sexta-feira, 10 de julho de 2009

Regressão de regime teria sido motivo da rebelião em Cucurunã

Miguel Oliveira
Repórter

A diretora da penitenciária Sylvio Hall de Moura resolveu quebrar o silêncio e falou com exclusividade ao Blog do Estado na última-quinta feira, após a comissão interna do presídio concluir o primeiro levantamento dos 53 nomes dos detentos que participaram da rebelião de eclodiu no domingo à tarde e que fez quatro funcionários reféns.
Eceila Menezes está no epicentro de uma crise que envolve detentos, funcionários, dirigentes do Sistema Penal do Estado e membros do Ministério Público. Desde que assumiu o cargo há dez meses, Eceila não tem sossego para trabalhar. Seu nome e seu trabalho vem sendo criticados por setores da mídia santarena, que dão vazão à denúncias feitas por funcionários do presídio e familiares de presos.
Eceila reconhece, de saída, que algumas reivindicações dos detentos são procedentes, embora negue a ocorrência da maioria das denúncias. "Não posso deixar de reconhecer que os internos reclamam com razão da falta de colchões e de produtos de higiene pessoal". A diretora justifica que o sistema de compras da Susipe, em Belém, apresenta falhas. " Muda fornecedor todos os meses, não há material em estoque, por isso há atraso na entrega desses produtos".
Segundo Eceila, a resistência de alguns detentos à permanencia dela no cargo de diretora do presídio de Cucurunã foi motivada pela regressão de regime de 13 apenados. " Nenhum diretor antes de mim comunicava ao juiz das execuções penais as ocorrências graves no interior do presídio, preferindo aplicar apenas o regulamento disciplinar. Como eu agi dentro da lei, treze detentos tiveram seus benefícios cancelados e por isso nutrem essa antipatia por mim", explicou a diretora.
E foram esses apenados que tiveram decretadas regressão de penas por mau comportamento que lideraram a rebelião do último domingo, segundo Eceila. " Alguns desses presos me falaram que eu agi errado, que teriam de começar a cumprir a pena do zero, que não mereciam passar mais tempo na prisão. Você deve imaginar como o clima ficou pesado depois disso", relatou a diretora.
A eclosão da rebelião não surpreendeu a diretora. "No dia 31 de maio, dois presos perigosos[Wagner Castro e Carlos Macedo] retiveram vinte e sete visitas na ala B do pavilhão 1, e por medida de precaução foram punidos com isolamento celular. Fizeram greve de fome. O juiz me aconselhou a pedir a transferência desses dois detentos, mas a Susipe não dispunha de verbas para que esses detentos fossem transferidos. Mas eu avisei meus superiores que o clima interno era ruim e que poderia haver um motim, como de fato ocorreu".
Questionada se o tratamento rigoroso que dispensa aos presos infratores não teria sido motivo da rebelião, Eceila rebate. " A rebeião começou no pavilhão onde estão os detentos do regime semi-aberto, mas rapidamente os presos do isolamento tomaram à frente do movimento, uma vez que foram logo resgatados pelos detentos do semi-aberto para liderarem a rebelião", explicou.
Quanto às notícias a respeito de sua posível saída da direção da penitenciária de Cucurunã, como exigem alguns presos, Eceila diz que a direção da Susipe está apurando as denúncias que, segundo ela, ou são infundadas ou não dizem respeito a sua atuação como diretora. " No momento de crise, me afastei da negociação com os presos, tarefa que ficou a cargo dos meus superiores de Belém, mas agora, estou de volta ao trabalho, preparada para responder as indagações do Ministério Público e da Vara de Execuções Penais, concluiu.

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