Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós
O grupo Leolar, de Marabá, chegou em grande estilo à capital do Pará. Primeiro com sua logomarca impressa na camisa dos jogadores do Águia, o primeiro time do interior a assumir a representação futebolística do Estado. A equipe marabaense de futebol realizou a façanha de ir em frente na última etapa da série C do campeonato nacional, enquanto os poderosos Paissandu e Clube do Remo ficavam para trás. A Leolar é o principal patrocinador do Águia.
O segundo marco do grupo econômico marabaense foi o lançamento do quarto jornal diário do Estado, o único que veio do interior para montar sua base na capital paraense, num inédito movimento migratório de dinheiro. O Público introduziu um componente novo na guerra travada pelos dois grupos monopolistas da comunicação no Pará: de um lado da família Maiorana, com O Liberal e o Amazônia Jornal, e do outro o deputado federal Jader Barbalho, com o Diário do Pará.
Num segmento de mercado com forte contaminação política, e, por isso mesmo, com tendência à bipolaridade de poder, Público vai tentar retomar a "terceira via", fechada quando A Província do Pará deixou de circular. O projeto do novo diário maturou com excepcional rapidez, destacada ainda mais pelo volume do investimento exigido e o grau de risco do negócio, que raros aceitaram encarar, apesar da tentação constante.
O grupo Leolar consolidou posições significativas no setor de comunicação antes de dar o grande passo para o jornal diário. Montou uma emissora de televisão e, em seguida, incursionou por um mercado com tradição, mas de resultados inconsistentes para os seus exploradores: o jornal gratuito. Livre completou 50 edições distribuídas em prédios residenciais e alguns pontos de comercialização. Tem 32 páginas, boa impressão, matérias diversificadas e tiragem de 15 mil exemplares. Abriu caminho e deverá encorpar a presença da publicação maior e mais importante, o Público.
Os donos do negócio não deixam dúvida de que pretendem obter lucros na investida e já mostraram pelo menos algumas de suas armas para o combate. É claro também que o pesado investimento realizado até agora é mais do que um negócio comercial: é a manifestação de um projeto de poder, que não se confunde com o dos Maiorana nem com o dos Barbalho. Ecoa a mensagem e canaliza o vigor de Marabá, a capital do sul do Pará e, provavelmente, do novo Estado, de Carajás, se ele vier a se constituir.
Belém, refratária por princípio a qualquer redivisão do imenso território sob sua jurisdição, o segundo maior do país, não poderá mais deixar de ouvir a voz dissonante do sul do Estado e de observar sua pujança econômica. Paissandu e Remo foram suplantados pelo Águia. O Liberal e o Diário do Pará poderão ignorar o novo competidor? Mais grave ainda: suas sobrevivências de alguma maneira não estarão postas em questão se o concorrente se apresentar com qualidades novas e superiores? Haverá espaço suficiente para abrigar quatro diários?
Talvez até haja, embora não pareça haver. Independentemente do que acontecer no segmento de jornais, porém, a penetração nessa área encouraçada por um grupo econômico originário de Marabá e até recentemente mantido à distância da capital tem um sentido ainda mais amplo, que se ressalta em plena campanha eleitoral em Belém: a perda de expressão e de poder da atual capital do Estado. Com a possibilidade de se tornar a capital da siderurgia paraense e, finalmente, assumir sua predestinação histórica de centro irradiador e aglutinador do vale do Araguaia-Tocantins, Marabá quer agora muito mais do que lhe é oferecido. Conforme anunciou no seu editorial de inauguração, no dia 5, Público se propõe a olhar de frente a complexidade da Amazônia, sem a "pequenez e mesquinharia que assola" Belém. Não é simples o desafio. É preciso ter as ferramentas adequadas para enfrentá-lo, sob pena de a declaração cair no vazio.
O projetado Estado de Carajás, com apenas um terço da população do Pará remanescente (se também for criado o Estado do Tapajós), tem uma receita de exportação que, no ano passado, já ultrapassou o Pará. Seu saldo de divisas é ligeiramente menor, mas. como possui muito menos população (embora com incremento demográfico maior), seu PIB/per capita é bem mais do que o dobro do Pará.
Mesmo que não constituam um plano integrado, conscientemente articulado com essa finalidade, Águia e Público são sinais desses novos tempos. Os velhos barões que se acautelem: sua falsa nobreza parece estar começando a ficar com os dias contados. Para o bem ou para o mal, o Pará é maior do que imaginavam seus tutores encastelados na capital.
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