quinta-feira, 17 de abril de 2008

Denúncia de bispo sobre prostituição nos rios já foi feita por O Estado do Tapajós em 2006


Gisele de Freitas
Repórter

A denúncia feita esta semana pelo Bispo do Marajó Dom José Luis Azcona, de que meninas e meninos se prostituem em balsas ao longo do rio Amazonas em troca de comida já havia sido publicada por O Estado do Tapajós em novembro de 2006. A matéria veiculada na época revela que além de comida a prostituição ocorre em troca de óleo diesel, produto de valor para as comunidades ribeirinhas, onde vive a maior parte das crianças e adolescentes exploradas sexualmente. Muitas destas balsas saem de Santarém com destino a outras localidades.
O bispo denunciou que jovens entre 12 e 16 anos aproveitam o percurso das embarcações e trocam sexo por comida.O bispo citou as cidades de Breves, Portel e Melgaço como os principais pontos da prostituição infantil e acusou as autoridades paraenses de total omissão. Para Azcona, após denúncias em 2006 alguns órgãos estaduais estiveram no local para fazer investigação, mas o caso caiu novamente em esquecimento. Ele também denunciou o tráfico de mulheres do Marajó para outros países, principalmente Guiana Francesa. O bispo citou um caso em que 178 mulheres foram levadas do país como escravas, destas 52 eram de Breves, sendo que alguns traficantes foram presos e libertos pouco tempo depois por seis advogados. Para ele, a impunidade dos traficantes é o grande motivador dos abusos humanos.
No ano de 2006 a denúncia era de que meninas e mulheres trocavam algumas horas de sexo com caminhoneiros e operadores de balsas por óleo diesel, que é usado como dinheiro. Na época, um caminhoneiro decidiu contar à reportagem de O Estado do Tapajós como funciona o esquema de prostituição que envolve menores nas balsas que transportam cargas e veículos no rio Amazonas, relatando como alguns moradores das regiões ribeirinhas levam as próprias filhas e mulheres para se prostituírem nas balsas.
O caminheiro, que nesta reportagem teve o nome fictício de João, para ter sua identidade resguardada, disse que fez várias viagens de balsa pelo rio Amazonas, no trajeto Santarém-Belém e Belém-Santarém e que presenciou cenas de prostituição infantil. "Isso é tão comum nas balsas que as pessoas nem ligam mais, tratam com naturalidade", revela o motorista confirmando que na maioria dos casos algumas horas de sexo valem poucos litros de óleo diesel.
A prostituição acontece muitas vezes quando as balsas param nos portos das cidades ribeirinhas entre Santarém e Belém, principalmente em Porto de Moz, depois de da foz do rio Xingu. O caminhoneiro relatou que na maioria das vezes a prostituição ocorre em plena viagem, no meio do rio. As mulheres seriam levadas até as balsas por pequenas embarcações que permanecem atracadas enquanto a prostituição ocorre. O motorista revelou que as meninas descem chegam às balsas se oferecendo em troca de óleo diesel, usado nas embarcações, motores de energia e também trocado por comida. Uma hora com uma mulher custava entre 20 e 30 litros de óleo. "Muitos caminhoneiros retiram o óleo do próprio caminhão para pagarem pelo sexo" revelou.
João lembrou um caso de que o marido levou a esposa na balsa e ficou esperando no barco enquanto a mesma estava com os homens, quando o serviço terminou, ambos saíram felizes com a quantidade de óleo que haviam conseguido. Ele contou que havia casos dos pais levando as filhas, muitas delas menores de idade. "Eu não perguntei a idade, mas dava para ver pelo rosto" relatou o caminhoneiro que garantiu nunca ter ficado com nenhuma mulher nas balsas.
POBREZA - A extrema pobreza em que vive a população ribeirinha da região é o principal motivo que leva à prostituição. As cidades localizadas as margens do Amazonas não contam com muitas oportunidades. Os moradores vivem basicamente da pesca e extrativismo. Nas comunidades rurais o problema é ainda maior em função do isolamento e total falta de condições básicas em que vivem os ribeirinhos. A falta de fiscalização também contribui com o trabalho de pessoas que vivem como agenciadores de menores. O caminhoneiro conta que já viu casos de meninas que fugiram de casa pegando carona nas balsas.
(Foto: Cadu Gomes/Correio Braziliense)

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