Paulo Cal
Articulista de O Estado do Tapajós
Sucessivas décadas de negligência do Brasil como Nação, em relação ao Estado do Pará, talvez possa explicar o acirramento de nossa visão dualística em relação às políticas e projetos que nos são impostos, de cima, goela abaixo, pela Companhia Vale do Rio Doce, hoje simplesmente Vale, tendo sempre o respaldo do Governo Federal. Desta forma, além da díade de perspectivas, primeiro a da cultura e depois do meio ambiente, podemos hoje, seguramente, agregar o enfoque das manifestações específicas do amor humano pelo lugar onde nascemos.
Não é nenhum paraensismo bobo, é a consciência coletiva de um povo que agora é capaz de dizer: chega, basta ... nós queremos conhecer o outro lado da moeda! Nós queremos que sejam sinceros e honestos para com o povo do Pará! Chega de mentiras! Nós queremos que paguem pelo menos o que, de direito, nos devem - os justos impostos!
Nós sabemos como esta empresa surgiu e como ela cresceu e se desenvolveu, pois esta empresa era nossa, dos contribuintes anônimos desta Nação. Ela não foi construída pelas famílias dos senhores Benjamim Steinbuch ou do Roger Agnelli (só para citar os últimos), mas com o sangue e o suor dos cidadãos comuns deste país. Lembram! Era uma empresa pública! Sabemos que hoje ela é uma empresa privada. Até discutimos, ainda hoje, a forma, o preço (pouco mais de 2,20% do capital hoje declarado - U$3,2 bilhões o preço pago e, U$140 bilhões o valor do controle acionário) - assim como a origem da soma de capitais reunidos no lance de sua privatização no vergonhoso governo FHC. Para nós, paraenses, tudo ainda constitui matéria escusa, nunca esclarecida, nunca explicada para nós contribuintes.
Segundo o Jornal Pessoal (Nº411): "Quando a mina de Carajás começou a produzir, em 1984, o rico minério de Carajás valia 15 dólares a tonelada". "Hoje, o rico minério de Carajás embarca no porto da Ponta da Madeira, em São Luís do Maranhão, a 50 dólares, mas chega à China (nosso maior comprador) por 140. O frete marítimo de 90 dólares é quase o dobro do valor de produção do minério e do frete terrestre, para transportá-lo pelos quase 900 quilômetros da ferrovia Carajás". Nem ICMS a Vale paga, pois foi poupada pela famigerada Lei Kandir que desonera os exportadores de matérias primas e produtos semi-elaborados. Em 2006 a Vale comprou a canadense Inco por 19 bilhões de dólares - o maior negócio já feito por uma empresa da América do Sul - e está se preparando, em 2008, para comprar por 80 ou 90 bilhões de dólares a empresa anglo - suíça Xstrata, a quinta maior mineradora do mundo, com ativos em cobre, níquel e carvão. O resultado da união Vale e Xstrata alcançaria um valor de mercado próximo de 200 bilhões de dólares, tornando-se a maior mineradora do mundo.
Os jornais desta semana (terça-feira) anunciaram feito inédito, o reajuste de 65% no preço do minério fechado entre a Vale e um grupo de siderúrgicas - sendo de até 71% de reajuste diferenciado para o minério fino de Carajás - o que deve garantir à empresa, segundo analistas, um maior poder de fogo nas negociações para a compra da anglo - suíça Xstrata.
Agora, neste momento, a Vale diz que vai investir numa Siderúrgica no Estado do Pará. Para tanto exige contrapartida oficial na conclusão das Eclusas de Tucuruí concretizando a hidrovia Araguaia-Tocantins e, imagine, a construção do Porto do Espadarte na ilha de Romana em Curuçá, e 140 km de Belém com calado de 25 metros, o maior da América Latina, em que navios com mais de 300 mil toneladas poderão atracar. Isto tudo sem contar estradas, pontes e outras infra-estruturas necessárias. Assim, também, até a vovó investiria em qualquer coisa ... Uma nova mentira para enganar os trouxas paraenses!
Para nós paraenses o que poderia ser uma fonte de riqueza o que se percebe é que, a cada dia, é somente uma forma de pobreza. A cada dia que passa, a política da Vale é clara em relação ao Estado do Pará: levam o minério e deixam aqui um buraco e, banana, muita banana para os macacos burros e incultos! O resto é só mentira.
O pior é que tem "gente" que acredita na Vale!
Pobre gente!
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