terça-feira, 29 de novembro de 2011

A apaixonante Ilha do Amor, no ‘Caribe amazônico’

Alter do Chão, no litoral do Pará, já foi considerada uma das melhores praias do Brasil

Ilha do Amor, em Alter do Chão, onde se chega após cinco minutos de barco a remo ou um minuto de voadeira navegando pelo rio Tapajós Fernanda Krakovics / Agência O Globo
ALTER DO CHÃO - Não é à toa que a vila de Alter do Chão, a cerca de 35 quilômetros de Santarém, no Pará, é conhecida como o “Caribe amazônico”. O local é sucesso inclusive em publicações internacionais — já tendo sido citado pelo “The Guardian”, entre as melhores praias do Brasil. O Rio Tapajós é de um azul cristalino, a água é morna e a areia, branca. E sem mosquitos a incomodar, devido à acidez da água, resta aos visitantes relaxar em suas praias, passear de barco e, para quem quiser, explorar a Floresta Nacional do Tapajós, fazendo uma trilha, tomando banho de igarapé e conhecendo a realidade de uma comunidade ribeirinha.
Diante da imensidão do Tapajós, às vezes é difícil acreditar que estamos num rio. Em alguns trechos, ele chega a ter impressionantes 18 quilômetros de largura. Em Alter, a praia que faz mais sucesso é a Ilha do Amor, localizada bem em frente à vila e seu cartão-postal. A travessia é feita em barquinhos a remo, leva cerca de cinco minutos e custa R$ 3. No mês de novembro as águas baixam ainda mais e é possível chegar lá a pé.
A Praia do Cajueiro também encanta os visitantes, e fica a dez minutos a pé do centro da vila. Nas duas há barracas que servem bolinho de piracuí (farinha feita de peixe seco socado no pilão), iscas de peixe e tucunaré na chapa.
Entre os passeios de barco, há o Lago Verde, que inclui passagem por igapós (áreas de floresta amazônica alagada); a praia de Ponta das Pedras, com formações rochosas; e a Ponta do Cururu, onde você verá um lindo pôr do sol e, com sorte, botos. Prepare-se para tomar um banho mesmo no barco, na ida ou na volta de Ponta das Pedras, dependendo da direção do vento.
Caminhada e banho de igarapé às margens do Rio Tapajós
Partindo de Alter do Chão, também vale a pena conhecer é a Floresta Nacional do Tapajós (Flona Tapajós), a uma hora e meia de voadeira (lancha veloz). O passeio inclui caminhada de três horas pela floresta, parando para apreciar árvores como Breu Branco, utilizada no preparo de remédios para sinusite, seringueiras e uma enorme sumaúma.
Apesar de ter um trecho de subida, a caminhada não é pesada, mas torna-se cansativa por causa do forte calor, principalmente na área de floresta secundária, que foi desmatada no passado, antes de o local ser transformado em Unidade de Conservação. Mas a vegetação é tão fechada nesse trecho que um leigo só percebe a diferença a sua volta por causa do aumento do calor e do solo arenoso. Depois da caminhada, a pedida é um bom banho de igarapé, com água bem mais gelada que a do Tapajós.
Um dos pontos de partida para a trilha é a comunidade de Jamaraquá, formada por 24 famílias que vivem da extração da borracha e do turismo. Mas, antes de fazer esse passeio, certifique-se de que o guia contratado tem autorização do Instituto Chico Mendes (ICMBio) para entrar na reserva florestal. O preço médio fica em torno de R$ 150 por pessoa para um grupo de três.
O verão amazônico vai de agosto a dezembro. A partir de novembro, o calor é muito intenso. A melhor época para visitar Alter do Chão é durante o mês de setembro, quando as águas do rio baixam, formando bancos de areia e praias, e a temperatura é amena. Mas é justamente nessa época que Alter vive seu período de altíssima temporada, com a realização do Sairé.
O Sairé, festa de cunho religioso e bastante importante para as comunidades da região, acontece na segunda quinzena de setembro. O evento é marcado pela procissão fluvial que dá início à programação e inclui shows de carimbó e uma disputa dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, nos moldes dos bois de Parintins.
Mas o Sairé costuma superlotar a vila, expondo a frágil estrutura da região para comportar tantos visitantes de uma vez só. Por isso, quem quiser programar sua viagem para o mês de setembro deve fazê-lo com bastante antecedência, já que a oferta de quartos em pousadas e hotéis é limitada para o volume de visitantes que a localidade atrai nesse período.
Quatro dias são suficientes para explorar o lugar. Devido à proximidade de Santarém, principal cidade no oeste do Pará, a vila de Alter do Chão oferece infraestrutura razoável. Há bons hotéis e pousadas, mas não há muitos restaurantes. A especialidade são os pratos à base de peixe. Tucunaré, surubim, tambaqui e pirarucu são as grandes atrações, servidos na chapa, à escabeche, na manteiga ou na forma de moqueca.
Procure levar dinheiro em espécie, já que nenhum lugar aceita cartão e há somente um caixa eletrônico da Caixa Econômica, no mercadinho, e uma agência dos Correios que funciona como banco postal do Bradesco.
COMO CHEGAR
Alter do Chão: De Santarém saem ônibus diariamente, de hora em hora, para Alter do Chão. De táxi, a viagem é feita em menos de uma hora e custa cerca de R$ 80.
ONDE FICAR
Hotel Beloalter: Situado em uma praia particular do Lago Verde, cobra diárias a partir de R$ 184. Tel. (93) 3527-1230. beloalter.com.br
Hotel Mirante da Ilha: De frente para o rio Tapajós, o hotel fica ao lado da praia do Cajueiro. Diárias a partir de R$ 153. Rua Lauro Sodré 369. Tel. (93) 3527-1268. hotelmirantedailha.com.br
Pousada Vila da Praia: A um quarteirão da praia, a pousada oferece chalés com ar-condicionado a partir de R$ 100. Trav. Copacabana 145. Tel. (93) 8114.2694. viladapraiapousada.blogspot.com
PASSEIOS
Raimundo: É possível combinar de fazer os três passeios visitando as Ilhas do Amor e do Cajueiro, além do Lago Verde, todos de uma vez só, por um preço único em torno de R$ 70. Os passeios são tratados em uma barraca na Ilha do Amor ou pelo telefone (93) 9139-1680.

Papel das elites(criticas à esquerda e ao marxismo ortodoxo)


Lúcio Flávio Pinto

A propósito do artigo "Os índios é que decidirão sobre usina de Belo Monte? o jornalista Paulo Leandro Leal, de Santarém, postou o seguinte comentário no blog do jornal O Estado do Tapajós:

"’As vozes consideradas mais qualificadas para o debate popular contestam Belo Monte’. Esta tentativa de desqualificar as vozes favoráveis ao empreendimento só mostra que a esquerda não aprende mesmo. O LFP se acha o Moderno Príncipe Gramsciniano, que tem o poder de dizer o que é bom e o que é mal”.

Em resposta, mandei a seguinte mensagem:

“Caro Paulo: Respeito o seu direito de dizer o que quiser. Por curiosidade, gostaria de saber o que você entende por ‘Moderno Príncipe Gramsciniano’, me atribuindo o título. Escrevi pela primeira vez sobre o filósofo italiano em 1968 e tenho me empenhado em estudá-lo. Mas não consegui atinar para sua comparação. Esclareça-me, por gentileza”. 

Infelizmente, Paulo não voltou ao tema. Achava que podia render um bom caldo. No meu entendimento, Paulo não compreendeu o sentido da frase que provocou sua manifestação – e talvez não tenha entendido também Antônio Gramsci. Tenho feito críticas constantes à esquerda e ao marxismo ortodoxo, em particular. Acho que ambos subestimam o papel das elites, mais bem compreendidas por observadores como Max Weber ou C. Wright Mills. Com ênfase numa região colonial como a nossa, de educação mais do que deficiente.

Aproveito a oportunidade para recomendar aos meus leitores o livro Um Melodrama Americano. Foi publicado pela Editora Expressão e Cultura em 1969, no ano seguinte ao do seu aparecimento nos Estados Unidos, em dois volumes, com mais de 900 páginas. A capa, mal concebida (sugeria mais show-business em si do que política enquanto tal) não ajudou a fazer justiça ao trabalho dos jornalistas ingleses Godfrey Hodgson, Lewis Chester e Bruce Page, todos do Sunday Times, de Londres, que deu suporte à brilhante reportagem.

O que eles realizaram, na abertura do governo Nixon, é muito melhor do que os livros de Bob Woodward e Carl Bernstein sobre o ocaso nixoniano. Mas ficou encalhado, infelizmente. Pouca gente leu. Raros ainda se lembram. Com insistência, o livro pode ser encontrado em sebos.

Em certo trecho, observam os jornalistas: “Tal política conta, sem dúvida, com muitos e fervorosos adeptos, mas os seus adversários – entre os quais se incluem se incluem numerosos ex-adeptos – são ainda mais veementes e clamorosos. E essa oposição é formada por uma vasta proporção daquelas classes ativas, diligentes e talentosas sem o consentimento das quais a organização da vida americana dificilmente poderia manter-se”.

Concebida para situar os campos de apoio e oposição à política oficial americana, a frase se amolda como luva ao confronto em torno da hidrelétrica de Belo Monte. É claro que a maioria apoia a obra. Mas é da mesma clareza o fato de que seus críticos têm mostrado qualificação suficiente para fazer o poderoso governo recuar, mudar de postura, maquilar o projeto e seguir muito mais lentamente do que pretendia.

Essa minoria pode ser derrotada ao final, como tem ocorrido quase sempre. Mas será mais por um ato de força do que de convencimento, de vitória no duelo intelectual, na dialética dos argumentos. A obra poderá sair, mas sua moral não será recomendável. Ainda mais porque a conta da quitação dos erros será apresentada a todos, não apenas aos derrotados.