Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós
Espero que alguém se lembre, um dia, de pesquisar o que foi o Conselho Deliberativo da Sudam nos anos do regime militar. Havia uma parte oficial, na qual se manifestava a voz do dono: o Planalto dava ordens para serem seguidas na Planície. O desenvolvimento não era propriamente da – mas para a – Amazônia. Os acordos principais baixavam prontos e acabados, cabendo aos conselheiros representantes do governo federal formalizá-los. O Condel tinha um caráter marcadamente referendador. Mas de vez em quando pipocavam divergências e até conflitos, quando eles não podiam ser resolvidos no encontro informal (mas decisivo) que precedia a reunião formal, ao qual poucos tinham acesso.
O regime era fechado, mas não monolítico. Numa nesga de espaço surgiam algumas personalidades. Com algum jeito elas manifestavam sua discordância do conjunto e por vezes, nos encontros “em off” com jornalistas, aprofundavam as críticas e davam informações preciosas. Arriscavam um tanto o próprio pescoço para cumprir seu dever de servidores públicos. Felizmente, mesmo no auge dos anos de chumbo, sempre houve esses cidadãos na burocracia brasileira.
Em deles era Osiris Lopes Filho, representante do Ministério da Fazenda entre 1976 e 1979 (sob o despotismo esclarecido de Mário Henrique Simonsen) e, depois, já na democracia, sob Itamar Franco, secretário da Receita Federal, quando se tornou um nome nacional. Por ser um técnico sério e competente, se recusou a endossar os abusos no serviço público e saiu. O advogado tributarista capixaba Osíris morreu no mês passado, em Brasília, de um acidente vascular cerebral, aos 69 anos. Todos os necrológios destacaram os relevantes serviços que prestou no combate à excessiva carga tributária brasileira e na defesa da exação na aplicação dos recursos públicos.
Ninguém lembrou sua ativa participação no Condel da Sudam e a contribuição que deu ao jornalismo crítico, nos encontros confidenciais que mantinha com o profissional que o procurasse para saber mais e justificasse sua confiança. Daí a relevância de um estudo que desencave as atas das reuniões do Condel e prossiga pela marginalia dos registros oficiais para recuperar esse momento relevante da história da Amazônia. A referência a Osíries Lopes Filho será justa. E indispensável.
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