Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal
É de admirar o potencial humano da Universidade Federal do Pará e sua baixa significação para a população do Estado no qual funciona. A UFPA é a segunda maior do país em número de alunos. Seu quadro docente exibe uma expressiva quantidade de mestres e doutores, com qualificação feita em centros de formação de conceito no país e fora dele. Há crescente atividade de pesquisa dentro do campus. Os cursos de graduação e pós-graduação se multiplicam e se aprimoram. Mas o que sai do mundo acadêmico para a vida social é pequeno e, na maioria das vezes, em descompasso com as necessidades da população. Sai defasado no tempo e deslocado no espaço.
Penso numa maneira de estreitar e intensificar o diálogo entre a UFPA, a maior instituição do ensino superior na Amazônia, e a comunidade (sob o foco da realidade): a criação de um plantão do conhecimento. Diariamente, um grupo de professores e pesquisadores da universidade se revezaria num plantão para atender as demandas da sociedade e, ao mesmo tempo, tomar a iniciativa de propor-lhe questões de vanguarda. Essa equipe ficaria numa sala com computadores e telefones de acesso gratuito aos interessados para atender consultas. Ao mesmo tempo, a assessoria de comunicação da UFPA estabeleceria ligação com a imprensa, oferecendo-lhe esse serviço de informação, intermediando as relações entre os docentes e os jornalistas.
Cada plantão seria definido pela especialização dos seus integrantes. Num dia, por exemplo, estariam disponíveis professores e pesquisadores de ciência política. No outro, de biologia. Mas haveria também plantões multidisciplinares. O atendimento podia ser individual ou coletivo, através de teleconferências, que seriam montadas conforme as circunstâncias. Um acidente, como o vazamento de caulim em Barcarena, levaria à organização de um plantão temático para esclarecer e problematizar em cima desse fato.
Seria uma espécie de “gabinete da crise” (produto que não falta no mercado amazônico), com o objetivo de confrontar o conhecimento organizado e sistematizado de uma universidade com a dinâmica da realidade de uma região carente de informações, como a Amazônia. Periodicamente a opinião pública se sente desorientada diante de acontecimentos que a surpreendem ou que não consegue entender. Outro exemplo: no dia em que a Companhia Vale do Rio Doce anunciou a instalação da primeira siderúrgica de grande porte no Pará, o plantão seria multidisciplinar (engenheiros, sociólogos, economistas, geólogos) para analisar o significado desse fato.
As sessões do plantão, que podia durar quatro horas diariamente, seriam gravadas e transcritas, formando um banco de dados, plenamente acessível através de um site específico com esse fim na internet. A universidade proporia à TV Cultura e à TV Unama que retransmitissem um sumário dos encontros dos professores com seus interlocutores, cujas visitas seriam previamente acertadas, seguindo uma agenda temática. Os participantes do plantão receberiam uma gratificação por sua atuação, que renderia ainda créditos em currículo. Funcionaria também como uma avaliação do corpo docente da universidade, aferindo a capacidade de cada profissional de responder aos desafios na sua área do conhecimento.
Espero que valha a pena pensar na sugestão. Assim, a universidade mostraria o seu valor e conquistaria o respeito dos cidadãos, que são os responsáveis por sua manutenção. A região, penhorada, agradeceria por poder ajustar a sua agenda diária ao ritmo da história. Numa região colonial, o descompasso entre os acontecimentos cotidianos e sua compreensão é a principal causa da condição colonial, que é justamente a nossa. Mas não está escrito nas estrelas que necessariamente seja assim. Os astrônomos da UFPA poderiam mostrar que não é assim, dispondo-se, como lhes propõe esta idéia, a enfrentar os desafios de uma dinâmica refratária à rigidez esquemática do conhecimento universitário isolado nas torres de marfim do campus.
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