domingo, 18 de janeiro de 2009

Jader Barbalho dá as cartas e faz o seu lance para 2010

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós


Há 15 anos Jader Fontenele Barbalho é incluído na lista dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso Nacional, elaborado pelo DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). O ranking começou a ser feito depois que o líder do PMDB perdeu sua primeira eleição (em 1998, para o governo do Estado), foi submetido ao maior vexame da sua carreira política de 42 anos (ser obrigado a renunciar à presidência do Senado e ao próprio mandato de senador para não ser cassado) e à maior provação da sua vida, de 62 anos (ser preso e conduzido algemado pela Polícia Federal, acusado de corrupção). Ao invés do ocaso seguido do epílogo, depois de ter subido de vereador a ministro, passando duas vezes pelo governo do Pará, o atual deputado federal experimentou o renascimento e a nova ascensão, que, aparentemente, está em pleno curso.
Qual a moral dessa história? Que a moral em política é muito outra, ou que em política o que interessa não é a moral, mas a utilidade? O vitorioso refaz sua história? O passado é esquecido quando o derrotado (e quase destruído) da véspera coloca em prática suas virtudes no jogo do poder no dia seguinte?
Depois de ser sucessivamente humilhado e ofendido, com sua imagem ultrajante espalhada por todos os cantos, Jader renasceu das cinzas. É tido sem contestação como um dos políticos que melhor se movimenta no parlamento federal, capaz de articulações só ao alcance de um grupo restrito. Por isso, seus serviços são sempre convocados quando há algum impasse ou é preciso azeitar determinadas iniciativas, em especial as do executivo.
A capacidade de recuperação do político mais importante da VI República no Pará não pode ser subestimada, sobretudo pelos seus inimigos, se eles não quiserem ser surpreendidos. No mesmo ano em que foi preso, em 2002, Jader experimentou outra derrota para o governo do Estado, já então não mais de forma direta, porque seu cacife eleitoral não permitia mais esse vôo mais alto, mas através do candidato que apoiou. Da condição de cabeça de chapa nas disputas pelo governo, Jader, se transformara em pêndulo dessa disputa. Não tinha mais volume de votos suficiente para lhe assegurar a vitória, mas podia proporcioná-la para o lado pelo qual se bandasse.
Em 2002, conforme ele revela em uma longa entrevista publicada na última edição da revista Bacana, o acordo certo para ser feito era com o PSDB, porque o PT se mostrava inconfiável. Jader diz que foi procurado “pelo Jatene, por algumas figuras que tinham amizade em comum. E como eu sabia que quem tinha fígado na cabeça não era o Jatene, era o outro, eu aceitei conversar. Ele disse que não teria a mesma postura raivosa do chefe, e aí nós fizemos a opção de recomendar o Jatene”. Garante que seu filho, Helder Barbalho, prefeito reeleito de Ananindeua, “subiu no palanque dele como deputado estadual mais votado, e inúmeros companheiros em Belém e no interior”.
Simão Jatene se elegeu governador, mas seu correligionário e padrinho, Almir Gabriel, atribuiu-se todos os louros da vitória. Sem dúvida, a máquina oficial, comandada pelo governador em seu segundo mandato seguido, foi fundamental para tirar seu super-secretário da condição de poste para a de favorito. Mas se o peso do PMDB fosse colocado no prato da candidata do PT, Maria do Carmo Martins de Lima (depois prefeita de Santarém), os números seriam alterados e talvez também o resultado. Jader não deixa de lembrar na entrevista que foi o deputado federal mais votado no Pará e, especificamente, em Belém, onde sua posição em eleições anteriores se enfraquecera. “Se fosse em São Paulo, seriam mais de 3 milhões de votos”, calcula.
No íntimo, ele preferia coligar com o PT, mas a traição petista, que contribuiu decisivamente para a derrota da ex-esposa de Jader, Elcione Barbalho, na eleição para o Senado, ficara como um travo amargo. Lembrou uma frase do ser arquiinimigo circunstancial, o baiano (já falecido) Antônio Carlos Magalhães, de que “em política a prioridade é ficar contra o último que te fez a maldade”, que era o PT. A maldade anterior, no entendimento do ex-ministro, era a de Almir Gabriel, que o procurara para um acordo na eleição de 1998, depois de perseguir os peemedebistas. Só não houve a “irrecusável” conciliação política dos dois antigos correligionários, desavindos a partir de 1994, “porque meus liderados estavam muito magoados com a perseguição que haviam sofrido”, diz Jader.
Almir jamais perdoaria essa desfeita, que para ele deve ter tido um sabor de ofensa inaceitável. Em 2006 PSDB e PMDB podiam tentar uma coligação, mas “a influência de quem tem o fígado na cabeça afastou o Jatene e tirou-lhe inclusive a possibilidade de reeleição”, diz Jader, observando que Jatene “foi o único governador do Brasil que tendo chance de ser reeleito não concorreu”. Só que desta vez Almir Gabriel calculou muito mal a correlação de forças e acabou derrotado por Ana Júlia Carepa, encorpada pelos votos peemedebistas.
E em 2010? As possibilidades ainda estão todas em aberto, diz Jader. Ele tem apenas duas convicções fundamentais. Uma: nenhum partido ganhará sozinho a eleição. Duas: a definição só sairá do 2º turno. Para essa definição, a contribuição de Jader Fontenele Barbalho será decisiva, se ele continuar entre os parlamentares mais influentes do país e for o pêndulo da balança dos votos. É o que pretende sugerir nas 25 páginas – mais a capa – que sua entrevista recebeu na inflada edição da revista hebdomadária de Marcelo Marques. Jader, para incredulidade de uns e espanto de outros, continua na parada. O que diz bastante sobre o que é a política no Pará e no Brasil.

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