segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Rombo nas finanças da prefeitura de Santarém é de 35 milhões de reais até agosto


Miguel Oliveira e Alailson Muniz
Da Redação

A dívida que será deixada pela Prefeitura Municipal de Santarém para o próximo prefeito eleito ultrapassa os R$ 35. 975.016,93. São restos a pagar que vão ser lançados com seus valores fechados em dezembro deste ano. Os dados são do Relatório Resumido de Execução Orçamentária do 4° bimestre de 2012.

Segundo o relatório, a Prefeitura Municipal contabilizou restos a pagar de exercícios anteriores no valor de R$ 10.817.846,56. Em 31 de dezembro de 2011, foram inscritos nesse saldo devedor R$ 56.944.313,61. Desse total foram cancelados R$ 104.354,01 e pagos R$ 31.682.789,23. O saldo devedor, portanto, fixou em R$ 35. 975.016,93 até o final de agosto deste ano. Os dados são inseridos no Relatório pelo setor de contabilidade geral da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin).

A Secretaria Municipal de Educação (Semed) apresenta o maior "restos a pagar" do orçamento municipal. A pasta trouxe dos exercícios anteriores R$ 4.411.245,45 em dívidas e, em dezembro de 2011, esse valor saltou para R$ 35.854.488,37. Desse total foram cancelados apenas R$ 103.297,41 e pagos R$ 18.098.186,61. O saldo devedor até final de agosto ficou em R$ 22.064.249,80. Os números mostram que do valor pago até o final de agosto a dívida ainda cresceu mais R$ 5 milhões.

Outra dívida que chama atenção é a referente ao Fundo Municipal de Saúde. O relatório apresenta dívidas dos exercícios anteriores no montante de R$ 4.639.552,82. Em 31 de dezembro de 2011, a dívida já era de R$ 11.594.504,49. Desse total, foram pagos R$ 6.240.366,64. Portanto, o restante ficaria em R$ 5.354.138,00, mas o relatório informa que o valor atual é de R$ 9.993.690,67. Ou seja, a dívidas cresceu cerca de R$ 4,5 milhões.

Conta tudo que sabe, Valério!



 Operador do mensalão, o empresário Marcos Valério é um jogador. Parece ser capaz de qualquer coisa para se dar bem no final. Agora luta para não sair muito mal da história.

Condenado a quarenta anos de prisão resolveu falar mais uma vez ao Ministério Público. E disse coisas bastante graves: que o ex-presidente Lula foi chantageado por criminosos envolvidos com o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002.

Marcos Valério disse também que tinha detalhes comprometedores sobre a participação do ex-ministro Antonio Palocci na arrecadação de recursos para o caixa do PT e informações sobre a origem do R$ 1,7 milhão apreendidos pela Polícia Federal no escândalo do dossiê dos aloprados, durante a campanha eleitoral de 2006.

·        Na revista Veja: http://migre.me/bzFgX

Chama-se Ronan Maria Pinto a pessoa acusada de chantagear Lula, e também o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho no caso do assassinato de Celso Daniel. Renan é apontado pelo Ministério Público como integrante de um esquema de cobrança de propina na prefeitura da cidade do ABC paulista.

De acordo com a revista Veja, Valério foi procurado por petistas para pagar o dinheiro da chantagem, mas teria se recusado a colaborar. Segundo ele, quem teria ficado com a missão seria um amigo pessoal de Lula, que utilizou um banco não citado no mensalão.

No depoimento, o empresário ainda mencionou outras remessas de recursos para o exterior, além das que foram feitas para o publicitário Duda Mendonça, que trabalhou na campanha de Lula em 2002 e foi absolvido pelo Supremo no processo do mensalão.

A essas novas declarações de Valério ao Ministério Público é preciso somar a acusação feita em setembro pelo empresário de que o maior comandante do mensalão teria sido o ex-presidente Lula. "Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé (Dirceu) não falamos. Lula era o chefe", teria afirmado a Valério.

Outra pessoa que lançou a tese de que o ex-presidente do PT, José Genoíno, e José Dirceu agiram para proteger Lula foi a própria ex-esposa do ministro. “Eles estão pagando pelo Lula. Ou você acha que o Lula não sabia das coisas, se é que houve alguma coisa errada?”, afirmou a primeira mulher de Dirceu, Clara Becker.

·        No portal Terra: http://migre.me/bzIE9

O depoimento de Valério à Procuradoria foi dado na tentativa de conseguir uma delação premiada, mecanismo jurídico no qual alguém que é investigado pode se beneficiar colaborando com a Justiça. O empresário também pediu proteção policial.      Os ministros do STF já estudam a possibilidade de reduzir a pena de Valério.

Hoje no Estadão: http://migre.me/bAsMH

Frente a mais essas revelações os petistas responderam com o de sempre: desqualificaram o empresário. Disseram que se tratam de manobras de uma pessoa desesperada com a perspectiva de ficar tantos anos atrás das grades.

Mas independente de que esteja falando a verdade ou mentira, algo é certo: ninguém melhor do que Marcos Valério para esclarecer o que exatamente ocorreu nesse ainda obscuro escândalo de corrupção analisado nos últimos três meses pelo Supremo Tribunal Federal.

O contra-ataque cínico que os petistas fazem contra quem quer esclarecimentos sobre essa série de crimes é dizer que esse pedido de mais investigações não tem o respaldo das urnas. Além de, no fundo, considerar o eleitor como conivente com o desvio de dinheiro público, o PT considera que a aprovação popular limpa a barra de políticos que tem contras a prestar na justiça. É uma distorção crassa.

A democracia moderna não é apenas a vontade do povo simplesmente. É a vontade do povo mediada pelas leis e instituições. E caso haja algum conflito, prevalecem as leis. A função das instituições é, entre outras, proteger os derrotados nas urnas de eventuais tiranias da maioria e os mais fracos da tirania das minorias fortes.

Conte tudo o que sabe, Marcos Valério!
(Rede Democratas)

O bispo americano que não era da CIA


Lúcio Flávio Pinto
Artigo publicado na edição desta semana de O Estado do Tapajós

A internet passou a ser desaguadouro seguro para todo e qualquer tipo de história que se queira contar. Dentre elas, narrativas sobre a penetração estrangeira na Amazônia. Apesar de contraditadas até a desmoralização, elas continuam a circular e a atrair propagadores.

Como o livro didático adotado nas escolas americanas que excluem a Amazônia do mapa do Brasil. Ou um decalque convocando os sobrinhos de Tio Sam a cumprir sua cota diária de brasileiro morto. Ou ainda o testemunho de alguém que acabou de chegar de Roraima horrorizado pelo que viu: num determinado trecho da rodovia Manaus-Boa Vista só se consegue passar falando inglês. Quem não é fluente na língua de Shakespeare é detido.

Já se falou também dos submarinos que demandavam o porto de Monte Dourado, no reino de Daniel Ludwig, no Jari, para transportar clandestinamente toras de madeira, dentro das quais haveria ouro. Ou os fornos para queimar cassiterita instalados na área dos índios Yanomami, na divisa do Brasil com a Venezuela.

O americano James Michael Ryan (seu nome de batismo) fez parte dessas lendas e mistérios da sempre atenta cobiça internacional sobre a Amazônia na pele de dom Thiago Ryan. De vez em quando alguém, geralmente jornalista, aparecia com a pergunta sibilina: ele não é agente da CIA postado no coração da Amazônia? Larry Rohter, que veio atrás do zum-zum-zum, o desfez em reportagem para o New York Times. Mas era um americano escrevendo para um grande jornal americano, ambos suspeitos à vista da geopolítica corrente na Amazônia.

Cristovam Sena acaba de dar a contribuição local à verdade com Dom Tiago, o missionário do Tapajós, livro que organizou e publicou pelo Instituto Cultural Boanerges Sena, de Santarém (174 páginas, 2012) para comemorar o centenário de nascimento do bispo (declarado emérito pós-morte), apropriadamente definido como “o missionário”, o que ele nunca deixou de ser. O carregado sotaque, que o acompanhou até o último dia, não escondia a origem do personagem e sua dificuldade para falar mais livremente o português. Mas só isso o mantinha estrangeiro.

Thiago viveu durante quase 60 anos no Baixo Amazonas, indo de padre a bispo, a partir de julho de 1943, quando chegou à região, com mais três franciscanos. Ele desembarcou do mesmo navio que trazia, como “soldados da borracha”, 500 cearenses, mais conhecidos por arigós, a maior parte de São Francisco do Canindé (de onde também veio – bem antes – meu avô, o brabo Raimundo Pinto).

Era uma situação de impacto: em péssimas condições, os homens iriam trabalhar no fornecimento de matéria prima vital para a campanha das nações aliadas, lideradas pelos Estados Unidos, contra as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Muitos morreriam nos seringais distantes, mas já ali o drama era tão visível que o missionário franciscano tentou se comunicar com eles, arranhando um português precário e complementando-o com o latim. A solidariedade foi mais marcante do que a comunicabilidade. Deixou uma semente definitiva na alma e no coração do padre iniciante, aos 21 anos de idade.

Aposentado, Thiago continuou na região, como simples cidadão, num lugar ermo, sacrificante, quando renunciou à hierarquia eclesiástica, depois de 27 anos como bispo de Santarém, . Era um caboclo alvo, exageradamente alto, de fala enrolada. Mas definitivamente amazônico.

Um homem cordial, tolerante e diplomático. Contornou ou enfrentou momentos muito difíceis na sua prelazia (depois diocese) sem perder a calma e bater a porta. Aproveitou o que pôde da qualidade alheia, sem abrir mão dos seus princípios éticos, morais e religiosos. Teve como seu secretário durante 20 anos um homem que era comunista velado, mas inteligente, trabalhador, íntegro e leal: o historiador autodidata João Santos. Um Dom Camilo e um Peppone tropicais, à revelia das pressões e circunstâncias externas.

Em 2002, indo se tratar de um câncer fatal na sua terra, em Chicago, sabendo que a morte já o espreitava, fez um pedido final: queria ser enterrado em Santarém. Seu túmulo está sob as pedras da catedral de Nossa Senhora da Conceição, a padroeira de Santarém. Só quem não conhece a sua história pode imaginá-lo, à distância, como um espião da CIA infiltrado ocasionalmente na remota Amazônia. É apenas um dos delírios de uma geopolítica febril.