segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Futebol (1) – Loterias

Antenor Pereira Giovannini
Aposentado, apaixonado por futebol e morador em Santarém
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Que o futebol é uma paixão ninguém discute, mas, quando o assunto é o próprio às discussões crescem em demasia.
Foi-se o tempo quando esse esporte era apenas uma competição envolvendo equipes com 11 jogadores, alguns reservas, uma bola, um uniforme e mais nada. Tempos da bola de capotão que para conservá-la passava-se sebo adquirido no açougue e assim poder usá-la no próximo jogo. Velhos tempos. Era um esporte quase profissional sendo levado com amadorismo. E assim foi levado até meados dos anos 50.
Os tempos foram avançando e o esporte se modernizando e se profissionalizando.
E com essa profissionalização começaram a aparecer os oportunistas de plantão que durante décadas sob a ótica de fazer tudo pelo esporte, o usaram de todas as maneiras, inclusiva políticas, sugando dos clubes parte e até mesmo um todo de suas receitas.
Se antes era uma direção amadora, mas de certa forma pura em função ao esporte, a partir de então passou a ser uma direção profissional-amadora onde o clube passou a ser um elo oportunista em alçar outros objetivos aquém de conquistas de campeonatos e títulos.
A essência mais pura do esporte foi-se esvaziando com o tempo.
Clubes de imensas torcidas dirigidos por anos seguidos por uma mesma pessoa ou mesmo por pessoas com mesmo perfil e interesse dos seus sucessores, fazendo com que a cada final de ano, dívidas enormes se formavam em suas contabilidades e se por acaso o clube houvesse conquistado algum título, taça, essa dívida era aceita como necessária.
A paixão, o gosto, a torcida por parte dos simpatizantes foram sempre persistindo a essas mudanças, mas o esporte em si foi sendo deixado de lado à questão competitiva para se tornar um grande comércio.
Com a mudança nas leis de negociações de atletas profissionais essa questão de comércio ficou mais evidenciada uma vez que afora a figura dos dirigentes esportivos de setores diversos dentro dos clubes, surgiu a figura do chamado representante do atleta ou empresário, dando a esse esporte chamado futebol, uma complexidade comercial jamais vista em outros segmentos, onde, principalmente, os clubes passaram a ficar reféns desses profissionais, que amparados pela lei, possuem nas mãos os destinos de vários deles.
Com isso a velha contabilidade dos clubes estourou.
Num país onde é complicado se viver tão somente de arrecadação de bilheterias, onde o direito da arena é dividido entre atletas e participantes do bolo, as receitas foram se estreitando e a grande maioria se encontra endividada. E muito endividada.
O torcedor fiel ao seu amor ao clube fez e continua fazendo sua parte, mas por outro lado os dirigentes de há muito deixaram de fazer e as conseqüências se tornaram tão reais que hoje nossa seleção principal é formada 100% por atletas que atuam no exterior, sendo que por muitos e muitos anos, mesmo conquistando campeonatos mundiais, era formada por atletas atuando em nosso país.
E para endossar essa falta de competência administrativa, fraudulenta, corrompida de anos e anos seguidos, aonde milhões e milhões de reais foram deixados de serem recolhidos ao INSS, por exemplo, o Governo ao invés de punir os responsáveis por todas essas falcatruas, ainda os premia com a aprovação de uma loteria a chamada “timemania”. Ou seja, toda essa baderna administrativa realizada nos cofres dos clubes será paga pelos próprios torcedores que assim o desejarem ao aderirem a mais um entre tantos jogos oficiais criados para tirarem dinheiro do povo, sempre sob a ilusão de ficar rico a qualquer custo.
Talvez os torcedores mais afoitos endossem essa idéia, porque certamente se os clubes forem penalizadas os prejuízos dentro do campo esportivo poderão ser maiores e compromete a sua continuidade.
Mas porque os clubes conseguem essa ajuda tão substancial e o contribuinte não?
Vamos todos os inadimplentes de algum órgão governamental se unir e propor ao Governo que não temos condições de pagar, mas se houvesse uma loteriazinha para nos ajudar quem sabe em poucos anos quitaríamos nosso débito. Porque não? O que nos difere dos clubes além deles serem pessoas jurídicas e nos física? As leis não são iguais perante a Constituição para todos? Por quê o povo tem que arcar com administrações imorais e corruptas de vários e vários dirigentes sem que nenhum deles pague/devolva dinheiro de sua incompetência administrativa, como seria em qualquer país sério do mundo? Por quê os clubes não são penalizados a jogarem em divisões inferiores ou até mesmo suspensos de atuarem até que se conscientize que se hoje o esporte sendo um comércio, necessitando ser uma empresa com receitas e despesas, com projeções e objetivos, que não coloquem pessoas sérias, comprometidas, capazes de buscarem reverter à situação? Pobre futebol brasileiro.

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