Paulo cal
Arquiteto
Como estamos em pleno período eleitoral, e deixando de lado as comidinhas e bebidinhas, penso eu ser possível eleger além do prefeito da cidade de Santarém, um novo pensamento urbano - um novo "modo de ser urbano". Não precisa ser alguém com visão exagerada do passado e nem tampouco só do futuro. Necessitamos alguém que compreenda os nossos dias, que vá à procura de novos caminhos, novas idéias e de novos territórios. É necessário que entenda que a cultura urbana atual não é simulacro, cópia, vacuidade, dissimulação, mas sim terreno de conflito. A cidade é contínua na memória, na morte ou no desejo de seus habitantes. E, ainda mais, é o espaço conquistado por ela própria - a cidade.
Nos últimos 30 anos não fizemos nada de significativo por nossa cidade. "Olhando" as cidades brasileiras do mesmo porte ficamos envergonhados com o nosso atraso. E nos perguntamos por quê? Por quê?
Primeiro, porque esquecemos as lições ensaiadas nos anos 60 e início de 70, de que a ferramentaria do planejamento urbano é fundamental para que se tenha uma visão realista da cidade. O planejamento era para que se pudesse, de forma mais acertada, decidir por investimentos urbanos que tivessem maior efeito multiplicador no bem estar de sua população. Talvez até mesmo para compreender que o urbanismo não é a arte de fazer, no imaginário, um lugar impossível, onde tudo esteja bem, mas de fazer o melhor de cada um de todos os lugares, especialmente do lugar onde vivemos. Chega de decisões politiqueiras copiadas em gabinetes fechados e de roubalheira generalizada.
Segundo, somos o tempo todo vítimas das brigas pelo poder e das contradições políticas entre as estruturas de poder do Estado e do Município que administra a segunda e a mais importante cidade do Baixo Amazonas - Santarém. Como é possível conceber que a administração da maior cidade do oeste do estado não encontre, na maioria das vezes, parceria adequada e lógica para a realização de investimentos necessários à satisfação de necessidades urgentes de seus habitantes mesmo quando a prefeita e governadora são do mesmo partido?
O que gostaríamos que acontecesse na eleição do "novo" prefeito ou do novo "modo de ser urbano" que aqui propugnamos é que ele possa ser fruto de um processo de reflexão e compromisso com a cidade de Santarém e não da mente de marqueteiros que destacam as mazelas da cidade e logo propõe soluções fantasiosas e irreais com o intuito certeiro de enganar, mentir, ludibriar, faltar declaradamente com a verdade e, quem sabe, considerá-lo - você morador desta cidade - burro, ignorante ou incapaz de perceber qualquer manobra politiqueira e eleitoreira.
Se o candidato já tem experiência anterior, pô ... É só refletir, e, interiormente ou quem sabe dizer abertamente: eu errei, não vai mais acontecer. A cidade não tem culpa das forças políticas sujas envolvidas, das formas mais diversas, nas suas entranhas urbanas. Se não tem experiência anterior, que seja capaz de ver e escutar a cidade com sinceridade. Ela mesma, a cidade, não é capaz de falar, de sussurrar; ela não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas fachadas de suas casas, nas grades das janelas, e até mesmo na face de seus habitantes. Olhem! Percebam!
Nas últimas páginas de "Tristes Trópicos" de Lévi-Strauss, o autor vê a humanidade precipitar-se na direção de "uma inércia cada vez maior e que um dia se tornará definitiva". As cidades também são "máquinas destinadas a produzir a inércia num ritmo e numa proporção infinitamente mais elevada do que a organização quantitativa que implicam".
Talvez, com a eleição do "novo" prefeito ou do "novo modo de ser urbano", possamos evitar a entropia, e desta forma os "Tristes Trópicos" transformarem-se numa ampla alegoria de naturalização de estruturas urbanas como as de Santarém, e de uma paradoxal metropolização de aldeias como as dos Bororós ou Nhambiquara, paroaras, tapajônicas ou quem sabe somente santarenas.
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