Crimes passionais como o que terminou na morte de Eloá Pimentel assustam pela banalidade e ocorrem em todas as faixas sociais
Pedro Rocha Franco
Do Estado de Minas
O coração esconde mais que o amor, o respeito e a nobreza da tolerância. Angustiado, ele mostra a face do egoísmo, do ódio e de um vil sentimento de posse. Crimes passionais trazem à tona identidades obscuras muito bem guardadas no porão da cumplicidade entre casais. Assassinatos, agressões e ameaças ganham destaque nas páginas policiais e chocam a sociedade com o grau de brutalidade. Casos como da adolescente Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, mantida em cárcere privado, no ABC Paulista, por mais de 100 horas e, em seguida, assassinada com dois tiros pelo ex-namorado, Lindemberg Alves, 22, inconformado com o término do relacionamento.
Pelo mesmo motivo, Fortunato Regino da Costa, 32, matou a mulher, Vanessa de Oliveira, 26, com dois tiros, em frente aos dois filhos, de 5 e 7 anos, no Bairro Pindorama, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Por causa do consumo excessivo de cocaína e crack do marido e amigos, ela tinha o sonho de abandonar a casa e levar as crianças, mas, para concretizar a idéia, era preciso arrumar um emprego em que os filhos pudessem passar a noite com ela. Sempre que ela ameaçava mudar de endereço, o casal brigava.
No começo do mês, Vanessa esteve perto de realizar o sonho. Conseguiu um emprego como doméstica e, ao sair da creche, as três crianças seguiriam para a casa na qual ela trabalharia. Na noite do mesmo dia, Vanessa juntou algumas peças de roupa e seguiu para a casa da patroa. Foi a primeira noite, depois de muito tempo, longe do companheiro, ainda sem os filhos. Na manhã seguinte, ao voltar para buscá-los, ela se deparou com o marido revoltado e, logo, sentiu no peito a dor dos tiros.
Motivos
O que leva o amor a se transformar em ódio, em casos como os de Lindemberg e Fortunato e outros tantos? Para o médico especializado em psiquiatria forense e pós-graduando em criminologia Paulo Roberto Repsold, a associação de fatores sociais e individuais pode levar a pessoa a cometer crime passional. Banalização da violência, sensação de impunidade e a sociedade na qual estão inseridas os agentes são apontados como motivadores comuns a todos. Somados a eles, estão características pessoais, entre as quais quatro pontos principais: doença mental; transtorno de personalidade, como baixa tolerância à frustração e falta de controle da impulsividade; dependência de álcool e drogas; e pessoas que enfrentam momentos particulares difíceis.
Não há como determinar o perfil da pessoa propícia a cometer crime por amor, mas duas características prevalecem: a idade e o sexo. Segundo o especialista, homens jovens são os mais presentes nas estatísticas dos assassinatos passionais. “O machismo da nossa sociedade induz o homem a se sentir possuidor da mulher. Por isso, ele se sente no direito de saber o momento de terminar a relação. Enquanto os mais novos, teoricamente, são mais imaturos e têm maior dificuldade para controlar as emoções. Não pensam duas vezes antes de agir. Os hormônios estão em alto nível e não se tem muito o que perder”, diz
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