Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós
O médico foi morto ao tentar reagir ao assalto, noticiou toda imprensa. Mas Salvador Nahmias não puxou nenhuma arma e nem atirou. Também não tentou jogar seu carro contra o assaltante, que, friamente, chegou ao lado do automóvel e o atingiu com tiro de revólver. O cardiologista tentou fugir. Se agiu certo ou não, é outra coisa. O que não se pode continuar é inverter os pólos da ação: ele era vítima, não algoz.
Talvez por carregar no inconsciente a regra, criada pela surreal situação em que nos encontramos, de que todos os cidadãos têm que aceitar passivos serem objeto de um crime, o assaltante decidiu cobrar com a vida a repulsa da sua quase-vítima a ser assaltada, perdendo assim seu patrimônio material, os 22 mil reais que sacara no banco. Acabou perdendo seu bem maior, mas a conseqüência desse desfecho deveria ser a de jogar contra o delinqüente todo o peso do Estado, não o de buscar atenuantes para a barbaridade.
A partir do momento em que atravessa a linha da legalidade, toda e qualquer pessoa – e não apenas os três pês: pobre, puta e preto – devia experimentar o rigor da repressão, o assassino mais do que qualquer outro criminoso. É preciso repor a relação nos seus termos saudáveis, o cidadão como o detentor dos direitos; o bandido, como o usurpador. O Estado tem que estar ao alcance daquele que vai ser violentado para que ele possa manter sua integridade.
O criminoso, a partir da sua captura, especialmente quando em flagrante, deve sentir que o mundo mudou para ele. A partir desse momento ele experimentará a intensidade da reação das pessoas de bem e o rigor da punição estabelecida nos códigos sancionados, que cabe ao poder público executar. O máximo de rigor dentro da lei, com o limite extremo de tolerância nos procedimentos, para que bandidos como o assassino de Salvador Nahmias não exibam seu sorriso sarcástico de escárnio diante da sociedade, na presunção de que logo estarão em liberdade para abusar dela e a violar.
Talvez assim se consiga impedir que o absurdo se mantenha e se expanda, como está acontecendo.
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