De acordo com o pesquisador titular do Departamento de Ecologia do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Philip Fearnside, as rodovias causam grandes impactos sociais e ambientais na Amazônia e podem dificultar tentativas de controlar o desmatamento. Apesar de o governo federal considerá-las prioridades pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o pesquisador pondera que as rodovias geram problemas não apenas do ponto de vista ambiental como também econômico e social.
As estradas em questão são as BRs 230, 163 e 319. A BR-230 ficou conhecida como Transamazônica e foi criada na década de 1970 com o objetivo de ocupar e colonizar a Amazônia. A BR-163 liga Cuiabá, no Mato Grosso, a Santarém (PA) e é utilizada principalmente para o escoamento da produção de soja. Atualmente ela permanece transitável, exceto no período de chuvas. A mais polêmica, entretanto, é a BR-319, que liga Manaus, no Amazonas, a Porto Velho, em Rondônia. Essa rodovia está abandonada há mais de 20 anos e a obra de pavimentação representa na prática uma re-abertura da estrada. Segundo Fearnside, as estradas permitem abertura de áreas da Amazônia que estão inacessíveis hoje e promove uma migração dos focos de desmatamento.
'Muitas regiões não estão preparadas para esse tipo de empreendimento. O desmatamento se espalhará por estradas laterais, de acesso, sem controle nenhum', explica. A pavimentação das rodovias trará, além do desmatamento, a grilagem, os problemas sociais e o conflito de terra numa região que ainda não apresenta esse tipo de problema. Além disso, a rodovia pode ampliar os problemas urbanos em Manaus. A cidade é a mais rica da região Norte e a terceira no país em renda per capita. Com a pavimentação da BR-319, que já está sendo feita, o município poderá passar por um crescimento populacional maior do que a é capaz de atender.
Para exemplificar o impacto demográfico que a estrada vai gerar em Manaus, Fearnside explica o caso da construção das Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira. 'Com as novas usinas, mais de 100 mil pessoas chegarão a Porto Velho. Ao término da obra, a cidade não terá como acolher essa população. Se a rodovia estiver pavimentada, toda essa população vai para Manaus, ao invés de se espalhar novamente pela região', explica. (Amazonia.org)
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