Em mercados da Região Norte existe o comércio de olhos de boto cor-de-rosa como amuletos. Um teste de DNA realizado pela Universidade Federal da Amazônia (Ufam) aponta que quem compra esse tipo de produto, além de estar cometendo crime ambiental, pode estar sendo enganado.
O exame indicou que esses órgãos, vendidos em mercados de Belém, Manaus e Porto Velho, são retirados principalmente do boto-cinza marinho, mas também podem ser de porcos ou ovelhas.
A pesquisa foi realizada pela bióloga Waleska Gravena, do Laboratório de Evolução e Genética Animal da Ufam. Com autorização do Ibama, ela coletou 43 amostras de olhos vendidos em capitais amazônicas. Depois de analisar geneticamente o tecido desses órgãos, ela descobriu que nenhum deles era de boto cor-de-rosa ou boto vermelho, como é chamado na região.
A maior parte dos olhos analisados era de boto-cinza, também conhecido como tucuxi, da espécie Sotalia guianensis, que só consegue viver no mar. Entre as amostras também foram encontrados quatro olhos de porco e um de ovelha.
Segundo a pesquisadora, a ideia de realizar o teste de DNA surgiu depois que amigos dela lhe presentearam com olhos secos, supostamente de boto cor-de-rosa. Como o animal está ameaçado de extinção, ela queria saber se a caça do mamífero era frequente na Amazônia. “Como eles vinham secos, fiquei em dúvida se eram mesmo olhos de boto [cor-de-rosa]”.
Olhos secos analisados pela pesquisadora da Ufam. (Foto: Waleska Gravena/Arquivo Pessoal)
Caça proibida
Ainda que o amuleto não seja do animal esperado, especialistas do Ibama alertam que a captura de qualquer mamífero aquático, incluindo o tucuxi, é proibida, assim como a compra de qualquer parte desses animais. Quem comete o crime pode pegar de um a seis meses de prisão, que pode ser multiplicada por três caso a caça seja comercial.
Segundo a bióloga Carla Marques, do Centro de Mamíferos Aquáticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em Belém, muitos botos-cinza são mortos para serem usados como isca para a pesca de tubarão. “Também ocorre a captura acidental, sem intenção. Se o animal se engancha numa rede de pesca, não consegue subir para respirar, e pode morrer”, conta Marques.
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