Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós
Se viva fosse, Simone de Beauvoir teria completado um século no mês passado. Minha geração conheceu a companheira de Jean-Paul Sartre como símbolo do feminismo então engatinhante. No entanto, sua imagem nos era apresentada com o degradável perfil de uma matrona, uma mulher desapegada da vaidade feminina e resignada a ser a partner decorativa do grande filósofo.
Seus romances consolidavam essa idéia. Mas quando começamos a ler seus diários e suas descrições da vida com Sartre, descobrimos sua sutileza, sensibilidade, inteligência e acuidade. Se não era mais profunda, era mais agradável do que o "pai" do existencialismo (na verdade, tio). Poucos escritores deram aos detalhes o encanto que têm nos escritos de madame Beauvoir. Podemos seguir horas pelo seu texto sem nos preocupar da relevância do que ela diz. Fica-se encantado pelo modo como diz, pela capacidade de ver de maneira inteiramente pessoal - e nova - o que nos passaria despercebido. Só uns anos atrás pudemos dar valor também à beleza física de Simone, quando revelada uma maravilhosa foto que dela foi feita secretamente, quando visitava Nelson Algren, seu amante americano em Nova York.
Uma das fotografias mais sensuais e, ao mesmo tempo, mais respeitosas de um corpo nu que já vi. Quem mereceu esse tratamento excepcional merece nossa admiração eterna, realçada neste primeiro centenário de uma escritora com tutano suficiente para durar muito mais tempo.
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