Paulo Bemerguy
A providência do promotor militar Armando Teixeira Brasil, de pedir informações ao diretor de Recursos Financeiros da Polícia Militar sobre os atrasos no pagamento de diárias, conforme postagens várias que tiveram destaque aqui no blog nos últimos dias, é das mais salutares. E o Ministério Público deve se manter vigilante sobre esse assunto, para que a PM não venha a eximir-se da obrigação de prestar as informações solicitadas.
Policiais militares, não é de hoje, são vítimas de estigmas que crescem na mesma medida em que a corporação se vê numa situação de desfavorecimento em relação, inclusive, a conceitos correntes perante boa parte da sociedade, destinatária da proteção dos aparelhos de segurança do Estado.
Pois a sociedade, em vários de seus segmentos, mostra-se tendente a ver no policial um relapso, alguém conivente com desvio de condutas éticas deploráveis, um servidor público que se mostra exímio em meter o pé na porta para invadir residências de madrugada, sem o amparo de ordens judiciais. Tende a ver no policial, enfim, um servidor público agressivo que, em vez de inspirar respeito, inspira temores.
Essa, repita-se, é uma visão estigmatizante. Policiais bandidos e que não merecem vestir a farda que vestem são como jornalistas aos quais faltam caráter e qualidades mínimas para exercer a profissão. Da mesma forma como há maus policiais, há maus advogados, maus juízes, maus promotores, maus médicos e maus professores.
Os depoimentos postados no blog (aqui e aqui) devem servir como referência que policiais são trabalhadores, têm famílias, têm obrigações financeiras a cumprir, são presas de sentimentos de afeto por familiares dos quais ficam distantes. Policiais são integrantes de carreira típica de Estado. E se expõem – ao contrário dos que vivem em gabinetes com clima de montanha – a riscos de toda ordem, num ambiente em que o banditismo se arma, coleciona munição da melhor espécie e põe em prática a audácia desmedida, tudo isso em confronto com policiais sem meios adequados para enfrentá-los.
O governo do Estado, que se elegeu no ano passado, elegeu-se por um partido de trabalhadores. Deveria, por isso, dar preponderância a questões graves como essa, que envolve trabalhadores. A menos que o governo do Estado tenha incorporado estigmas deploráveis, capazes de colocar os policiais militares no limbo do esquecimento, do desprezo e do desrespeito a seus direitos.
Enquanto a negação de direitos básicos aos PMs perdurar – como é o caso da justa remuneração -, será difícil o governo do Estado negar que não comunga de visões discriminatórias – e por isso repulsivas – em relação aos policiais militares. Não a todos, evidentemente, mas aos que estão na linha de frente e que deveriam, por isso, ser melhor distinguidos.
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