sábado, 29 de agosto de 2009

Português

Lúcio Flávio Pinto:

Na mesma edição[ da extinta Folha do Norte], o redator das “Vozes da Rua”, que muitas vezes não era outro senão o jornalista Paulo Maranhão, a escrever sem assinar a coluna, usou sua pena afiada para acertar contas com um ingrato imigrante lusitano. Sapecou:
“Na chusma dos nossos irmãos que vieram da santa terrinha descamisados e apenas com letras rudimentares, um houve, entre centena doutros, que teve a boa sorte de enriquecer com o seu trabalho. Um brasileiro deu-lhe a mão e subiram ambos a sacada da fortuna.
Encontramo-lo um dia destes. Está pletórico de recalques contra o Pará, que encheu de benefícios (a declaração é textual) e reconhece agora, depois que se acha empapado de dinheiro, consideração e prosápia, uma terra ingrata. E que dirá o Pará, do portuguesinho de ontem e do portuguesão de hoje?
– Não se encontra nem o que comer nesta terra miserável! Vou mudar-me para a minha, onde todo o mundo, graças ao Salazar, anda de estomago repleto de boa carne, saboroso peixe, ótimos legumes e apetitosas frutas!
– E o seu negócio? perguntamos-lhe.
– Fica o rapaz! (O rapaz é seu filho).
– Dará conta do recado?
– É capaz de não dar. Você me desculpe a franqueza, mas brasileiro não é homem de negócio. Olhe em redor e veja. Na mão de quem está o comércio entre nós? Nas mãos de portugueses, sírios e alguns judeus. Não há uma dúzia de brasileiros prosperizados.
É pena que o nosso [cemitério] Santa Isabel não possa dar hospedagem aos restos mortais desse cidadão lusitano, o primeiro a quem já ouvimos dizer mal do povo fraterno que o acolheu generosamente”.

Nenhum comentário: