os estudos como postulante a freira. Conseguir, para ela, não foi pouco. “Minha mãe era analfabeta, meu pai era analfabeto. Não tenho vergonha de dizer isso. E meus irmãos mais velhos foram trabalhar pra gente estudar.”

As mais novas vivem os dilemas da juventude. Maria Euciclei tem 21 anos, está no noviciado. Ainda é menina de voz doce e cabelos ondulados. Enfrentou a desaprovação inicial do pai quando decidiu seguir carreira religiosa. Viu as colegas de escola casarem e terem filhos. Mas não se arrepende da escolha que fez.

Se tem uma coisa que Nilda, de 26 anos, sente falta é de dançar. Não, não que ela fosse festeira. “Eu dançava em casa mesmo. As minhas irmãs tão de prova”, tenta se explicar depressa, baixando a cabeça e levando a mão ao rosto para disfarçar o acanhamento. Maria Ivone, responsável pelas irmãs no Brasil, percebe que a procura de moças pelo noviciado diminuiu. “A maioria não quer ter mais esse tipo de compromisso.”

As missões religiosas contemporâneas na Amazônia também são capitaneadas por Igrejas Evangélicas. O município de Porto de Moz, no Pará, é a casa de Timóteo Kubacki, missionário da Igreja da Vinha – Vineyard, em inglês. Há quatro anos, ele e a família deixaram a vida de Ohio, nos Estados Unidos, para fincar raízes na floresta tropical brasileira.

Benjamin e Timóteo Kubacki

Médico, Timóteo trabalhava como diretor de emergência em um hospital. Largou tudo para, como diz, “ajudar pessoas com vida mais difícil”. Não pode exercer a medicina no Brasil. Nas comunidades onde trabalha, ensina inglês, entrega filtros d’água e encoraja o relacionamento das pessoas com Deus.

Aos 49 anos, exibe pele branca avermelhada pelo sol, sandália alpercata nos pés e um português falado com esforço e algum sotaque. Às vezes, ser visto como estrangeiro o deixa pouco à vontade. “Quando nós viajamos, com certeza. Porque somos claramente gringos, um pouco diferentes. Mas onde nós moramos, não. Eles nos aceitam muito, entende?”

Timóteo tem quatro filhos: duas moças, dois rapazes, todos adolescentes. Estão muito bem ambientados na região. Os meninos vão com ele no barco. Benjamin passa o tempo sossegado na rede enquanto o irmão mais velho, Luke, faz investidas para cima de moçoilas acobreadas que saracoteiam pelo convés. Os três, pai e filhos, descem em Almeirim, de onde seguem para Porto de Moz ao encontro das mulheres da família.

Permanecem no navio outros estrangeiros. O holandês Vincent Bronkhorst, engenheiro de tráfego, aproveita as férias na América do Sul com a família. Esteve entre 2002 e 2003 no continente, mas esta é a primeira vez no Brasil. Um grupo de universitários de Tóquio, no Japão, está em meio a uma volta ao mundo. A aventura começou em setembro e vai até março de 2010. Antes do Brasil, passaram por países como Índia, África do Sul, Quênia, Dinamarca, Egito e Venezuela.

 
Universitários japoneses

Manchetes deste sábado de O Estado do Tapajós

SEDUC constata obras fantasmas em reformas de escolas estaduais de Santarém

Na edição de hoje de O Estado do Tapajós, que já está nas bancas de Santarém:

Indícios de superfaturamento, obras fantasmas, desvio de recursos públicos, alunos estudando em açougues e escolas abandonadas. Esse foi o cenário encontrado pelo secretário de educação do Estado, Nilson Pinto, ao fazer uma rápida visita a Santarém, na última segunda-feira,21. "Confesso que estou perplexo com o que estou vendo. Há escolas onde se investiu substancialmente para a realização de reforma e o que se vê é que quase nada foi feito. Não sabemos se está no início ou se ela realmente começou", afirmou o secretário. O caso da escola Nossa Senhora de Guadalupe, localizada no bairro de Nova República, foi considerado grave pelo secretário. A empresa R.G Tolentino recebeu quase R$ 1,1 milhão da gestão anterior da Secretaria de Estado de Educação, mas a obra não foi concluída e muito menos entregue à Seduc.