Paulo Leandro Leal
Desde que o governo federal desencadeou operações para apreender bois que supostamente estão sendo criados de forma ilegal no oeste do Pará, grandes pecuaristas e redes de frigoríficos do Sul do Pará e do Norte do Mato Grosso não param de comprar gado na região. O motivo: o preço do boi em pé despencou. Um dos maiores beneficiários da venda de boi a preço de banana pode ser o banqueiro Daniel Dantas, que está construindo um verdadeiro império pecuário no Sul do Pará e tem achado gado barato para comprar na região oeste, onde agentes da Polícia Federal e fiscais do Ibama caçam os chamados "bois piratas", apelido dado pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Dantas e os grandes pecuaristas e frigoríficos do Norte do Mato Grosso foram atraídos pelo preço baixo, que por sua vez está sendo causado pelo medo que as apreensões de gado têm gerado nos criadores da região. Centenas deles colocaram o gado à venda ao mesmo tempo, aumentando a oferta e pressionando o preço da arroba do boi para baixo. O terror causado nos pecuaristas da região faz com que eles vendam o gado por um preço até 55,9% menor que o de mercado. Enquanto que em outras regiões o preço da arroba do boi está entre R$ 72 e R$ 75 (macho) e de R$ 64 a R$ 65 (fêmea), no oeste podem ser comprados por até R$ 38.
Há cerca de duas semanas, a reportagem do EcoAmazônia encontrou um comboio de carretas na Rodovia Transamazônica (BR-230), abarrotadas de gado comprado nas pequenas fazendas da região. Um dos motoristas informou que o gado estava sendo levado para as fazendas de Daniel Dantas, no Sul do Pará. Não há, pelo menos até agora, qualquer prova documental que aponte para interferência do banqueiro no Ministério do Meio Ambiente para que a apreensão de bois pudesse acontecer. Mas é fato que a ação do governo fez despencar o preço do gado, beneficiando àquele que pretende ser um dos maiores pecuaristas do planeta, com mais de um milhão de bois somente no Pará.
Dantas controla a Agropecuária Santa Bárbara, que desde o ano passado vem comprando fazendas e mais fazendas no Sul do Pará. E é naquela região que pipocam rumores de que Lulinha, o filho prodígio de Lula, seria sócio de Dantas na aquisição das fazendas. Revistas e jornais da chamada grande imprensa brasileira já estiveram na região investigando as informações, mas por enquanto não encontraram nada que ligue o filho do presidente ao império bovino de Daniel Dantas no Pará. Só o que existe são depoimentos de caminhoneiros e peões, que afirmam terem visto o Lulinha por aquelas bandas.
Como as ilações sobre a compra das fazendas na região são muitas, a prisão de Daniel Dantas desencadeou uma nova onda de rumores. Nove entre dez pecuaristas da região afirmam, por exemplo, que a operação contra o "boi pirata" foi criada para beneficiar Dantas. E há informações de que ele estaria comprando também fazendas no Norte do Mato Grosso, para onde milhares de cabeças de gado do oeste têm sido levadas diariamente, tocadas pela Rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163).
Ilações à parte, o fato é que são os grandes pecuaristas, redes de frigoríficos e mega investidores como Daniel Dantas que estão sendo beneficiados com a venda desenfreada de gado a preço baixo no oeste paraense. Grandes quantidades de gados saem quase todos os dias de propriedades localizadas em Anapú, Altamira, Brasil Novo, Placas, Rurópolis, Uruará e Novo Progresso.
Governo fecha frigoríficos em Altamira e mais boi deve sair da região
E se depender do governo, o preço do boi deve despencar ainda mais na região. Nesta quarta-feira, 9, Fiscais do Ibama apreenderam 417 cabeças de gado que estavam em dois frigoríficos, em Altamira. Os donos dos estabelecimentos dizem que a operação foi arbitrária. As empresas estão lacradas e não têm como funcionar nas próximas semanas, impedindo-as de comprar o gado que é consumido diariamente no município.
Com o fechamento dos frigoríficos, os pecuaristas se vêem obrigados a vender o gado para os compradores de fora e mais rezes devem sair da região. Em Altamira, já há desabastecimento de carne. Muitos matadouros clandestinos passaram a operar e a carne que ainda chega aos açougues é de péssima qualidade. Enquanto isso, aumenta a presença de compradores de outras regiões à procura de boi barato.
Para piorar ainda mais a situação, o governo anunciou o primeiro leilão de "boi pirata", que acontece na segunda-feira, 14. No total serão oferecidos 3.500 bovinos no leilão e o dinheiro arrecadado será destinado ao programa Fome Zero. Pecuaristas ou frigoríficos de qualquer região do País podem participar do leilão. Entidades do setor alertam que como muito gado tem sido comprado e tirado de circulação, em breve o próprio mercado vai forçar por uma alta no preço e aqueles que agora compram boi barato vão ganhar muito dinheiro, enquanto que os mais pobres podem ter que tirar a carne do cardápio.
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