Simone de Beauvoir”, já não era tão jovem quando visitou o Brasil. A viagem começou em 12 de agosto de 1960 no Recife e só terminou no final de outubro.
Simone tinha 52 anos e havia publicado há mais de uma década O segundo sexo, sua obra mais importante, onde denuncia pela primeira vez as raízes históricas da exploração feminina. Ela e o marido, Jean-Paul Sartre, acabavam de passar por Cuba e queriam incendiar os brasileiros com as idéias revolucionárias de Fidel Castro. Ficaram quase dois meses no país e cumpriram um roteiro nada usual.
Conheceram o sertão nordestino, visitaram plantações de cacau e fumo na Bahia, subiram favelas cariocas, enfrentaram a solidão amazônica e atravessaram o cerrado até chegar a Brasília.
A passagem da maior feminista da História pelo Brasil foi solenemente ignorada pela imprensa da época. “Sartre levou uma multidão para ouvir Simone de Beauvoir”, estampou a Última Hora, matutino de Samuel Wainer.
Para os jornais de então, Simone era a acompanhante de Jean-Paul Sartre, o papa do existencialismo. Os convites eram para ele, ela os recebia só por extensão.
O Correio registrou, em 22 de agosto, a passagem do casal pela cidade. A reportagem ganhou o título “Sartre: Brasília, um exemplo de progresso”. A reportagem fala da visita do casal ao presidente JK, mas não cita as observações de Simone sobre a cidade. Tampouco as conferências da autora no Brasil foram eternizadas em livro, ao contrário do que se passou com as palavras do marido.
No dia 25 de agosto, menos de 24 horas depois de seu desembarque no Rio, Simone fez sua primeira conferência. O auditório da Faculdade Nacional de Filosofia, atual UFRJ, estava cheio. Na mesa, ao lado da filósofa, os professores Alvim Correia e Eremildo Viana faziam as vezes de anfitriões. Simone falou por duas horas, em francês e sem tradução, sobre seu livro O segundo sexo, espécie de Bíblia do feminismo, publicado em 1949.
“A independência da mulher, através de seu próprio trabalho, é o que devemos pretender”, disse, emendando que isso só não bastava, e que a emancipação feminina real dependia de mudanças sociais profundas. Falava com seriedade, mas com senso de humor. “O interessante seria a esposa tirar férias. De casa, do marido, dos filhos.”
A platéia aplaudiu de pé a conferência que, no dia seguinte, mereceu críticas veladas dos jornais. Ao fim de sua temporada brasileira, Simone foi vítima do mesmo preconceito cultural sobre o qual escrevia. “O Brasil não estava preparado para ela”, analisa Luís Antonio Contatori.
(Correio Brazilense)
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