quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Memória de Santarém - Lúcio Flávio Pinto

1963

Mercado viciado

Uma portaria em vigor em 1964 estabelecia que os quarteiros e marreteiros que operavam no Mercado Municipal só podiam comprar a produção dos colonos ou dos canoeiros depois das 8 horas da manhã. Até esse horário, a compra e venda devia ser feita diretamente aos consumidores para evitar a ação dos atravessadores, que encareciam os preços.
Mas os comerciantes estavam adotando uma tática para burlar a vigilância da fiscalização e dispor de estoque para oferecer, a preço maior, aos que compravam depois das 8 horas, por isso mesmo os "mais abastados": acertavam com colonos e canoeiros, na véspera, para esconderem os seus produtos e só entregá-los depois do horário de venda livre.
Por esse motivo, enquanto no início da manhã faltavam produtos, depois os havia em abundância para os que pudessem pagar mais, prejudicando a "economia popular", em cuja defesa fora baixada a norma de comercialização. O pobre ficava sem comprar sua alimentação.

Hotel Uirapuru

Onde havia um morro de 20 metros de altura, coberto de barro vermelho, à margem da avenida Adriano Pimentel, surgiu, em 1964, o Hotel Uirapuru, num prédio de três andares mandado construir pelo advogado Ubirajara Bentes de Souza. Da janela, os hóspedes podiam ter "uma vista encantadora sobre o poético rio Tapajós" e ao fundo a "pitoresca" ilha de Caquetá, surgida do leito do rio Amazonas, "talvez por abalos sísmicos que se perderam nas noites dos tempos imemoriais", especulava Evangelista Damasceno, registrando o surgimento do maior hotel até então construído na cidade.

Saúde precária

Logo depois de assumir a direção da Casa de Saúde São Sebastião, o médico Aloysio Melo decidiu convidar médicos especializados para passar uma temporada em Santarém, suprindo a falta de assistência médica na cidade. A primeira experiência foi em setembro de 1964, com o otorrino-laringologista Alfredo Paes Barreto e o oculista Paulo Dias, que "praticou diversas intervenções cirúrgicas e consultou centenas de pacientes, prescrevendo medicações adequadas, inclusive óculos, para o que se fazia acompanhar de um optometrista, para facilidade de confecção de lentes".
Louvando a iniciativa, "digna de estímulo", O Jornal de Santarém verificou, contristado, "que esses benefícios ficaram circunscritos exclusivamente às classes de situação financeira privilegiada, visto que os destituídos de recursos pecuniários não estavam em condições de enfrentar os dispêndios, que, como é natural, nessas ocasiões são grandes".
O jornalista testemunhou "o doloroso drama de diversos sofredores, manifestando os seus anseios de consultar o citado oculista, mas 'com que roupa?' Desse modo, enquanto uns sentiam as alegrias naturais por estarem com suas pupilas desanuviadas, outros continuavam com as lágrimas de tristeza".

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