terça-feira, 3 de março de 2009

PT e PMDB: união é questão de tempo

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós


De fato, o casamento entre o PT e o PMDB no Pará, celebrado em 2006, não existe mais. Sobrevive uma relação jurídica, baseada no compromisso de campanha eleitoral. Cientes dessa situação, as partes se preparam para o momento da separação, que deverá ser litigiosa. Só não sabem quando o rompimento ocorrerá. Poderá ser motivado por uma circunstância qualquer (a metafórica gota d’água), ou induzido, se o jogo de acomodação se exaurir, como ameaça acontecer a qualquer momento.
Quem freqüenta os bastidores do poder verifica a deterioração da aliança pelas mensagens que circulam de um lado para outro. Os petistas mandam recados aos peemedebistas pedindo de volta os oito cargos (incluindo duas secretarias, de saúde e de obras públicas) que eles ocupam na administração estadual. O deputado federal Jader Barbalho, presidente do partido no Estado, responde que os cargos estão à disposição, mas o PT terá que destituir seus aliados. Enquanto ocuparem suas posições, eles continuarão a trabalhar para se fortalecer visando 2010 e tirar aqueles tipos de proveitos denunciados há pouco pelo senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco.
O que ainda poderia juntar os cacos da coligação vitoriosa na última eleição geral? Uma nova combinação de interesses para 2010. Em tese, essa possibilidade existe: a governadora Ana Júlia disputaria a reeleição, tendo um vice do PMDB, de livre indicação de Jader Barbalho, que seria o candidato a uma das vagas ao senado, deixando a outra para um petista (que seria o deputado federal José Geraldo, ao critério da governadora, ou Paulo Rocha, na perspectiva de Jader).
Simples? Nem tanto. Se, no primeiro mandato, já foi complicado para petistas e peemedebistas acomodar seus interesses, quase sempre excludentes ou mesmo antagônicos, no segundo mandato estará em questão um projeto de poder de longo prazo (oito anos ou mais). Nova temporada com petista controlando as rédeas do poder esvaziará a liderança de Jader e ameaçará a continuidade da oligarquia familiar, mesmo que a renovação da aliança para 2010 inclua a rotatividade em 2014. Quem acredita em compromisso de petista, ainda mais com as perspectivas que se abrem para o partido num caso de nova vitória na eleição do próximo ano?
A tranqüilidade da reação de Jader Barbalho às ameaças de despejo do seu partido no governo tem, talvez, duplo significado. Ele não vê com maus olhos sair da atual administração, que já lhe rendeu bastante, se a aliança com o PSDB de Simão Jatene prosperar: seria uma boa bandeira a usar, de que foi traído pelos seus aliados e por isso reativou a parceria que mantinha com o ex-governador tucano até o rompimento de Almir Gabriel, em 1996. Outra razão para essa despreocupação de Jader seria sua convicção de que Ana Júlia é candidata pesada à reeleição, bem mais difícil do que na disputa de 2006.
A entourage da governadora acha o contrário: aposta que a partir do segundo semestre ela disporá de recursos suficientes para espalhar obras pelos 143 municípios paraenses, com dinheiro do tesouro estadual e do caixa federal. Será uma ofensiva sob controle ainda mais estrito do que a já concentrada gestão que tem caracterizado o governo do PT até agora. O autêntico politburô de Ana Júlia foi constituído à revelia dos organogramas e diagramas oficiais com o objetivo de colocar pessoas de absoluta confiança e estreito controle dela no centro das decisões. E, mais do que das decisões, do fluxo de dinheiro que irrigará as ações públicas – e, claro, derramará também benefícios pelo entorno das obras, inclusive para o caixa da campanha.
É assim que se explica a ação desinibida de secretarias e instâncias oficiais (ou oficiosas), que se espraiam muito além dos limites de sua competência formal para exercer o domínio sobre programas e projetos que serão os vértices da ofensiva governamental. É o caso do ex-cunhado, Maurílio Monteiro, na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento, do ex-marido, Marcílio Monteiro, na Secretaria de Projetos Estratégicos, e da ex-concunhada (e ex-tesoureira de campanha eleitoral), Joana Pessoa, no Hangar, que funciona para os petistas como a Secretaria de Cultura de Paulo Chaves Fernandes para os 12 anos dos tucanos no poder estadual. Incluindo, é claro, Cláudio Puty na Casa Civil; Raimundo Trindade, na Fazenda, e Fábio Castro e Francisco Cavalcante, na comunicação e na propaganda oficial.
O dinheiro federal do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e da ação anti-crise de Ana Júlia tonificará e iluminará a maestria e os músculos dessa nomenklatura petista, mal adestrados – nas academias – nos exercícios do populismo, do compadrio e do fisiologismo, que fazem a ligação com o eleitor num Estado tão extenso, pobre e complexo como o Pará? Donos da bola, eles saberão jogá-la na hora em que só gritos e desejos não serão suficientes para produzir resultados? A placidez e bonomia de Jader Barbalho diante dos mensageiros do governo parecem indicar seu ceticismo quanto a essa possibilidade.
A história tem surpresas. E Jader nem sempre foi vencedor nas suas previsões e antecipações. Esse é o elemento de mistério e incógnita no pedregoso caminho até 2010. Com ou sem novidade, porém, pode-se ter certeza de uma coisa: qualquer resultado não será bom para o Pará. Muito menos ainda para o seu futuro.

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