quarta-feira, 23 de abril de 2008

Memória de Santarém - Por Lúcio Flávio Pinto

1959

Tela panorâmica
O Cine-Olímpia exibiu, nas férias de julho de 1959, "Marcelino, Pão e Vinho", apresentado como "o maior filme da história do cinema". Quem foi ver, chorou um bocado. A propaganda sugeria ao cliente: "goze mais a vida indo mais vezes ao Cinema, assistindo os grandes filmes que o Cine-Olímpia está exibindo na sua gigantesca 'Tela Panorâmica'".

Automóveis à venda
Quem, mais velhinho, não se lembra do automóvel "Nash Super", de cor verde claro, chapa 1-09-64", de Lourival ("Lauri") Vanghon, que ia e vinha do velho aeroporto transportando cargas e passageiros, ou circulando maciamente pela cidade, com todo seu charme? Pois uma praça de 30 de julho de 1959 foi marcada para quem o arrematasse, a partir da avaliação de 40 mil cruzeiros, por conta de uma dívida do simpático Lauri com Elpídio Cruz Moura.
Aliás, muitos editais de praça foram publicados nessa época em execuções de dívidas.
E quem comprou o automóvel Studebaker Champion semi-novo que José Fernandes anunciou para venda, "por preço de ocasião", em 1959? Os interessados tiveram que tratar com o vendedor na "Rodagem 178".

Jornal do Arbelo
No dia 22 de agosto de 1959 Arbelo Campos Guimarães reassumiu a gerência de O Jornal de Santarém, da qual se afastara em 31 de janeiro, fazendo publicar uma declaração na primeira página: enquanto o semanário estivesse sob sua direção e gerência, "não publicarei nenhum artigo de ataque pessoal a quem quer que seja, sem que o autógrafo esteja assinado pelo responsável, com firma reconhecida, ou depois que o referido jornal esteja devidamente registrado em juízo". Com isso, considerava "bem claro que não assumirei nenhuma responsabilidade pelos conceitos que outros emitirem".
Conseqüência imediata da decisão editorial: desapareceram as colunas "O que dizem no café do povo" e "Ferroadas". Sem assinaturas, elas se dedicavam a dar estocadas, fazer comentários picantes e ataques políticos, em linguagem irônica e dura. Deviam ser as seções mais lidas do jornal, mas certamente eram também as que mais lhe criavam problemas, sobretudo comerciais.
Na reunião para eleger o novo presidente do diretório do PSD, em outubro, Custódio Santos atacou violentamente a nova orientação editorial, dizendo que Arbelo estava "amordaçado ou vendido ao prefeito" Ubaldo Corrêa. Não tendo respondido de imediato ("falamos baixo e o orador não tem audição perfeita"), o gerente do jornal publicou outra nota na primeira página para dizer que não iria se defender, deixando essa tarefa a todos que o conheciam, inclusive no partido.
Garantia que as colunas do jornal oficial do PSD estavam franquedas a Custódio Santos "para criticar, em quaisquer termos, qualquer autoridade, desde que os originais de seus artigos estejam devidamente assinados, ou assuma ele a responsabilidade do jornal, em juízo, nos termos da lei". O oferecimento era "extensivo a outro qualquer cidadão que deseje escrever pelas colunas do nosso semanário".
Voltava a ressalvar, porém, que enquanto estivesse na gerência da publicação, "sem que haja redator-chefe registrado em juízo, só revidaremos com todo o ardor de nossas convicções, insultos e ataques que forem dirigidos aos responsáveis pelo nosso Partido".

Nenhum comentário: