Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós
Houve forte reação corporativa e institucional a declarações feitas recentemente pelo médico Sérgio Simon, de São Paulo, sobre o tratamento dispensado aos doentes de câncer no Pará. As críticas foram logo interpretadas como tentativa de promover um hospital privado, que passará a atuar nessa área, pondo fim ao quase monopólio do “Ofir Loyola”, sobretudo quanto à população carente. Os médicos da instituição estadual se sentiram ofendidos com as palavras do médico paulista, que é referência nacional em matéria de oncologia, mas talvez tenham lido de forma distorcida o que ele disse.
Quem já freqüentou as filas de atendimento para quimioterapia e, principalmente, radioterapia no “Ofir Loyola” dificilmente deixará de expressar o impacto que a situação causa. As sessões de radioterapia são marcadas e remarcadas seguidamente porque o único aparelho, desgastado pelos longos anos de uso intenso, vive apresentando problemas. A demanda é enorme, não só de pacientes do Pará como de outros Estados. Os servidores do hospital se desdobram no seu ofício, mas o que fazer quando simplesmente não há onde realizar os serviços?
No próprio “Ofir Loyola” há um aparelho de radioterapia encaixotado, à espera de uma definição institucional sobre sua utilização. Enquanto permanece inconcluso o debate sobre o valor e a forma de aquisição do equipamento, uma atitude concreta para socorrer o atendimento é postergada, para desespero dos que se encontram na enorme fila de atendimento. A pressão poderia ser menor se o serviço de radioterapia do Hospital Regional do Oeste do Pará, em Santarém, já estivesse funcionando, como podia estar.
O retardamento é criminoso. Quem já acompanhou a via crucis dos pacientes não pode ter tolerância com a omissão ou a hesitação das autoridades. O que dizer da atitude dessas autoridades em relação ao Centro de Oncologia Pediátrica do Hospital Ofir Loyola? A obra, com quase 10 mil metros quadrados, no valor de 29,5 milhões de reais, foi iniciada em 23 de março do ano passado e devia estar concluída em dezembro, em ritmo de urgência urgentíssima compatível com o estado da situação.
O que o centro destinado às crianças exibe são colunas inacabadas e nada mais. A única placa que havia já foi duplicada, mas o prédio continua a ser um exemplo vivo da prioridade que o governo dá à saúde da população. Muita farofa de propaganda e pouca carne de realizações, que é o que dá “sustância” à vida, como diz o caboclo, que cede seu nome para a promoção e fica com o troco da operação.
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