terça-feira, 24 de junho de 2008

O caboco que deu vida a um mundo em extinção

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós

Em 1971 minha temporada paulista foi interrompida por alguns meses em Belém. Logo que aqui cheguei, Benedicto Monteiro me entregou os originais de um livro que pretendia publicar. Com surpresa, vi que o ex-político, então no exercício da profissão de advogado, escrevera um romance. Mas não um romance qualquer: era uma grande obra de ficção. Voltei a Bené e lhe mostrei os originais, com muitas anotações minhas, manifestando-lhe meu entusiasmo. Devia publicar logo: Verde Vagomundo certamente iria causar impacto nacional. Ele me confessou que já havia mandado os originais para três ou quatro pessoas, autoridades locais em literatura, mas não recebera qualquer resposta.
Para estimulá-lo ainda mais, escrevi uma série de três artigos em A Província do Pará, dando minha opinião: a Amazônia voltava a ser tema literário de primeira linha. Num momento em que o mundo da natureza, no qual o homem nativo era ainda um detalhe, começava a ser destruído pelo colonizador, Benedicto Monteiro, com fina sensibilidade e conhecimento íntimo das coisas que dizia, nos reconciliava com a "nossa" Amazônia, sem dissociá-la da nova aventura em que era metida, por conta dos caminhos abertos no seu interior para migrantes de todo país (e captados pelas ondas hertzianas do rádio).
Tão logo Verde Vagomundo saiu, lançado no Rio de Janeiro por uma pequena editora de um amigo de Bené, Lúcio Abreu, mandei um exemplar para Léo Gilson Ribeiro, em São Paulo. Crítico de respeito, Léo também se encantou com o romance. Escreveu uma página de elogios no Jornal da Tarde, o vespertino de O Estado de S. Paulo, abrindo as portas do país à excelente novidade vinda do distante e mal-conhecido Norte. Empolgado, Benedicto partiu para o segundo e igualmente bem-sucedido livro: O Minossauro. Abri para ele a capa do Bandeira 3, o semanário que editava em 1975, e espaço para uma longa entrevista e um artigo sobre o novo livro.
Parecia que teríamos um novo Dalcídio Jurandir, desviado do Marajó para o Baixo-Amazonas, centrado na siciliana Alenquer. Mas os redutos sulistas não se renderiam como as muralhas de Jerusalém às cornetas de Josué. Nem os elogios e nem a acurada análise de um paraense cosmopolita, como Benedito Nunes, deram a Bené o reconhecimento que ele merecia só pelos dois livros, melhores do que obras incensadas pela crítica auto-suficiente do eixo dominante da cultura (e de tudo mais) do Brasil.
Não era de admirar: o que acontecia ao escritor se repetia em tudo na relação entre a periferia e o centro do país. Mas Bené era um caboco valente e decidido: foi lançando um livro depois do outro. No meu entendimento, como os dois primeiros romances continuaram a ser o modelo, tiveram com os demais a relação de uma base concentrada com sua diluição. Houve perda de qualidade na super-exploração dos motivos originais, que constituíam a grande força de Verde Vagomundo e Minossauro.
Bené não gostou das críticas, que se estenderam ao campo da sua atuação pública, como procurador-geral do Estado e político, de volta à atividade depois da quarentena compulsória pela cassação. Como havia um afeto mútuo, desenvolvido durante a fase de relacionamento mais constante que tivemos, foi preferível evitar os atritos, cada um levando a própria vida e nela procurando fazer o melhor, para si e os demais. Continuei a acompanhar a atividade de Benedicto Monteiro a certa distância, mas com grande interesse - e inabalável admiração.
Se não fosse advogado, político e escritor, Bené já justificaria o carinho geral que conquistou como pessoa. Era um típico caboco (não caboclo) do Baixo-Amazonas, eficiente cultivador de suas raízes, companheiro alegre e generoso, prosador emérito. Suas qualidades pessoais foram realçadas e multiplicadas pela companhia de sua mulher, Wanda, que morreu quatro antes do passamento do marido. Benedicto Wilfredo Monteiro se foi no dia 16, depois de incrível resistência, aos 84 anos. Enfrentou como um bravo as sucessivas doenças que interromperam nos últimos anos seu currículo de homem saudável. Só cedeu quando, entre dores, começou a sentir o chamado da mulher que amou. Virou-se para quem estava próximo e pediu que o deixassem ir. E assim, como um amante de tudo que a vida ofereceu, foi atrás de Wanda. Entre nós, muito vivo, deixou Miguel dos Santos Prazeres, o maior dos filhos que concebeu em seus escritos, e a família, que em torno dele viveu e, armada de sua memória, abrirá novos tempos na sua história.

Aviso

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Frission

Empresa junior de uma faculdade particular acaba de tabular o resultado da mais nova pesquisa eleitoral em Santarém.
Os números são impressionantes, de deixar muita gente de queixo caído.
Detalhe: a pesquisa não foi registrada perante à Justiça Eleitoral e por isso não será divulgada.

Bancos já estão abertos

Martin Granja, gerente do Banco de Brasil, acaba de informar que o horário das agências bancárias de Santarém será de 09h00 as 14h00 pelo horário de Brasília.
Trocando em miúdos: pelo horário antigo, os bancos abrem e fecham mais cedo.

Alta da soja ameaça compromisso de não plantar em área de desmatamento

Os resultados positivos dos dois primeiros anos da moratória da soja, compromisso assinado por compradores de não comercializar grãos produzidos em áreas de novos desmatamentos na Amazônia, podem não se repetir no período de prorrogação do compromisso, assinada na semana passada por representantes do governo, organizações não-governamentais e indústrias.
De acordo com o Grupo de Trabalho da Soja, que reúne representantes da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e do Greenpeace, por exemplo, nos dois primeiros anos da moratória, em nenhum dos 193 polígonos de novos desmatamentos na Amazônia houve cultivo de soja. No entanto, a situação pode mudar até a próxima safra, influenciada pelo aumento do preço do grão no mercado internacional, o que eleva o interesse dos produtores, e passada a “domesticação” da terra, período de transição (com plantio de outras culturas, por exemplo) para que o solo seja cultivável para a soja.
“O monitoramento revelou que houve desmatamento em 193 polígonos e a área está lá aguardando algum tipo de definição, que não necessariamente será a soja. O que não quer dizer que se nós não formos atentos, alguma soja será plantada nessas áreas. Até porque em alguns polígonos, essas áreas estão relativamente próximas a áreas já plantadas com soja no passado”, admitiu o presidente da Abiove, Carlo Lovatelli.
O levantamento dos polígonos de novos desmatamentos só levou em conta áreas de devastação iguais ou maiores que 100 hectares, porque, segundo o GTS, em geral, não é economicamente viável para o produtor de soja cultivar o grão em áreas inferiores a essas.
Na avaliação do coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, é preciso ficar atento também a desmatamentos inferiores a 100 hectares. “Identificamos proprietários que desmataram áreas menores, bem próximas às lavouras que já produzem soja, o que pode indicar que a produção será estendida para essas áreas nos próximos anos”, apontou. Mas, para o presidente da Abiove, a garantia de que a soja irregular não será comercializada se deve ao fato de que os compradores de soja, que repassam a produção aos grandes exportadores “conhecem de perto” os produtores do grão. “Ele tem raízes na região, conhece os produtores, é relacionado, são companheiros, ele tem a informação [se desmatou ou não]”, disse.
Já o coordenador da campanha do Greenpeace defende a divulgação da lista de fornecedores, para que o monitoramento dos produtores, que desmataram ou não para produzir mais soja, não seja feito somente por representantes das indústrias compradoras. “O comprador de soja não tem credibilidade suficiente para dizer que não comprou de quem desmatou”.
Adário acredita que será necessário reforçar o trabalho para que o monitoramento chegue aos pequenos polígonos de desmatamento. Segundo ele, foram identificados mais 47 mil com extensão inferior a 100 hectares. “Esse ano vai ter soja plantada nas áreas desmatadas Não será um grande problema monitorar os 193 polígonos. O que o GTS não têm condições de fiscalizar são os polígonos abaixo de 100 hectares. A imensa maioria não é em área de soja, mas se a gente falar em 10% para a soja, sendo conservador, serão cerca de 5 mil polígonos a mais para monitorar”, estimou.
(Fonte: Agência Brasil)

O tempo de Santarém

Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós


Tinha certo gosto de brincadeira, para quem viajava entre Belém e Santarém, a diferença de uma hora entre as duas cidades: chegava-se à “pérola do Tapajós” praticamente na mesma hora em que se deixara a “metrópole da Amazônia”. Era como se o tempo gasto no percurso não tivesse existido e as duas cidades, separadas por 800 quilômetros, fossem contíguas, siamesas. Talvez lá no inconsciente, sobretudo dos “mocorongos”, fosse a melhor maneira de não perceber a diferença. Santarém não reconhecia a supremacia de Belém porque, no fundo, se sentia tão capital, não de um Estado real, mas da nova unidade federativa que um dia iria se materializar, como um rei Sebastião redivivo, legenda ao gosto de uma cidade com fundas tradições portuguesas.
Agora que a diferença de fuso horário desapareceu, qual o seu efeito no inconsciente coletivo de uma cidade que comemora seus 347 anos com a nova realidade temporal? Sente-se mais distante da capital do Estado ao qual ainda pertence, por isso, tendo que estar hierarquicamente subordinada a Belém? Vê mais distante o sonho de comandar um novo Estado brasileiro, ideal que tem suas raízes mais remotas num ponto cada vez mais distante na história, meio século e meio atrás, e que parecia avivado para se tornar realidade nestes dias? E mesmo que o Estado do Tapajós acabe por se materializar, Santarém ainda estará em condições de pleno domínio sobre esse espaço, como a inquestionável capital cogitada no passado?
Talvez se possa dizer que a cidade fez fama nessa condição e se deitou na cama da acomodação. A universidade federal em gestação atende por uma sigla esquisita, associável aos objetos não-identificados (UFOP), porque Tapajós foi sacrificado à denominação de Oeste do Pará. A configuração antiga sofreu muitas modificações que independeram de Santarém, sobretudo as novas riquezas minerais, que deslocaram inicialmente o eixo para a margem esquerda do rio Amazonas (através da bauxita de Oriximiná) e agora exercem o mesmo efeito sobre Juruti (e, no futuro, sobre Monte Alegre).
Santarém sofreu sensível deslocamento de influência nesse processo. Não só na área delineada para o ex-quase-futuro Estado: no próprio território paraense. De um incontestável segundo lugar, logo abaixo de Belém, a “pérola do Tapajós” caiu para abaixo da 5ª posição, por qualquer critério de avaliação que se adote, da receita tributária ao índice de desenvolvimento humano. Isto significa que o município deixou de comandar a própria história, seguindo na onda que vem de fora, em várias direções. Qualquer que seja o rumo, é preciso que retome as rédeas da decisão, que só poderá ser positiva se Santarém tiver conhecimento dos fatores em ação na sua história contemporânea. Seu traço mais marcante é o externo, trazido pela migração de pessoas e de atividades. Todos são bem-vindos, desde que sigam o compasso do interesse daqueles que estiveram na terra antes e nela deverão permanecer. Não como espectadores do espetáculo, mas como seus protagonistas. É o presente que se pode desejar para Santarém, mas esse é um presente que cabe ao conviva dar a si mesmo, ao invés de ficar esperando na janela, como a Carolina, personagem da música de Chico Buarque de Holanda. Desatenta, Carolina acabou sendo a única que não viu o tempo passar.

Babel (3)

O expediente na gerência do Ministério do Trabalho em Santarém com base no horário de Brasília será adotado a partir de terça-feira, dia 1º de julho.

Babel(2)

O comércio de Santarém vai adotar o novo fuso horário somente a partir de amanhã.
Os bancos ainda não informaram o novo horário de atendimento ao público.

Cobiça

O vereador Reginaldo Campos(PSB) reivindica o lugar de vice na chapa do deputado Lira Maia.

Babel

Ninguém se entende quanto ao novo horário.
A TV Tapajós já o adotou a partir de hoje.
A Rádio Rural ainda se baseia no horário antigo.

Miragem

As propostas da licitação da ampliação da estação de passageiros do aeroporto Wilson Fonseca, em Santarém, serão abertas dia 5 de agosto. Essa parte do projeto custará R$ 1,5 milhão. Quando forem feitas as mudanças essenciais nas pistas e equipamentos, o custo subirá para R$ 52 milhões.

Justiça Federal bloqueia contas e terras de madeireira

Na FOLHA DE S.PAULO:

A Justiça Federal do Amazonas tornou indisponíveis bens, contas bancárias e parte das terras da Gethal, empresa que tem entre seus sócios o milionário sueco Johan Eliasch.
A decisão acatou pedido do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que queria uma garantia para o ressarcimento por danos ambientais à floresta amazônica e indenizações por danos materiais e morais à sociedade brasileira.
No início do mês, o Ibama aplicou dez multas -totalizando R$ 381,2 milhões- contra a Gethal, acusando-a de explorar, comercializar e transportar madeira nobre da floresta na região de Manicoré (AM)- 699.809 m3 ou 230 mil árvores.
A decisão da juíza Maria Lúcia Gomes de Souza, da 3ª Vara Federal, em Manaus, saiu na última quinta-feira e determina multa diária de R$ 5.000 em caso de descumprimento.
Essa foi a primeira vez que o nome de Eliasch foi citado na Justiça como um dos sócios da empresa Floream, maior acionista da Gethal, e da ONG Cool Earth, da qual é co-presidente.
Em nota, a empresa disse que não tem interesse em explorar os recursos naturais no Amazonas e que recorrerá das multas. "Trata-se de decisão absurda, por ter a Gethal, voluntariamente por decisão estratégica, suspendido toda a atividade madeireira há alguns anos", diz a nota.

Novo fuso horário

Quarta-feira, 25 de junho, terá apenas 23 horas.
Hoje, à meia-noite, os relógios serão adiantados em uma hora.

Público arranjado

Inaugurações da prefeitura de Santarém têm tido uma cena inusitada.
A maioria dos presentes é formada por barnabés levados até o local em ônibus especial.
A claque, nesse dia, é dispensada de trabalhar na secretaria responsável pela inauguração.