Lila Bemerguy*
Diz a música do Paulinho da Viola: “foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar”. Nesses tempos de enchente e rio cheio, achei por bem re-inaugurar esse espaço com algumas considerações sobre os povos do rio, pessoas de água, como eu.
Nasci aqui e passei anos longe desse rio, o Tapajós, que, modéstia à parte, deve ser um dos mais belos desse mundo. Somente os que nascem e vivem à beira de rios, sabem o que significa sair do seu lugar, e ir para outro, onde o rio se esconde por trás dos prédios, onde as águas sujas não nos dão mais peixes, e sim lixo. Acostuma-se com tudo, e aos poucos, vamos substituindo a paisagem da infância por outras, o que não deixa de ser enriquecedor também. Mas o rio azul, aquele, fica lá, guardado, como o amor adormecido.
A vida nas cidades à beira de rio tem aspectos únicos. Os barcos que vão e vêm carregando coisas e pessoas, o olhar para o infinito, que dá a sensação de que o mundo é bem maior, que a vida vai se embora no horizonte, que não estamos presos num pedaço de terra, que podemos, sim, sair, ir, ver o mundo que está lá, depois dessa água, e voltar. Ficar sentado na “beira”, esperando a fisgada do peixe que pode nunca acontecer, mas pelo menos treinamos nossa paciência e otimismo! O banho de praia, a piracaia, o passeio de canoa. Apaixonantes prazeres.
Como entender o ribeirinho que sofre todos os anos com a cheia, que constrói marombas, corre riscos, mas não sai de lá. Não abandona o rio, esse que lhe dá o peixe, a vida. Quem tem um rio só seu entende isso. Sou solidária a todos que passam necessidades urgentes com a enchente, e que merecem mais atenção e carinho de todos que tem o poder de ajudá-los.
Termino com os versos do meu pai, Emir Bemerguy: “...Tapajós, o sonho predileto, e o Amazonas, o querido bem...” Até!
*Lila Bemerguy voltou a escrever em seu www.blogdalilarosa.blogspot.com
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