segunda-feira, 22 de junho de 2009
Aids bem longe da cura
Do Correio Brasiliense:
A francesa Françoise Barré-Sinoussi, diretora da Unidade de Regulação de Infecções Retrovirais do Instituto Pasteur (em Paris), e o norte-americano Robert Gallo — fundador do Instituto de Virologia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland — entraram para a história da medicina em 1983. Com o também francês Luc Montagnier, eles descobriram e isolaram o HIV, vírus causador da Aids. Françoise e Montagnier cultivaram células de linfonodos de pacientes que apresentaram nódulos característicos do estágio primário da Aids. Depois, detectaram a atividade da enzima retroviral transcriptase reversa, uma assinatura da replicação do vírus. No ano passado, os dois dividiram com o alemão Harald zur Hausen o Prêmio Nobel de Medicina, a mais alta honraria que um cientista pode receber. Em 4 de maio de 1984, Gallo publicou uma série de quatro artigos na revista científica Science, nos quais demonstrava que o retrovírus HTLV-III era a causa da Aids. Também criou o primeiro teste de detecção da doença, por meio do sangue. Mais tarde, o microorganismo seria renomeado HIV.
A medicina, com todo o aparato tecnocientífico, está distante de alcançar a cura da Aids?
FRANÇOISE BARRÉ-SINOUSSI: Nós ainda estamos muito distantes da elaboração de uma cura para erradicar o vírus dentro do corpo humano. E a razão é simples. Muito rapidamente após a infecção, o vírus HIV estabelece reservatórios em diferentes tecidos, especialmente nos órgãos linfoides. Esses reservatórios são em sua maior parte compostos de células nas quais o vírus se integra em estado latente. Por isso, os reservatórios são persistentes, mesmo em pacientes sob tratamento de antirretrovirais. Tão logo o tratamento é interrompido, algumas células são ativadas e o vírus começa a se multiplicar de novo. Toda tentativa que a pesquisa científica faz para eliminar ou controlar reservatórios falhou até agora. Na busca de definir futuras estratégias, nós devemos entender mais precisamente os mecanismos que levam ao estabelecimento e à persistência dos reservatórios de HIV.
E quais as principais barreiras para se obter uma droga capaz de matar o HIV?
FRANÇOISE BARRÉ-SINOUSSI: Se você está falando sobre a prevenção da transmissão, os microbicidas são capazes de matar o vírus. Eles têm sido amplamente testados como meios de prevenção, mas infelizmente forneceram apenas resultados desanimadores. Isso porque eles matam o vírus e as células saudáveis, o que resulta em lesões que mais tarde favorecerão a infecção. Para a pesquisa de hoje, as dificuldades são principalmente uma questão de ciência e técnica. Nós precisamos ser mais inovadores e criativos, para que novos conceitos e novas técnicas surjam. Em relação ao acesso a tratamento e prevenção, é claro que um verdadeiro comprometimento político é essencial. Programas nacionais de informação, educação e melhora do sistema de atenção à saúde são necessários para se disseminar os resultados da pesquisa.
Por que é tão difícil deter a proliferação da doença pelo mundo? Quais são os obstáculos para uma imunização efetiva?
FRANÇOISE BARRÉ-SINOUSSI: Uma vacina profilática seria o único meio eficiente de deter a epidemia de Aids. Muitos desafios ainda têm de ser transpostos, antes de desenvolvermos uma vacina eficaz: a variabilidade genética do HIV e sua capacidade de fugir ao mecanismo de defesa do sistema imunológico, o estabelecimento primário de reservatórios virais, a transmissão célula a célula, os mecanismos de proteção ainda indefinidos, a infecção e a alteração de elementos-chave do sistema imunológico, a bastante rápida indução de disfunções da resposta imune adaptativas e inatas, além de limitações nas pesquisas com cobaias animais.
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