Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós
A pesquisa de opinião se tornou uma espécie de santo graal no ambiente pré-eleitoral em Belém. Todos estão atrás dos seus resultados, como se eles fossem uma exata antecipação dos votos que serão depositados nas urnas em outubro. Como há uma quantidade desproporcionalmente maior de pesquisas na boataria que se espalha pela cidade do que no protocolo do TRE, ter acesso a números se tornou um troféu, quase um talismã.
A supervalorização das pesquisas tem uma causa bem visível: a falta de informação na imprensa. Os grupos de comunicação tratam a eleição municipal deste ano, sobretudo a da capital, como tema secundário. A cobertura é burocrática e fraca. A razão? Os dois principais grupos, o Liberal (dos Maiorana) e a RBA (de Jader Barbalho) têm candidatos da “casa”, in pectori, na disputa. Como fazem tudo para prejudicar o outro lado, mas não querem expor seu próprio lado, esvaziam o noticiário enquanto intensificam a movimentação nos bastidores. O (e)leitor é deixado ao Deus dará, desinformado e ansioso. É terreno fértil para o jogo das pesquisas, nem sempre praticado com regras claras (freqüentemente, sem qualquer regra).
Toda informação que escapa ao redil é vista com desconfiança ou hostilidade, como um balão de ensaio dos adversários ou, quando verdadeira, como uma ameaça que cumpre evitar. Daí a troca de acusações e as medidas para impedir a divulgação de pesquisa, quando ela é montada em bases técnicas. Finalmente, vencendo a barreira que lhe antepôs o PTB, o partido que está na prefeitura, a primeira pesquisa desde a homologação oficial dos candidatos, encomendada pelo DEM (ex-PFL), foi apresentada.
Estranhamente, ela apareceu apenas em O Liberal e, ao contrário do que se podia esperar, não foi para a primeira página do jornal, nem com uma simples chamada, e não teve continuidade no dia seguinte. O jornal teria resistido o quanto pôde a reproduzi-la e só concordou em noticiá-la porque o segundo colocado também recebe suas bênçãos. O Diário do Pará ignorou a pesquisa, o que talvez possa indicar que o jornal de Jader Barbalho vai tentar colocar o candidato da “casa”, o ex-deputado José Priante, no 2º turno. E, não conseguindo essa façanha, apoiará o atual prefeito, se ele passar pela primeira prova de fogo.
A pesquisa do Ibope, dando 29% a Duciomar Costa contra 24% de Valéria Pires Franco, do DEM, em empate técnico em função dos 4% de margem de erro (sempre alta quando realizada em período mais distante da eleição), praticamente coincidiu com muitas das especulações que estavam sendo feitas na cidade. Também confirmou as previsões de que o atual prefeito sofrerá uma queda no 2º turno se enfrentar um candidato mais forte (na simulação do Ibope, Valéria venceria por uma diferença de 14 pontos percentuais). Mas há tanta sonegação de informações adicionais que mesmo essa sintonia entre os boatos e a mensuração técnica ainda deixa muita desconfiança.
A cautela é ainda maior em função do fato mais importante nesse início de corrida à prefeitura de Belém: o índice de rejeição de Duciomar Costa, que não foi divulgado por O Liberal. Se ele tem uma rejeição cristalizada em um patamar elevado, ainda que seja candidato forte a passar para o 2º turno, na nova eleição suas possibilidades deverão se tornar muito menores, qualquer que seja o seu concorrente.
Como é que um prefeito no exercício do cargo pode ter rejeição tão forte nas ruas e aparecer na mídia como um nome credenciado à reeleição? O aparente paradoxo tem uma explicação: Duciomar comprou o apoio da grande imprensa. Esse compadrio oneroso lhe permite projetar uma imagem positiva, que reduz as possibilidades de iniciativas contra ele canalizando a hostilidade que provoca.
A ênfase é mais acentuada nas camadas mais pobres da população, justamente nas quais recrutava antes a sua clientela. O prefeito trocou de parceiro e agora usa a conivência da elite para tentar escapar aos efeitos de sua administração desastrada. Até agora, conseguiu essa façanha: a lava de maus feitos que circula pelos ambientes informais da sociedade, nas ruas e nos lares, não transborda para as vitrines, a mais vistosa das quais é a mídia. Bonitinha, mas ordinária, como na famosa peça de Nélson Rodrigues.
De nada adiantou o engenheiro Luiz Otávio Mota Pereira, na condição de secretário de saneamento e também de urbanismo durante um ano na administração de Duciomar, ter ido ao Ministério Público do Estado fazer cinco graves acusações contra o prefeito, quase um ano e meio atrás, juntando documentos comprobatórios dos fatos alegados. Até hoje não houve a apuração das irregularidades e ilegalidades apontadas na coleta de lixo, em contratos de serviços superfaturados ou em serviços realizados sem contrato. Diante desse histórico, mais importante do que especular sobre se o prefeito conseguirá se reeleger é inquirir sobre como conseguirá se manter como candidato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário