quarta-feira, 28 de maio de 2008

O pescador de aviú e o grande causídico

Miguel Oliveira
Editor-Chefe

Antes de vir para o trabalho, segunda-feira, fui chamado à porta de minha casa por um conhecido vendedor de aviú, me oferecendo, como sempre, essa miniatura de crustáceo que só o nosso caboclo sabe apreciar seu requintado sabor.
Ao atravessar a rua, deparei-me, por acaso, com uma reluzente Hillux, prateada, novinha em folha. Logo o vidro da porta se abriu e de lá veio aquela voz inconfundível:
- E aí, Miguel, queres carona?
Como não dirijo carro, aceitei na hora a gentileza do advogado José Ronaldo Dias Campos, ele mesmo, de carne e osso, que acabara de fazer um pequeno rancho no mercadinho da esquina.
Ao ingressar no interior do veículo, desejei-lhe parabéns por ter adquirido aquela 'máquina'.
-Parabéns, Zé Ronaldo, pelo carro novo. Fico feliz com o sucesso dos meus amigos, afirmei para puxar conversa.
Mas Zé Ronaldo só fez sorrir e atalhou a conversa:
- Tenho lido tuas crônicas, disse o advogado.
Antes de responder e agradecer ao leitor fiel, me veio na cabeça à figura do vendedor de aviú que há instantes estava na porta da minha casa e uma reminiscência de meu tempo de morador da margem do rio Tapajós, no bairro da Prainha.
- Pois Zé, a próxima crônica eu vou dedicar a ti, respondi.
- Tu vais me esculhambar? Questionou Zé Ronaldo. - Olha lá...
Poucos sabem que o grande causídico José Ronaldo Dias Campos foi um exímio pescador de aviú na infância, assim como eu e meu irmão Airton.
Certa vez, quando o aviú estava em piracema, subindo rio, margeando seu leito, nosso quintal na rua do Imperador ficava 'cheio' e era um refúgio momentâneo para o crustáceo se esconder dos ataques do tucunaré. Nessa época, a gente mesmo sem muito esforço, conseguia 'pegar' aviú dentro do quintal.
Mas um dia, no anoitecer, a rotina foi quebrada por um barulho estranho de pessoas pulando a cerca e adentrando em nosso 'território' para pescar aviú. Minha mãe, sempre vigilante, deu o alarme. E nós corremos para a varanda do fundo da casa para ver o que estava acontecendo.
E nos deparamos com a turma do Barcuna já se preparando o pano de americano para iniciar a pescaria. Ainda no alto da cerca, franzino, estava ali postado Zé Ronaldo, como a antever que, no futuro, como advogado, estaria diante de uma 'turbação'.
Minha mãe, com seu linguajar de sem muitos rodeios, foi direto ao assunto.
- Podem sair daí seus moleques, esse aviú é nosso.
Surpreendido com o flagra, Barcuna pôs-se em retirada e Zé Ronaldo sumiu dali sem deixar rastro. Mas a turma do Zé Ronaldo sabia como ninguém identificar aonde o aviú se refugiava. Era a campeã desse tipo de pescaria em que se arrasta o pano e cerca o cardume até a beira, deixando-o sem saída.
Por isso a gente tinha a turma do Zé Ronaldo, liderada pelo Barcuna, como 'concorrente’.
Hoje, dezenas de anos se passaram, eu recebo a visita de um vendedor do crustáceo na minha porta e logo em seguida encontro, por acaso, o pescador de aviú do passado a pilotar um belíssimo carro importado como a mesma simplicidade de quando manejava um pano de americano dentro água.

8 comentários:

Anônimo disse...

é isso aí meu caro Miguel, Zé Ronaldo também era conhecido como o melhor lateral esquerdo do Flamenguinho, o chamavam canela de vidro, e hoje uma cultura jurídica invejável, é a vida. .

Anônimo disse...

SENTIDO DÚBIO, Zé! Meus amigos e Eu, também pescávamos avium, naqueles quintais, só que a nós chamavam de outras cositas "PEEGA, PEGA LADRÃO". Quando tinhamos que correr desesperadamente e parar só aqui na praça São Sebastião em meio a escuridão. Hoje eu também tenho um carro e sou político, caso Miguel me encontre na rua vai chamar de quê?

Anônimo disse...

alto lá pessoal
o melhor pescador de avium daqueles tempos era o Lucivaldo, popular 'bodanca'...
mas acho fantástica essa memória que o Miguel tem...

Anônimo disse...

Concordo com Carlos Augusto.

Lucivaldo era o melhor nessa arte, eu só o coadjuvava.
Fiquei curioso com os amigos que interagiram. Gostaria de identificá-los

Anônimo disse...

certo que o foco de uma crônica tem que ser um fato isolado; mas o Miguel deveria ter incluído em seus escritos a pesca de camarão do Pepeu e do seu Lilito, pai da Mirica; naquela área da beira do rio esses dois senhores passavam a noite vigiando tapagem para pescar camarão;mas eu queria parabenizar o Miguel que tem feito a gente se lembrar de muitos fatos pitorescos ocorridos da nossa infância dos tempos dourados de Santarém.

Cristina-Brasília-DF

Anônimo disse...

Isso é jogo de comadres.Porque, então, o Miguel não toma coragem e conta porque o José Ronaldo é chamado de ZÉ GOLFINHO pelos íntimos?

Anônimo disse...

TÔ ME REMEXENDO AQUI NO FUNDO DO TAPAJÓS DE TANTO RIR.
ZEZINHO, O MAIOR PESCADOR DE AVIUM DE SANTARÉM!!!!!!!!!!SÓ SE FOR NA CABEÇA QUADRADA DE TANTO CARREGAR LATA DAGUA QUE O MIGUEL TEM.
ZEZINHO GOSTAVA MESMO ERA DE COMER MANGA VERDE, PARECIA UM PERIQUITO DO PAPO AMARELO NA PRAÇA DE SÃO SEBASTIÃO.
É VERDADE QUE ZEZINHO TINHA CANELA DE VIDRO SIM, SÓ VIVIA TRINCADA E CUIDADA A BASE DE MUITA ANDIROBA E REZA BRABA.
POR QUÊ VOCES NÃO APROVEITAM SEU TEMPO, AGORA QUE ZEZINHO É UM ADVOGADO FAMOSO, CHEIO DA GRANA, E O MIGUEL É DONO DE JORNAL, CHEIO DE PRESTÍGIO, PARA DESVENDAR UM MISTÉRIO INSOLÚVEL ATÉ NOSSOS DIAS;
- PORQUE A GRAÇA GONÇALVES NÃO CASOU ATÉ HOJE?????????????????????????????

Anônimo disse...

Que é isso? A grande façanha do Zé Ronaldo - que muito faz jus aos bens materiais e à cultura jurídica que tem - foi quando da palestra ministrada por um pretenso grande jurista nacional, doutrinador cível, que dizia no auditório da ULBRA não haver arbitragem no Brasil. Zé Ronaldo, com sua indefectivel serenidade edarguiu: a arbitragem no Brasil existe sim. Citou o número da lei, falou dos mecanismos da Arbitragem e mostrou ao "ulano de tal" que há juristas também nas plagas do alagado amazônico. Fiquei orgulhosa de ser paraense naquele momento... Mas o "dito cujo", é claro, não perdeu a chance de retrucar a fala de Zé Ronaldo, com argumentos sofistas. Eu acho que o "canela de vidro" saiu com a canela trincada daquele debate, mas não sem arrebentar a unha do dedão do pé do palestrante. Se é exímio pescador de aviú, realmente,não sei, mas que arpoou muito bem o tubarão com plumas do Largo de São Francisco, ah isso fez...