terça-feira, 1 de julho de 2008

Para entender a História no - e do - Pará

Do Espaço Aberto:

Leia aí embaixo uma nota que o jornalista Hélio Gueiros publicou em sua coluna, no jornal Diário do Pará, no dia 22 de junho passado:

Benedicto
José Ribamar me lembra um episódio da vida de Benedicto Monteiro, grande político e grande escritor, falecido recentemente. Nos idos de 1968, Carlos Marighella, líder da Aliança de Libertação Nacional, veio clandestinamente a Belém para tentar recrutar Bené para comandar movimento guerrilheiro que pretendia instaurar no Pará. Bené não concordou com a sugestão de luta armada e traiçoeira preferindo continuar o seu combate com luta cerrada peito aberto mas não sanguinária. Mas os agentes da ditadura não fizeram distinção entre Marighella e Benedicto. Mataram Marighella e perseguiram Benedicto nas matas de sua terra natal, Alenquer. Prenderam Benedicto, amarraram-no como se fosse um porco e, descalço, maltrapilho, o puxaram pelas ruas de Santarém. Rádios, jornais e televisões foram acionados pelos agentes da ditadura para documentar o tenebroso espetáculo que tinha o objetivo de tentar desmoralizar o heroísmo de Bené e amedrontar os que lutavam contra a ditadura. Quem conviveu com Bené até o fim dá testemunho de que ele não guardou ódio nem rancor dos seus algozes. Fechou os olhos em paz consigo e com os outros.
-----------------------------------
Agora leia o artigo que o jornalista e pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) Oswaldo Coimbra teve publicado em O LIBERAL de ontem (30) e atente, sobretudo, para o trecho em que se menciona o jornalista Hélio Gueiros, então deputado estadual pelo PSD:

Um drama na vida de Bené
O momento mais terrível da vida política de Benedicto Monteiro foi, certamente, o dia 14 de abril de 1964, quando, perseguido nas matas do interior do Estado por militares que haviam recebido ordens de matá-lo, se isto fosse necessário à sua captura, ele se viu também abandonado por seus colegas, deputados da Assembléia Legislativa, que cassaram seu mandato numa sessão transmitida pelas rádios de Belém. A ata desta sessão foi arrancada dos anais da Assembléia Legislativa e destruída, como constatou o próprio Benedito Monteiro, quando teve condições de procurar detalhes de sua cassação.
No entanto, o jornal O LIBERAL publicou no dia seguinte um relato minucioso do que ocorreu na Assembléia. Na época, o jornal não pertencia ainda a Romulo Maiorana e estava ligado ao Partido Social Democrático (PSD).
Como pesquisador, gostaria de prestar minha homenagem à memória de Benedicto Monteiro, transcrevendo aquela matéria jornalística para que a opinião pública do Pará conheça melhor este instante tão dramático da vida de Bené. Este foi o relato do jornal:
“Em sessão extraordinária convocada por sua Mesa Diretora, a Assembléia Legislativa do Estado cassou ontem, por trinta e quatro votos, o mandato do deputado Benedicto Vilfredo Monteiro, ex-líder da bancada do Partido Trabalhista Brasileiro, por atividade subversiva.
Aberta a sessão pela 1º vice-presidente Dionísio Bentes de Carvalho, o 1º Secretário, Álvaro Kzan, leu o edital de convocação e a resolução da Mesa cassando o mandato do senhor Benedicto Monteiro.
Usou da palavra o deputado José Maria Chaves, para levantar uma questão de ordem sobre a legalidade da convocação da sessão, pois que tinha dúvidas quanto à tramitação correta da resolução que não teria cumprido os prazos regimentais. A Mesa, respondendo à questão de ordem do representante oposicionista, informou que tudo foi feito (de modo) perfeitamente legal. O deputado João Reis, em nome da bancada do PTB, foi à tribuna para dizer que seus companheiros e ele próprio votariam pela cassação do mandato, pois estariam votando não contra um companheiro, mas contra certas atitudes que ultimamente vinha tomando, frontalmente contrárias ao regime democrático de Governo. Emocionado, o deputado João Reis lamentou que tivesse a Assembléia de tomar a atitude drástica de cassar o mandato de um de seus membros, mas que estava fazendo exatamente a defesa da Bandeira Nacional, que estava sendo ameaçada em sua estrutura e no respeito que devia inspirar no povo brasileiro.
O deputado José Maria Chaves, em nova intervenção na sessão, falou do desrespeito que se estaria cometendo, pois que o próprio Ato Institucional já dá direito ao Comando Supremo da Revolução de cassar mandatos, faltando competência à Assembléia para tomar aquela atitude. Disse que estava satisfeito por ver que a Revolução não está atingindo somente os comunistas, pois vai chegar a vez dos contrabandistas e dos corruptos e corruptores que enlamearam o governo federal.
O deputado José Maria Chaves ainda elogiou as Forças Armadas por terem acordado em tempo de defender o Brasil da infiltração comunista e disse que todos eles, os comunistas, deveriam ser transferidos e deportados para países onde o regime por eles professado está por cima.
O deputado Hélio Gueiros, em nome da maioria, disse que a Assembléia Legislativa estava agindo corretamente eliminando de seus quadros um elemento que não escondia sua crença na ideologia comunista, e, portanto, subversiva ao regime democrático.
O deputado Geraldo Palmeira falou de sua gratidão ao governo do Estado pela solidariedade e apoio incondicional que lhe deu quando da morte de sua genitora. Manifestou-se favoravelmente pela cassação do mandato desde que seja para defender a democracia, mas disse que a democracia ‘não é só isso que aí está, democracia é acabar com a miséria e com os privilégios’.
O deputado Gerson Peres, como líder da UDN, ocupou a tribuna para sugerir que fosse dada uma chance de defesa ao deputado Benedicto Monteiro, o qual deveria ser chamado por um edital, para oferecer defesa às acusações que lhe eram formuladas como elemento subversivo.
Após os pronunciamentos, o vice-presidente Dionísio Bentes de Carvalho colocou em apreciação do Plenário e este aprovou a proposta do deputado João Reis para (que) a votação fosse nominal e não secreta.Feita a chamada de todos os senhores deputados presentes, responderam ‘sim’, isto é, pela cassação do mandato do senhor Benedicto Monteiro, todos os trinta e quatro presentes.
Logo depois da votação, a Mesa proclamou o resultado e encerrou a sessão extraordinária, mandando a secretaria expedir comunicação ao suplente José de Saraiva Macedo, do PTB, para que assuma o lugar de titular na bancada de seu partido.
Faltaram à sessão de ontem os deputados Américo Brasil, Nagib Mutran e José Gurjão Sampaio.”

Nenhum comentário: