sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Quem tem força para usar na eleição

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal

A Democracia Socialista é tendência ideológica (ainda?) minoritária dentro do Partido dos Trabalhadores em todo país. Mas conseguiu conquistar o governo de um dos cinco Estados nos quais o PT se saiu vitorioso na eleição de 2006 (menos de 20% das unidades da federação), impedindo a quarta vitória seguida do PSDB, a terceira tentativa do ex-governador Almir Gabriel. Quem não fosse além desse número concluiria que a DS conseguira façanha semelhante à dos bolcheviques: embora minoritários, eles saíram da crise que levou à revolução russa de 1917 como os donos do poder. Os bolcheviques, à parte todos os seus graves erros e crimes, constituíram um dos mais brilhantes grupamentos intelectuais de todos os tempos, em qualquer lugar.

A comparação deve ser sedutora, mas é oca de conteúdo. Se dependesse dela mesmo, a senadora Ana Júlia Carepa não seria candidata ao governo do Estado. Raríssimos acreditavam que ela podia vencer a máquina tucana (que, em tese, ia ser colocada por Simão Jatene a serviço da volta de Almir, o que acabou não acontecendo, ao menos com a ênfase das eleições de 1998 e 2002). Jader Barbalho precisava acreditar que sim. Lula também. O objetivo de ambos era vencer o PSDB, intruso no esquema populista que precisava ser mantido (o PMDB teria, em 2006, quase o dobro de governos estaduais: 9).

O deputado federal peemedebista ofereceu ao presidente petista um esquema que podia dar certo: colocar Ana Júlia no 2º turno, quando seria plenamente viável abater o tucano, em vôo desastrado, usando como ponte uma candidatura auxiliar (que quase cresce além de todas as expectativas, a de José Priante). Ana Júlia recebeu o prato feito em Brasília e, depois de certa relutância, o aceitou. E assim se tornou a primeira mulher a governar o Pará, sem currículo que permitisse antecipar essa façanha histórica. Ou sustentar sua realização, depois.

Mas a nova governadora acreditou na força que imaginou ter e na versão que seu grupo passou a criar a partir daí. Como é próprio de vanguardas, reais ou imaginárias, a DS acreditou na força que alardeava, mesmo não a possuindo. Depois de três anos de exercício do poder estadual, continua a ser um grupo minoritário no PT, na representação política e no Estado. Cresceu, é bem verdade, e ainda poderá continuar crescendo até a eleição de outubro, mas a relação custo/benefício (ou de vantagens comparativas) pelo uso e abuso da máquina pública é inferior à dos tucanos e, antes deles, dos peemedebistas. O PT também se tornou fisiológico, mas nesse campo ainda está aprendendo, apesar do tom doutoral dos seus líderes.

O problema é que o PMDB de Jader Barbalho, supostamente aliado, mas, na prática, um sapo de difícil deglutição (e vice-versa, pela ótica do ex-governador), que devia ser abatido, cresceu mais do que o PT e, principalmente, do que a DS. Não sei se algum “socialista democrático” tem consciência desse fato, mas basta lembrar que, com todos os recursos que a chave do cofre do tesouro estadual e a caneta que assina os atos de nomeação e demissão proporcionam, a DS só tem um candidato a deputado federal: é o chefe da Casa Civil, Cláudio Puty.

Puty entrou no jogo do poder ao ser nomeado para integrar o secretariado. Até então, seu universo se limitava à academia. De lá contemplava o espetáculo da política como um observador interessado, mas sem participação efetiva. O exercício do maquinismo oficial lhe despertou o desejo de entrar na roda da fortuna. A pretensão é natural e deve ser encorajada, mas Puty almeja muito mais votos do que poderia alcançar se não contasse com o sopro do alto para passar à frente de quem está há mais tempo na fila e sobe vencendo cada etapa intermediária.

O sopro que projetou Puty mais acima vai derrubando quem já estava a postos pelo caminho, seja adversário, aliado ou correligionário. Por enquanto, a gritaria é mais na casa do PT. Tornou-se tonitruante pelas vozes do deputado federal José Geraldo e da deputada estadual Bernardete ten Caten, que ecoam vozes ainda no solfejo dissonante. A principal reserva de votos deles é no sul do Estado, com ênfase em Marabá, onde as lideranças costumam ficar pulverizadas. Para atrair mais adesões, um dos instrumentos mais eficazes é o Incra (assim como, embora sobre outra clientela, o Ibama). O Incra recebeu um reforço de 30% para este ano, mas para que o comando mude de mãos e apóie o preferido da governadora, que fez de Marabá o destino principal das suas viagens ao interior.

Essa cisão interna revela não apenas o tamanho verdadeiro da DS, mas o “desenvolvimento não-sustentável” do PT paraense no governo – para o bem e para o mal. Ao analista isento e bem informado não escapa mais uma conclusão: sem o uso da máquina e a decisiva participação do governo federal, Ana Júlia Carepa estaria com a reeleição ameaçada, ou comprometida de vez.

O problema está em saber se bastam essas duas forças para reverter a rejeição que a governadora acumulou? Dizem alguns comentadores de pesquisas metafísicas que o índice da governadora já é pior do que o de Jader Barbalho, inclusive na área da capital. Se é ou não é, não se sabe ao certo por falta dos resultados da sondagem. Mas a rejeição é uma pedra tão grande no caminho da governadora quanto na do seu incerto aliado principal.

Só que, sem os mesmos recursos da petista, Jader se fortaleceu mais do que ela, ainda que essa riqueza que formou represente também uma fonte de angústia para ele. Jader pode tomar várias decisões, mas, se a escolha não for vitoriosa, seu futuro estará comprometido de vez. Por isso, a melhor alternativa, que seria disputar o governo, é também a mais arriscada.

No entanto, parece fora de dúvida que o espantalho da política paraense em quase três décadas demonstrou capacidade de sobrevivência excepcional. Boa parte dessa capacidade deve-se a qualidades que, em política, respondem pela liderança autêntica, mesmo quando negativa, porque testada em diversas condições e momentos. Dentre elas a de se impor ao PT neste novo e grande teste, para o qual o Partido dos Trabalhadores não se apresenta com as mesmas qualidades. Continua muito menor do que a própria sombra – e tão distante das suas promessas e compromissos.

NOTA DA REDAÇÃO – A edição já estava fechada quando o Diário do Pará anunciou, na segunda-feira, 1º (em mais um bom trabalho da repórter Rita Soares), o principal resultado dos entendimentos do final de semana no PT para apaziguar as dissensões internas, geradas pelo favorecimento do governo a Cláudio Puty. O chefe da Casa Civil terá que antecipar sua desincompatibilização, de 3 de abril para uma data próxima do final deste mês, mas ainda não definida. Para não ficar escancarado o recuo, a governadora Ana Júlia Carepa estabeleceu esse prazo como fatal para outros três secretários estaduais que também concorrerão em outubro: Edílson Silva, da Cultura; Suely Oliveira, de Urbanismo (outros dois preferidos da DS), e Valdir Ganzer, dos Transportes. Bernadete também conseguiu retomar o controle do Incra em Marabá, perdido pelo aliciamento de Puty do atual dirigente do órgão, Raimundo Oliveira, que fará com o secretário dobradinha como candidato a deputado estadual, apoiando-o para federal. As ameaças da deputada e de Zé Geraldo deram resultado. Refeito o pacto, todos ficaram satisfeitos. As questões suscitadas pela reação dos parlamentares contrariados foram esquecidas, como conveio a todos. Menos à opinião pública.

Manchetes desta sexta-feira de O Estado do Tapajós

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