segunda-feira, 23 de junho de 2008

Santarém, 347 anos

FIFIU, OI BURRACHO...VAI UM REFRESCO DE MANGARATAIA?

José Edibal Carvalho Cabral
Especial



Acordei ouvindo o assobio distante e diferente de uma musica bem rimada. Era Bráulio, no seu habitual dia-dia cantando, assobiando, alegremente, veio a curiosidade de saber que tipo de musica era aquela, aproximei-me bem devagar, e, uma das frases falava em ...gê, ge, ge.....e perguntei-lhe: - Bom dia meu compadre? Que musica é essa que você está cantando?
Riso fácil apareceu em seu rosto:
Oh meu compadre, bom dia! É do Getulio - respondeu-me com o sorriso de volta.
Consegui identificar a musica, perguntando a minha sogra Perpétua.
-É uma "modinha" do Getulio Vargas quando foi candidato a Presidente da República, explicou-me.
São 96 anos de vida, de muita alegria, saúde, carinho e amor. No dia 08 de dezembro de 1912, na cidade de Alenquer, nascia o `Kaspar` Bráulio Rodrigues da Mota, primeiro filho de oito irmãos, quatro homens e quatro mulheres, o pai lavrador Constantino Rodrigues da Mota e sua mãe Barbara dos Santos Mota logo notaram que aquele rebento era calado e risonho. Aos doze anos de idade veio para Santarém morar com Osman Bentes, na Rua Siqueira Campos, ao lado do solar dos Macambiras.
Além dos trabalhos domésticos que fazia, passou a vender rebuçados de vários sabores, doces, biscoitos, no tabuleiro que Dona Joana Crescencia, mãe de José Fernando dos Santos fazia para que o jovem Bráulio percorresse todo o comercio e mercados da cidade vendendo as saborosas iguarias de Dona Joana. Seu jeito simples, a devoção por Nossa Senhora da Conceição e as vendas das iguarias faziam parte de sua vida pacata no começo de sua adolescência.
Com a criação da Congregação Mariana, Bráulio começou a participar mais ativamente dos grupos de jovens, ajudava a Paróquia a desenvolver seu apostolado. Nas reuniões da Congregação Mariana, vários jovem participavam: Solano Lisboa, Elinaldo Barbosa, Jose Fernando dos Santos entre outros. Começou nesta época também, na equipe de coleta da festa de Nossa Conceição onde permaneceu por mais de cinqüenta anos.
Nas reuniões da Congregação Mariana, o jovem Bráulio levava o café e os biscoitos. Foi o jovem e ex-prefeito de Santarém Elinaldo Barbosa, que pediu a Bráulio em vez de café, que levasse refresco de mangarataia. Foi aí que tudo começou. Elinaldo que nesta época trabalhava na Souza Cruz de cigarros, solicitou que todas as tardes levasse dois litros de refresco no seu trabalho.
Como tinha algumas garrafas de refrigerantes, ele colocava o refresco, e no percurso vendia todo o estoque. Mercado municipal, comércio, o mesmo itinerário que fazia do tabuleiro de doces, passou a ser do refresco de mangarataia, que ficou tão famoso que passou a ser vendido no estádio Municipal de Santarém, o famoso refresco do Bráulio.
Torcedor fanático do São Francisco Futebol Clube, levava seu refresco a todos os jogos de futebol. Seu ponto de venda ficava ao lado direito na entrada do velho estádio Elinaldo Barbosa, bem ao lado era a venda de croquete do seu `Gito`. Quem se engasgasse com o croquete, tomava o refresco do Bráulio.
Bem pertinho de sua venda ficava também a famosa torcida feminina do São Raimundo Esporte Clube.Quando o Leão fazia gol, Bráulio batia forte com a tampa na panela de refresco, todos se deliciavam, era gol do Leão Azul, a torcida feminina do São Raimundo, xingava meu compadre Bráulio.
Quem não se lembra do episodio com o nosso saudoso Doutor Pena? Que encomendou uma panela do refresco de mangarataia:
- Bráulio tenho reunião hoje com uns amigos meus na minha casa, quero que você prepare uma panela de refresco e leve em casa às 5 da tarde.
Prontamente, as 5 da tarde Bráulio, bateu a porta da casa do Doutor Pena;
- Doutor vim trazer o refresco de mangarataia!
Incontinente, Doutor Pena, como bom Baiano, um gozador, exclamou:
- Meu bom Bráulio, grande pederasta, muito obrigado;
Bráulio não entendeu bem as palavras dita pelo médico já falecido.
- Que é isso doutor Pena, pederasta é o senhor seus amigos e sua família.
E retirou-se sorrindo.
Bráulio ainda hoje continua cantando, conversando com os passarinho, galinhas e plantas, que cuida com muita dedicação e zelo. É o guardião da residência da família de José Fernando dos Santos. Alegre, bondoso, religioso e um bom pastor.

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