Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós
A Celpa, empresa estatal de energia do Estado do Pará, privatizada em 1998, vai existir apenas como nome de fantasia da sua nova razão social: Rede Celpa Energia. Por deliberação adotada no final de dezembro e oficializada em 12 de fevereiro, a empresa foi absorvida pela sua controladora, a QMRA Participações, que integra o grupo Rede. A empresa paulista, que tinha quase 55% do capital votante da Celpa, ficou com a integralidade das suas ações. A operação já está tomada internamente. Agora depende apenas de ser aprovada pela agência controladora do setor, a Aneel, pela Eletrobrás e por outros credores, o que é considerado pacífico.
O principal objetivo imediato da reestruturação societária é poder descontar do imposto de renda o ágio pago pela QMRA em participações, que somariam quase 150 milhões de reais, além da compensação de prejuízos fiscais. Os analistas acham que esse benefício tributário deverá ser extinto no próximo ano. Prevêem muitos processos semelhantes no Brasil ao longo de 2009 pelos evidentes e significativos ganhos que proporciona às corporações.
Na ata da assembléia que aprovou a deliberação, a empresa diz que o objetivo é “permitir maior eficiência e transparência no exercício do controle da companhia”, já que a Celpa passa a ser controlada integral da QMRA, que já é, por sua vez, integralmente da Rede Engenharia. A incorporação representaria também “mais uma etapa do processo de reorganização societária das empresas do grupo Rede, dentro de um plano geral que visa mais agilidade na implementação de decisões estratégicas, de forma a viabilizar a expansão das atividades e o desenvolvimento dos negócios sociais”. A medida eliminará transações entre a Celpa e a QMRA, “evitando conflitos de interesses, preservando os interesses dos acionistas minoritários e facilitando a análise das demonstrações financeiras”.
Para os paraenses, a iniciativa significa um deslocamento de vez do poder decisório da antiga estatal para fora do Estado, em São Paulo, e a consolidação de um modo de gestão que modificou por completo a fisionomia da Celpa. Cada vez mais ela será uma intermediária de decisões metropolitanas, com vinculações cada vez mais frágeis com a sociedade local.
O governo Almir Gabriel alienou quase 90% do controle acionário da Celpa por 450 milhões de reais, em 1988. A QMRA apresentou o lance vencedor. O valor econômico da empresa é atualmente de R$ 2 bilhões e o seu fluxo de caixa, de R$ 3,2 bilhões. O que encolheu desde então foi o número de empregados, a política interna, a qualidade do serviço e a identidade com a terra, que, agora, talvez se evapore de vez. Os empresários já sentiram os efeitos da mudança e berraram contra. A sociedade, até agora, tem sofrido em silêncio.
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