terça-feira, 22 de abril de 2008

Memória de Santarém - Por Lúcio Flávio Pinto


1959

Eleição senatorial

Lobão da Silveira, tendo o ministro da Saúde, Mário Pinotti, como suplente, recebeu 3.324 votos em Santarém na primeira eleição, de 21 de junho de 1959, para uma das duas vagas colocadas em disputa para o Senado (a outra seria definida na eleição de 3 de outubro), contra 2.653 votos dados a Janary Nunes. Ganhou tanto na cidade (1.780 votos contra 1.112) quanto, por margem bem menor, no interior (1.544 a 1.523), onde era mais forte a presença da prefeitura, que apoiava o político amapaense.
As seções eleitorais da cidade funcionavam na sede da prefeitura, Escola de Comércio, São Francisco, Casa Cristo Rei, Teatro Vitória, Instituto Batista, Sociedade Artística, Centro Recreativo e nos grupo escolares Frei Ambrósio, Barão de Tapajós, Magalhães Barata, Ezeriel Matos e Barão de Santarém. No interior: Belterra, Colônia São José, Vila Curuai, Vila de Boim, Aritapera, Aramanaí, Arapixuna, Alter do Chão, Guajará, Colônia São Braz, Barreira do Tapará, Vila do Socorro, Tauarí, São Pedro-Arapiuns, Vila Franca-Arapiuns, Mojuí dos Campos, Água Preta, Piraquara, Mojú, Colônia São José e Colônia do Tapará.

Frustração em Belterra

Enquanto essa homenagem acontecia em Santarém, o candidato a senador Janary Nunes, ex-governador do Amapá, ia em comitiva a Belterra, a 50 quilômetros de distância, para um comício, em maio de 1959. "Chegou de surpresa, mas esperava foguetes, povaréu e banda de música", relatou O Jornal de Santarém.
Apenas 30 pessoas, além dos acompanhantes do político (incluindo o prefeito Ubaldo Corrêa e Lopo de Castro, prefeito de Belém, mais o deputado Cléo Bernardo), participaram do encontro. É que, na mesma ocasião, "os padres haviam preparado, com grande antecedência, uma festa religiosa, para onde afluiu quase toda a população de Belterra".
Diz o jornal que Janary Nunes "foi logo implicando com a cancela que controla os carros que entram" no Estabelecimento Rural do Tapajós, o empreendimento do governo federal que sucedeu, em 1945, o Projeto Ford, do milionário americano Henry Ford.
"Quando soube que as pessoas que se aglomeravam no arraial não estavam ali para recebê-lo, reclamou contra os padres e culpou o Bispo por não ter transferido a festa religiosa. Quando ingressou na praça - escura, sem iluminação especial, o que acontece de costume com os comícios de todos os partidos - pensou que se tratava de perseguição por parte do Professor Abenor [Abnor Gondim, diretor de Belterra], o qual levou o caso ao conhecimento do Bispo", registrou ainda o jornal.
Vendo o reduzido número de pessoas à sua frente ("trazidas do Moju pelo Belarmino" Paiva), o político amapaense "não se conteve e transbordou-se em acusações, queixas, calúnias e lamúrias", segundo o relato jornalístico.
Janary prometeu inquéritos contra o Estabelecimento Rural do Tapajós e a SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, antecessora da Sudam), e demissões, que pediria ao presidente da república, do qual se declarava íntimo, tratando-o de "Juscelino". Entre os alvos de sua ira estava Elias Pinto, "ao qual prometera demissão da SPVEA logo que assumisse 'sua' cadeira no Senado".
Mas acabou sendo derrotado fragorosamente na região, inclusive em sua terra natal, Alenquer, onde era apoiado pelo também conterrâneo, Benedito Monteiro, líder do PTB na Assembléia Legislativa.

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