Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajos
No final de março a diretoria da Eletronorte (Centrais Elétricas do Norte do Brasil) decidiu encaminhar à CEB (Centrais Elétricas de Brasília) proposta para a compra, por 61 milhões de reais, de um prédio daquela empresa localizado no SGAS, quadra 904, em Brasília. Nesse prédio seria instalada a sede própria da Eletronorte, que funciona atualmente em um prédio alugado no edifício Venâncio 3000, na capital federal. A decisão contou com o apoio do Sindicato dos Eletricitários de Brasília, que defendeu os empregos dos mil empregados da Eletronorte que atuam no DF. Os nove sindicatos de eletricitários estabelecidos nos Estados da Amazônia não foram consultados. Nem a opinião pública amazônica.
A decisão foi tomada em surdina e açodadamente. A Eletronorte a adota na contramão dos acontecimentos, exatamente quando a Eletrobrás, da qual é subsidiária, evolui para a unificação, a exemplo da Petrobrás. A estatal do petróleo, aliás, montou sua sede, em 1954, na então capital federal, mas não se mudou para Brasília quando para lá se transferiu o distrito federal. Felizmente continuou no Rio de Janeiro, onde se acham os maiores campos de óleo do país.
A Eletronorte foi criada no auge do regime militar, em 1973, não por acaso quando aconteceu o primeiro choque do petróleo (e da energia como um todo). Seu primeiro presidente foi um coronel da reserva do Exército. Raul Garcia Llano era um técnico e uma pessoa afável, mas incorporou e repassou o espírito autoritário e arrogante que seria uma das marcas da estatal. A Eletronorte tinha que ficar ao lado do poder central para poder executar melhor sua estratégia e ouvir as ordens com clareza para ditá-las em seguida. Não importava que em Brasília ela não produzisse um só kW e Goiás, a base física da capital federal, se encontrasse fora da jurisdição da empresa.
A intransigência locacional, nascida durante a fase de exceção, se manteria a mesma ao longo do período democrático. Manteve-se indiferente aos fortes argumentos de que era a única empresa do grupo Eletrobrás a ter sua sede em Brasília, fora da área da sua competência legal. Agora a atitude foi além da intolerância: consumou a distorção. Ou pelo menos pretende apresentá-la como fato consumado, quando exibir sua sede definitiva.
Por amarga ironia, o projeto da nova sede foi conduzido por dois paraenses, o (ainda) presidente, Carlos Nascimento, e o diretor, Manoel Santana Ribeiro, colocados nos cargos por indicação do político paraense de maior influência junto ao governo federal, o deputado Jader Barbalho. Conseguirão eles perpetrar essa traição aos legítimos interesses do Pará e da Amazônia, de fazer a Eletronorte se instalar na região onde produz e distribui energia?
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