Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal
Outdoors espalhados pela cidade reproduzem a manchete de capa do jornal A Vanguarda, anunciando o apoio do presidente Lula à candidatura de José Priante a prefeito de Belém pelo PMDB. Trata-se de propaganda ilegal, realizada dois meses antes da temporada oficial? Essa é a questão, que tem sido suscitada, provocando controvérsias. Se o ex-deputado pagou pelos outdoors, a propaganda estaria caracterizada e ele pode vir a ser punido. Se quem custeou a peça publicitária foi o próprio jornal, não haveria ilícito.
Em qualquer hipótese, não há dúvida de que o maior interessado é Priante. A segunda possibilidade significa apenas uma engenhosa forma de driblar a lei, mesmo a contrariando. A manchete realmente saiu no jornal, que tem o direito de fazer sua propaganda. Mas se a publicação não passa de um tigre de papel e se por trás dela pode ser provada a autoria do ex-deputado, então a trama se revelará inútil e o golpe terá efeitos contrários ao pretendido. Mas que é sagaz, não há dúvida.
Se o expediente usado está além da sanção legal, outros pretendentes ao trono da capital podem recorrer à mesma manobra, claro. Mas teriam que dispor de um jornal, registrado, em funcionamento, preenchendo todas as exigências. Nessas condições, não há nada de condenável na iniciativa, que gera empregos, cria renda e favorece a difusão de informações. Democracia é praticada assim, no meio da diversidade, no entrechoque de posições e idéias, entre chuvas e trovoadas. Pode-se, nela, corrigir os excessos. O problema maior mesmo é a carência de democracia, que requer tratamento mais traumático e apresenta resultados mais demorados.
A Vanguarda é de propriedade de Luís Guilherme Barbalho, irmão do deputado Jader Barbalho. Parece ser impresso nas oficinas do Diário do Pará, que pertence ao ex-governador. Seria então nada mais do que uma extensão do controlador do PMDB? Não necessariamente. Luís Guilherme tem mais autonomia do que parece e Jader menos interferência do que a aparência sugere. Mas não há dúvida que começa a ser estruturada a campanha de José Priante à próxima eleição na capital.
Com o apoio de Lula? Retoricamente, sim. O PT não dispõe de nomes, neste momento, com densidade eleitoral para chegar à vitória. Mas muitos dos seus integrantes (e a esmagadora maioria dos seus militantes) preferem perder sozinho a ganhar em má companhia, segundo entendimento próprio.
O problema é que o PT não estaria no governo do Estado se disputasse sozinho (ou apenas com suas alianças ideológicas) em 2006. Jader Barbalho foi o patrono da vitória. Lula sabe disso, mais do que todos os petistas, por ter avalizado a aliança que Jader lhe propôs, com a inclusão de Priante na disputa, quando as possibilidades de vitória eram remotas. Foi um acerto por cima, que acabou sendo imposto goela abaixo – e deu certo. Poderá se repetir agora, contra a tradição petista de não honrar acordo amargo?
É o que se verá. Logo, logo.
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