segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Silêncio mineral

Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós


A governadora Ana Júlia Carepa parece dar todos os créditos ao presidente da Vale, Roger Agnelli. Ele garantiu que a Amazônia será preservada dos cortes já feitos ou a fazer pela empresa, que reduzem o seu tamanho para se ajustar ao desaquecimento da economia internacional. Mas ninguém está seguro de onde acaba a carne e onde começa o osso daquela que é a maior corporação privada do país, sua maior geradora de dólares e a segunda maior mineradora do mundo. A Vale defende a involução da legislação trabalhista para aliviar seu custo com pessoal e poupar novas demissões, que se somarão por milhares, a persistir a redução no consumo de algumas commodities e, sobretudo, da sua principal mercadoria, o minério de ferro, mais até do que a queda dos preços dos produtos.
O presidente Lula, porém, tem dado estocadas na Vale. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, também. Nossa governadora é que parece convencida de que o Pará é um nirvana nesse baixo astral. Ela e a sociedade, que permanece queda e muda. No entanto, os dois principais negócios em curso, o níquel e o cobre, estão minados pelos preços mais baixos do mercado nos últimos tempos. A Vale conseguirá manter seus cronogramas? E ficará nos cortes que efetuou em Carajás? Ela diz que sim. Alguns informantes acreditam que a produção será reduzida em 20%. Quem está com a razão?
Só se saberá perguntando e questionando as respostas. Até o terceiro trimestre do ano passado a Vale respondia a essas reticências com os maiores dividendos pagos em todo mundo. E com operações de compra agressivas. A empresa encerrou setembro com um lucro líquido acumulado de 19,25 bilhões de reais e se dizia preparada para enfrentar a crise. Dispunha de 12 bilhões de dólares em caixa.
Agora, na época das vacas magras, tem que ser obrigada a prestar contas sobre as gorduras que acumulou e reservou (e pelo tanto que passou em frente sem maior ponderação). Se o ímpeto aquisitivo tivesse sido exercido plenamente, como eram os planos do seu principal executivo, é quase certo que a situação da empresa passaria de muito folgada para duvidosa, ou crítica. Sob o peso da anglo-suíça Xstrata, a Vale teria que agüentar um peso maior do que podia suportar. Agora é preciso calibrar o peso e testar as forças. Se não, o país poderá ser surpreendido pelo contracanto do hino glorioso da Vale. O Pará incluído.

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