Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal
As duas principais revistas de reportagem em circulação no Brasil são Brasileiros e Rolling Stone. RS é a que tem mais “pegada”, como se diz no boxe, porque Brasileiros se preocupa mais com a individualidade dos personagens e o enfoque positivo das questões, mais narrativa do que problematizadora. RS, mesmo dedicando a parte maior de suas páginas à música, sobretudo ao rock e derivados, tem bom espaço para longas reportagens bem escritas, mais críticas, no melhor exercício de jornalismo.
Por isso, fiquei agradavelmente surpreso ao encontrar, na última edição, a de número 19, uma resenha sobre meu livro Contra o Poder. O próprio editor da revista, Ricardo Franca Cruz, assumiu a tarefa de avaliar o livro, dedicando-lhe o maior espaço da seção, reproduzindo a foto que ilustrou matéria a meu respeito no número 5 (escrita por André Vieira) e dando o conceito excelente, com quatro estrelas (só os clássicos podem receber cinco estrelas).
Mas não se trata de hagiografia, muito pelo contrário, nem de ação entre amigos. Por isso, reproduzo o que Ricardo (a quem não conheço pessoalmente) escreveu:
Há 20 anos o jornalista e sociólogo paraense Lúcio Flávio Pinto se lançou em uma luta independente contra as mazelas sociais, políticas, econômicas e ambientais dos diversos cantos da Amazônia. A luta mostrou-se difícil, por vezes quase impossível, e tornou-se – apesar de exemplo de, mais que ética jornalística, conduta humana – solitária e ingrata. Lúcio Flávio, hoje com 58 anos, e seu totalmente independente Jornal Pessoal, que ele faz desde 1987, à unha, sozinho, sem publicidade – contando apenas com as charges do irmão, Luiz Antônio – não são exatamente adorados pela poderosa elite do Norte brasileiro. Com uma tiragem quinzenal que beira os 2 mil exemplares, o tablóide tem os dois primeiros anos de existência sintetizados em Contra o Poder.
A Jader Barbalho, político de olhar desafiador, o autor dedica um capítulo, analisando de perto a trajetória de um dos maiores e mais obscuros líderes do Pará. O assassinato do advogado “defensor de posseiros em conflitos fundiários” e ex-deputado estadual pelo PMDB, “embora fosse pública sua vinculação ao PC do B”, Paulo Fonteles, é esmiuçado, permitindo ao leitor acompanhar como o repórter revelou todas as camadas da sujeira que escondia as verdadeiras causas.
Os adversários dizem que Lúcio Flávio é vaidoso, arrogante, e que o JP é apenas um instrumento para exercitar seu ego. Mas é fortalecer a sociedade, municiando-a com as informações para o entendimento da Amazônia e do país, a busca maior desse jornalista, que sabe que seu JP é para e contra as elites e, a certa altura do livro, afirma: “Quando a sociedade é fraca, o poder – político ou econômico – é desmesuradamente forte”.
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