Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós
Na eleição de 2006, Jader Barbalho foi o pêndulo da balança, que decidiu em favor de Ana Júlia Carepa na disputa com Almir Gabriel. Na eleição deste ano ele ameaça se tornar a própria balança. O PMDB deverá fazer a maior quantidade de prefeitos e de vereadores do Estado. Essa já é uma vitória quantitativa nada desprezível. Mas ela deverá ir além: sozinho ou com seus aliados, acima ou abaixo deles, o PMDB terá conquistado os votos da maior parcela do eleitorado e nos principais colégios eleitorais do Estado. Nos dois maiores, conforme o desfecho, batendo um inimigo poderoso: o grupo Liberal.
Como essa realidade pós-eleitoral contrariou as previsões feitas antes da campanha? Há um mistério, mas ele é de desvendamento simples. Jader Barbalho foi mais uma vez apontado como um dos parlamentares mais influentes no Congresso. Logo, é quase indispensável para quem quer obter maioria no parlamento federal. E como consegue esse poder de influenciar se quase não aparece em plenário e na produção de projetos ou pareceres?
Antes de se tornar um dos ícones do desvio de recursos públicos e do enriquecimento ilícito no país, Jader já era um manobrista competente pelos desvãos do Congresso. Tanto por conhecer os homens como por ter domínio dos processos necessários para fazê-los se mover e decidir questões. Essa habilidade lhe conferiu faculdades premonitórias. A capacidade de antevisão se baseia não em poderes paranormais, mas em experiência. Sempre que surge um desafio no Congresso, Jader é ouvido para apontar o caminho das pedras – e seus desvios.
Graças a essa habilidade, que não é comum, ele é recompensado pelos detentores do poder central com o direito de fazer indicações para funções públicas, mesmo que não haja sua marca digital explícita no ato (marca profundamente desgastada junto ao público). É essa prerrogativa que permite a um político menor, como o ex-deputado federal José Priante, desgastado por dois anos sem mandato e as repercussões negativas dos seus prepostos em alguns postos da administração estadual, como a Secretaria de Saúde, surpreender a opinião pública com seu crescimento eleitoral. Algumas pedras importantes foram mexidas para multiplicar a potência de votos do candidato, mas poucos podiam perceber esses movimentos na própria ocasião em que eles eram efetuados.
O poder de Jader Barbalho tem se assemelhado ao dos seres anaeróbios, que não precisam de oxigênio para se desenvolver. Crescem em ambientes hostis porque são desenvoltos à sombra, como tem sido Jader Barbalho, um político que não precisa aparecer para vencer, nem ser limpo para persistir. Aliás, já há algum tempo, não deve aparecer. O paradoxo diz alguma coisa sobre as lideranças do Pará atual. E do Brasil.
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