sexta-feira, 10 de abril de 2009

Mal conservada, rodovia Cuiabá-Santarém é desafio para motoristas

Há trinta e oito anos o exército começava a abrir uma das mais longas estradas brasileiras. A rodovia BR-163, que liga Cuiabá, em Mato Grosso, a Santarém, no Pará, atravessou uma parte do Brasil onde ainda viviam tribos que nunca haviam contatado o mundo externo.

Abrindo dois quilômetros de mata por dia, os militares montavam acampamentos sobre chassis de caminhão. “Integrar para não entregar a Amazônia. A preocupação era realmente a integração”, conta o coronel Severo. Naquela época, o governo militar temia a guerrilha que se opunha à ditadura no país, e também tentava se proteger da suposta cobiça internacional provocada pelas vastas florestas intactas.

No meio do caminho e dos planos do governo estavam as terras dos índios Panarás. Eram quinhentas pessoas que desconheciam os brancos. Apesar de não ter havido conflito, graças ao apoio dos famosos indigenistas Villas-Boas, dois anos depois o povo havia se reduzido a 82 indivíduos. “Começou a febre, deu um grande sarampo naquela época, acabou todo mundo”, lembra o índio Akan, um dos sobreviventes.

Hoje, a tribo voltou a crescer e são 420 índios, a maioria crianças. O comandante do batalhão que abriu a estrada lamenta o sofrimento dos Panará, mas defende a construção da rodovia de terra, inaugurada em 1976. “A gente sente orgulho, alegria de ter participado de uma obra tão importante. Era uma estrada larga, estrada de primeira classe, uma viagem tranquila”, relembra o coronel Mathias.

Buracos - A falta de segurança é um dos piores problemas da estrada. Quando se cruza a divisa entre Mato Grosso e Pará, ainda há 900 km terra até Santarém. E o pior: o primeiro hospital está a 750 km, em Itaituba.

Os ônibus têm que elevar a suspensão para enfrentar os buracos. Genivaldo Ribeiro, um motorista que trabalha há dez anos no trecho diz que, se chover, não dá para seguir. “É dormir na estrada, sem condições de nada, com sede, com fome, junto com os passageiros”, relata.

Um dos trechos mais perigosos é o conhecido como Cintura Fina. O terreno arenoso faz da rodovia uma espuma derrapante. Basta um erro para que os ônibus e caminhões vão parar nas imensas valas que margeiam a estrada.

O asfalto só aparece a cem quilômetros do porto de Santarém, um importante acesso para o transporte de produtos à Europa e aos Estados Unidos. A promessa do governo é recuperar a BR-163 até 2011. A obra tornaria mais barata a exportação de grãos de Mato Grosso e daria dignidade às famílias que vivem no Pará. O grande desafio do empreendimento, contudo, será asfaltar a rodovia preservando o que ainda resta da Amazônia.

(Fonte: Globo Amazônia)

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