domingo, 8 de junho de 2008

Política no palanque

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós

O deputado federal Jader Barbalho, um dos coveiros da Sudam, extinta há sete anos em meio a denúncias e processos sobre corrupção no uso dos recursos dos incentivos fiscais, não compareceu ao ato de renascimento da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, na semana passada, em Belém. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva justificou indiretamente essa ausência quando disse que os corruptos devem ser punidos, mas a instituição precisa sobreviver.
A declaração não foi uma referência direta ao ex-ministro, responsável pela indicação dos últimos superintendentes da Sudam, mas a associação seria feita de imediato por muitos dos ouvintes. Se não assumiu a responsabilidade pela crítica enviesada, e mesmo que essa nem tenha sido a sua intenção, Lula foi fiel ao seu estilo: tirar proveito das duas faces da mesma moeda. Ficou ao lado dos que teriam rechaçado a presença de Jader ao ato, mas não fechou a porta ao ex-governador, que é um dos seus principais aliados no Pará.
O eixo condutor de Lula, em meio a tantos ziguezagues, é a preservação do poder que já tem e a execução dos seus planos para mais poder. O alto índice de popularidade lhe permite recuperar eventuais desgastes por seus constantes escorregões estilísticos e impropriedades de linguagem. Foi assim que ele procurou compor os variados e conflituosos interesses da sua ampla base de apoio político. Se Jader Barbalho não estava no palanque, lá se encontrava seu filho e herdeiro político, o prefeito de Ananindeua, Hélder Barbalho, que assinou convênios para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Na platéia, a ex-esposa, a deputada federal Elcione Barbalho.
Quando a claque petista começou a apupar o prefeito petebista Duciomar Costa, como pai compreensivo, Lula alertou-a que, comportando-se assim, estava dando motivos para a imprensa dar maior destaque a esse fato lateral do que aos acontecimentos principais da solenidade. A reeleição do prefeito, que é também aliado, depende da potência da máquina oficial, reforçada pelas verbas federais liberadas ou autorizadas, para puxá-lo, e do índice de rejeição, que é alto, mas ainda não chegou à escala inviabilizadora. Convém, portanto, não queimar essa alternativa: de o PT nacional não ter prejuízo, muito pelo contrário, de uma derrota em Belém para Duciomar.
É assim que Lula vai.

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