domingo, 26 de abril de 2009

São Raimundo x Remo: drama e tabu na decisão

No Amazônia:

Não há mais escolha. Para o Remo, é vencer ou vencer, se não quiser enfrentar uma das piores tragédias dos seus 104 anos de história.
A oito meses do final do ano, o término da temporada parece inevitável, mas, diante do São Raimundo, hoje, às 16h, no estádio Colosso do Tapajós, os jogadores precisarão provar aos descrentes que, enquanto houver esperança, há chance de conquistar o segundo turno do Campeonato Paraense e as vagas na decisão da competição, na Copa do Brasil de 2010 e, o que é mais importante, na Série D do Brasileiro.
A decisão de hoje esteve ameaçada de não acontecer em Santarém até na sexta-feira à noite. No dia anterior, o São Raimundo foi punido com a perda de um mando de campo, mas o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) tentou passar por cima do regulamento da competição, baseado em boa parte do Estatuto do Torcedor, uma lei federal, para impor, pelo 'tapetão', a saída do local da partida da Pérola do Tapajós.
A lei versa que um jogo oficial, quando não classificatório, não pode ter data e local mudado senão com cinco dias de antecipação, o que não aconteceria nesse caso. Mesmo assim o tribunal afirmou que a decisão teria que ser cumprida de imediato, já para esse jogo.
A Federação bateu o pé e, por vias tortas, manteve certa justiça na disputa, já que a Pantera tem campanha melhor que o Leão e conquistou em campo o direito de decidir o returno em casa. Afinal, dela é a responsabilidade do regulamento escasso em objetividade.
A matemática é cruel para o Remo. Por ter somado menos pontos que o adversário ao longo do returno, o time azulino não pode pensar nem em empatar. Esse resultado, em outras circunstâncias, seria considerado benéfico - pelo fato de jogar fora de casa -, mas, como o São Raimundo tem a vantagem de jogar por dois empates ou pela igualdade na soma dos resultados, Leão precisar vencer de qualquer jeito a partida deste domingo.
Se a tarefa por si só parece árdua, o Mais Querido ainda precisará enfrentar obstáculos internos. O primeiro deles é manter os nervos no lugar e evitar atos de indisciplina no decorrer do jogo. Outro desafio será corrigir os principais defeitos da equipe ao longo da competição, como o excesso de passes errados, os erros de finalização e a falta de apoio pelas laterais.
Além da matemática e da estatística jogarem contra, outros fatores aumentam a dramaticidade da situação azulina. Não bastasse a vantagem do time santareno, que só precisa de um empate para garantir a Taça Estado do Pará, o Remo terá que quebrar um incômodo tabu - não vence a Pantera mocoronga há cinco jogos, um na temporada passada e mais quatro na atual.
'Para quem acha que jogamos a toalha, sabemos que a situação é complicada, mas só nós podemos tirar o Remo dessa situação', disse o goleiro Adriano.
Para esse confronto decisivo contra o time mocorongo, o técnico Artur Oliveira terá dois importantes reforços. O meia Jaime e o atacante Marcelo Maciel, antes suspensos, voltam ao time nos lugares de Gegê e Bebeto, respectivamente.
Além deles, outras duas mudanças foram confirmadas pelo treinador. Na lateral-direita, Neto entra no lugar que antes foi de Levy e que no primeiro jogo da final foi ocupado pelo volante San. Ao mesmo tempo, Toninho volta ao time depois de ter sido preterido pelo garoto Heliton na partida do domingo passado.

O maestro está no banco de reservas


Wálter Lima é a pedra no sapato de Artur Oliveira. E não é só porque o Remo esbarrou no São Raimundo quatro vezes no Parazão. O técnico da Pantera Negra incomoda porque já conseguiu o que o comandante do Leão tenta desde que assumiu a equipe: montar um time coerente.
Esse é o recurso de Válter Lima para chegar à final do Estadual. O treinador segue o estilo perfeccionista. Não daqueles que chegam ao clube e exigem isso e aquilo para fazer o trabalho. Válter reconhece o terreno e faz o que pode. Às vezes dá certo, às vezes não. Na decisão do segundo turno, é arriscado sair vitorioso.
O São Raimundo é, sem dúvida, o time mais bem arrumado do Parazão. Chega a ser estranho ver uma equipe pequena com um toque de bola tão refinado. Por isso terminou o primeiro turno em segundo lugar na tabela. No returno, é, por enquanto, o melhor time.
E isso tem o dedo de Válter Lima, um técnico cuidadoso ao extremo, completamente avesso às polêmicas e tão calmo que parece estar sempre mal humorado. Mesmo assim, graças ao Remo, o treinador tornou-se pivô de um embate político. Quando o time azulino ficou sem técnico, uns dirigentes o queriam, outros recusaram. E começou a disputa.
Contratar o treinador da Pantera teria duas utilidades. A primeira, desestruturar o São Raimundo. A segunda, contratar um técnico desvalorizado no mercado, mas competente para tirar o Leão do sufoco. Ou seja, pelo menos para os azulinos, a qualidade de Válter Lima é comprovada.
A partida contra o Remo é praticamente a prova dos nove. Se vencer, o técnico classifica o São Raimundo para a Série D e confirma o que alguns colaboradores azulinos pensavam. Se desperdiçar a chance de eliminar o Leão, revelará suas fraquezas e as da equipe pela primeira na temporada.

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