Economistas de Lula acham que é melhor reajustar já a gasolina e o diesel, "uns 10%"; governo pode intervir no arroz
Um integrante de peso da área econômica do governo discorda da idéia de que o governo deva adiar para depois das eleições o aumento do preço da gasolina e do diesel. Este colunista escreveu ontem que gentes do governo, mas que não integram os ministérios econômicos, não queriam ouvir falar em aumento da gasolina, embora reconhecessem pressões internas e externas para fazê-lo já. Esse economista graduado do governo, que prefere não se identificar para "não personalizar o debate nem criar polêmica", diz que o "mal da inflação já está feito, para este ano", assim como o da alta de juros. Os preços em geral tenderiam a cair a partir do final de 2008; a idéia de reajustar já os combustíveis ajudaria a "deixar a inflação de 2009 limpa do aumento da gasolina".
O economista avalia ainda que o reajuste imediato de "uns 10%, 15%" (para a gasolina) não teria tanto peso assim no índice de inflação (em março, a gasolina tinha peso de 4,3% no IPCA. O diesel, 0,08%; a tarifa de ônibus urbano, 3,8%). Para o público, o aumento teria impacto diluído, dada a alternativa do álcool, e o preço do combustível na bomba não afeta o "povão".
E o aumento do ônibus que seria reivindicado em seguida, caso o diesel subisse também? O economista retruca que o "repasse não é imediato nem integral e viria num momento mais calmo para os preços". O caso é de "polêmica" no governo? Não, segundo o economista, não, pois a discussão do assunto ainda "não está bem estruturada", nas palavras dele.
Arroz com gás
Na onda da proteção mundial aos estoques nacionais de comida, o governo parece que vai sustar a exportação de arroz dos estoques que controla. Amanhã, deve "solicitar" às empresas que evitem vender o produto ao exterior. Ao contrário do que imaginavam os mais otimistas, este colunista inclusive, o preço da comida passou a subir mais.
Algumas disparadas, como a de leite e derivados, arrefeceram, mas a carestia da mesa do brasileiro comum ficou algo mais generalizada. Pãozinho, macarrão, frango e ovos subiram na casa dos 11% a 15% nos últimos 12 meses. A inflação geral do grupo alimentos está em 11% no período, contra um IPCA de 4,7%. Os preços dos feijões cresceram mais de 100%. O arroz ainda está em 7% nos últimos 12 meses. O preço alto dos grãos pelo mundo fez até o Brasil começar a exportar milho.
O arroz pode ir pelo mesmo caminho. Mas o repasse dos preços mundiais para o mercado brasileiro é pequeno, ainda mais se comparado à crise do arroz na Ásia e à do milho na África. É claro que, numa situação de mercado ainda mais disparatada do que de hábito, alguma prudência em relação a estoques pode ser razoável. Porém, como fica claro no caso do feijão, ou como no caso do leite no ano passado, o problema nos preços muitas vezes não tem conexão direta com a escassez mundial.
Estudar problemas localizados de oferta, como o de produtividade (caso do leite), poderia ajudar a evitar soluções como a de controles rígidos do mercado, medidas que no médio prazo costumam dar em confusão, ineficiência e desestímulo ao produtor.
(Fonte:Folha de São Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário