quarta-feira, 18 de junho de 2008

O bate-papo - Crônica de 4ª feira

Miguel Oliveira
Editor-chefe

Quem tem arcano tem que saber guardá-lo. Quando duas pessoas compartilham do mesmo segredo, já não é mais segredo, dizia meu velho pai. Por isso, sentar à mesa de bar, para aquele bate-papo semanal, tem lá suas precauções.
Reporto-me a esse fato para recordar minha última estada no terrace do Bar Mascote, sexta-feira última, como não fazia há vários meses.
Partilhei com o casal Ary e Rosa e mais tarde com o ex-pescador de aviú José Ronaldo de momentos agradáveis. Foi de um malabarismo danado a escolha dos assuntos.
Um amigo comum ligou para um dos convivas como que com a intenção de auscultar o ambiente. Desistiu de se juntar ao grupo, talvez se precavendo de maledicências políticas.
Todo ano de eleição é assim mesmo. Todo mundo pensa logo que um simples bate-papo é uma confabulação, a preparação de uma revolução, montagem de uma sabotagem e por aí vai.
Mal sabem esses senhores que em mesa de bar se conversa de tudo. Ali não é o local para a revelação de segredos profissionais e nem tão pouco para confidências políticas.
Mas o leitor que agüentou ler esta crônica até esta parte já deve estar se perguntando do porquê de todo esse preâmbulo. Com justa razão já deve estar pensando que este cronista não tem assunto melhor para abordar.
Mas o objetivo é bem outro, senão o de estimular o bate-papo em mesa de bar, lanchonete ou restaurante. E também à porta de casa, como antigamente.
À sua mesa, invariavelmente, chegam até você as mais desencontradas notícias, gente interessante, mas também algumas inconvenientes.
Na mesa de bar se sabe que um artesanato hippie vendido a menos que um prato de comida custa não menos que cem reais em quaisquer butiques. Que há instantes uma menina fugitiva do abrigo municipal tinha passado por ali, driblando a fiscalização do conselho tutelar. E ser surpreendido com a chegada de uns 'piratas' de araque indagando onde está o ouro.
Mas o gostoso mesmo é rememorar fatos pitorescos do passado já distante. E ouvir, de um dos transeuntes por entre as mesas, que gostou do que foi escrito ou mesmo que há uma pequena imprecisão em minhas narrativas semanais.
Nesse ponto, Ary me acompanha com sua boa memória e sua desenvoltura em conversar tanto sobre assuntos cibernéticos quanto à degustação de uma boa cerveja. Com apurado paladar, o meu amigo fez suas considerações sobre a mais nova marca do mercado do malte espumado. Eu aqui, resistindo à tentação, saboreando àquela altura uma caipirinha sem açúcar.
Naquela noite, depois de conversar vários assuntos do cotidiano, Ary fez-me uma cobrança de maneira elegante, preocupado com a forma acanhada com que tenho me inserido no mundo cibernético. Uma observação dele me deixou pensativo: que o nosso jornal, possuidor de um dos maiores acervos de textos e fotografias de Santarém e da região, precisava colocar à disposição do internauta todo esse material. E ganhar dinheiro com isso também.
Mas a provocação de Ary ainda não me fez repensar a forma retraída com que me posto diante da internet, talvez por ainda ser, apesar de ainda não está na fase dos cinqüentões, um dos jovens dinossauros do jornal impresso.
É aqui que me encontro comigo mesmo e com vocês, leitores.

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